segunda-feira, 9 de junho de 2008

Para a Ana Gomes do 5º C e para o Ivo, do 6º A

Ana, eu tenho saudades, como toda a gente. Eu gosto muito dos meus Filhos e Netos. Às vezes, nós, os grandes, gostamos tanto, tanto, tanto, e não sabemos dizer. Temos que fazer qualquer coisa para mostrar que amamos. Dizemos "Amor" a fazer, em vez de ser a falar. Por exemplo, eu sei que o meu filho mais velho gosta muito de caril. Quando sei que ele está para ir lá a casa, faço caril. E havias de ver como fico feliz por ouvi-lo a subir as escadas e a dizer: "Ah, caril, que bom, que cheirinho!" E outras coisas assim. Mas as saudades são doces, sabes? É bom ter saudades, porque só temos saudades de coisas boas. Então, eu gosto de ter saudades deles, de falar com eles, de mandar e-mails, coisas assim. E depois quando chegamos "matamos" as saudades todas. Depois levo saudades dos meninos, dos senhores e das senhoras de Angola e Moçambique. Tenho uma família muito grandeeeeeeee! E de muitas cores! É tão bom! Um dia vais sentir isso, verás.

Desculpem não pôr fotos, mas estou com um problema qualquer ou não sei mesmo. Há muita coisa que nós não sabemos, mesmo assim os grandes...

Ivo, as crianças são sempre crianças, sempre: gostam de jogar a bola, fazem uns piões como eu nunca vi em mais lado nenhum, jogam às escondidas, fazem bonecos de restos de pano, fazem carrinhos com caricas das garrafas.
Fica a saber que agora já se vêem muitas crianças com brinquedos como os teus, mas ainda há muitas crianças que não são crianças: não brincam, não andam na escola, fazem tudo para ter de comer. Não têm pais ou não sabem deles, dormem na rua, eu tenho muita pena delas. Mas há muita gente a fazer um esforço para que as crianças tenham cada vez o seu tempo de brincar. Em vez de acarretar água à cabeça, de andar a vender qualquer coisa, de andar até a roubar para comer. Um dia vi um menino a tremer. E estava muito calor. Não percebi e julguei que ele estava com malária, porque dá uns arrepios terríveis, eu já tive, várias vezes. Mas sabes o que era, Ivo? Era fome. E demos-lhe um pão de bico grande, quase um cacete. Nunca me vou esquecer de o ver a comer, devagarinho, devagarinho, apesar da fome, para não vomitar. E sabes uma coisa? Tenho a certeza de que, se lhe apontassem uma arma, ele não daria aquele pão! São estas coisas que me fazem ficar com vontade de vir, e de ajudar sempre que puder. Um dia vou ficar muito velhinha e depois, olha, espero que alguém também me ajude a mim. Beijinhos para vocês, sim? da Avó Pirueta, claro...

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