terça-feira, 6 de maio de 2008

Acabou-se, disse a Raposa ao Lobo

Pronto, aqui vão as últimas. Aceito, de bom grado, todas as críticas construtivas e com paciência cristã as outras...
21. Nunca deixe o quadro por limpar. É um mau exemplo e uma falta de consideração pelo Colega e alunos que vêm a seguir.
22. Não comente as aulas, atitudes ou estratégias dos seus Colegas. No entanto, se lhe parecer que algo de grave se está a passar, não ignore. Fale, discretamente, com o Director de Turma para ver o que se passa.
23.Tenha cuidado em não manifestar preferência ou má vontade contra quaisquer alunos, individualmente, ou na globalidade da turma. Além de ser um procedimento deselegante, é altamente desmotivador.
24. Se tiver alunos que, de forma clara, se distinguem pelas suas capacidades, não deixe de os ver só porque eles sabem. Desafie-os: dê-lhes trabalhos ou problemas mais exigentes, peça a sua colaboração para explicar alguns assuntos, mas tenha o maior cuidado em não lhes alimentar o ego. Aliás, só deve recorrer a estas estratégias se o aluno estiver de acordo. Quando não se actua, a maior parte das vezes, estes alunos consideram-se "invisíveis" para o Professor, sentem-se abandonados e desmotivados, e chegam a detestar a Escola.
25. Promova trabalhos de grupo, porque o Aluno vai precisar de saber trabalhar com outros na vida profissional, no mundo do trabalho. Mas esteja atento e não deixe que alguns se aproveitem do trabalho que não realizaram.
26. Embora, como se disse, as mudanças sejam contínuas e rápidas, saber trabalhar para realizar um projecto é uma ferramenta indispensável para o futuro. Se não conhece as técnicas, esteja atento, porque há obras que tratam do assunto e há acções de formação apropriados.
27.Participe nas actividades não lectivas, tais como visitas de estudo, semanas temáticas, festas da Escola, seminários ou palestras. A sua presença será especialmente importante nas actividades organizadas pelos alunos.
28. Quando for solicitado a dar opinião ou a participar em iniciativas dos Alunos, procure corresponder, mas não faça o trabalho por eles. Ajude-os a assumir as suas responsabilidades.
29. Se os alunos demonstrarem, da forma adequada, que desejam discutir determinado assunto na sua aula, não diga logo que não: muitas vezes, essas conversas, desde que as não deixemos descambar para a brincadeira, são mais importantes do que os conteúdos programáticos. Tenha apenas cuidado para que eles não se entusiasmem a querer repetir a receita com muita frequência. Aliás, faça-lhes ver que a sua cedência, ainda que justificada, exige uma contrapartida - terão de estar mais atentos e participar mais activamente nas aulas seguintes para não descontrolar o seu planeamento.
30. Saiba estar. Isto é, vista com bom gosto, sobriamente, sem pedantismo. Sente-se, levante-se e caminhe de acordo com as regras da boa educação. Lembre-se de que, para a maior parte dos seus alunos (mesmo de muitos que vêm em carros de luxo), os professores são, praticamente, as únicas referências para aprenderem a estar e a agir de acordo com as regras de boa educação.


Bem, aqui deixo as minhas sugestões. Não tratam de avaliação, não estão escritas em eduquês e, lendo os comentários aos blogues da minha caixinha de Afectos e outros mais desafectos, pensei que talvez não fossem descabidas. Se o forem, desculpem qualquer coisinha...

Aqui vão os 10 do meio...

Cá vão mais 10. Nada do outro mundo, como verão:
11.Seja amável. Sorria, mas seja firme, se for caso disso. Não siga aquele velho conselho de "não mostrar os dentes até ao Natal".
12. Muitas vezes, infelizmente, vai ter alunos difíceis. Peça ajuda adequada para agir com segurança mas lembre-se de que, a maior parte das vezes, a insubordinação, a má educação, o mau comportamento, a falta de hábitos de trabalho acontecem porque nem os pais nem os outros professores antes de si se preocuparam com as Pessoas que existem dentro dos alunos.
13.Leia pelo menos um bom jornal nacional por dia. Além de ficar a par do que se passa, há sempre numerosos assuntos que nos podem servir de introdução ou motivação às aulas.
14. Sempre que se proporcionar, pergunte coisas aos alunos sobre assuntos que eles dominam e "deixe-se" ensinar. Da música ao futebol, das novas tecnologias às linguagens codificadas, há todo um mundo que pode descobrir. E é importante saber o que interessa aos alunos.
15. Por favor, não considere que a sua disciplina é a mais importante de todas e nunca, mas nunca, faça qualquer referência de menos consideração por qualquer outra disciplina.

16. Faça um esforço para saber como é que a sua disciplina pode interagir com outras. Promova reuniões com outros professores e não julgue que as interacções só podem ocorrer em disciplinas afins. Se aprofundar esta ideia, não lhe faltarão surpresas.
17.Seja cordial: cumprimente os seus alunos ao entrar, despeça-se quando sai, deseje bom fim-de-semana nas aulas de sexta-feira, peça o que tiver que pedir por favor e não se esqueça de agradecer.
18. Exija limpeza na sala e não se coíba de mandar limpar quem suja, seja o tampo da carteira com mensagens bonitas ou feias, seja lançar papéis para o chão.
19. Do mesmo modo, utilize linguagem adequada e não permita o uso de termos grosseiros ou indelicados perto de si.
20.Lembre-se de que não é apenas Professor dentro da sala de aula. Também o é nos corredores, no bufete, no refeitório, no recreio. Aja sempre como tal e não finja que não vê coisas que não permitiria na sua sala de aulas.

Desculpem a presunção

Amigos, todos nós sabemos que as opiniões e os conselhos se dão, o que, para muita gente, não é grande elogio. Este é o primeiro Mas. A seguir, preciso de confessar que não tenho a certeza de estar devidamente actualizada. No entanto, ouso publicar aqui, dividido em três postagens (será assim que se diz?), para não cansar, 30 conselhos que "arrumei" há uns 5 ou 6 anos para quem quisesse ser professor. Aqui vão os 10 primeiros:
"Há uma obra de Robert D. Ramsey, "501 Dicas para Professores", publicado pela Replicação, que gosto de abrir, numa página qualquer, e ler. Faço-o quase sempre com um sorriso e aquele menear de cabeça que significa "é isto mesmo!"
Ora, sem querer plagiar a referida obra, que tem como subtítulo " Ideias, estratégias e sugestões devidamente testadas", eu gostaria de pedir, humildemente, autorização para que me deixassem também apresentar alguns conselhos e sugestões. Vamos a isto:
1.Por favor, vá para Professor por gosto e vocação. Nenhuma licenciatura fará de si, de per si, um bom Professor. Além de que será, certamente, um ser humano infeliz, o que se repercutirá nos seus alunos.
2.Seja optimista - as coisas podem sempre correr melhor do que nós pensámos.
3.Seja franco - se estiver doente ou mal disposto, seja sincero e diga aos seus alunos que tem os seus próprios problemas e espera que eles não compliquem. Os jovens podem ser muito generosos.
4.Cultive-se - tudo avança e se modifica a alta velocidade, especialmente no campo do conhecimento. Não se deixe ficar para trás. Actualize-se continuamente. O lema agora é "aprender ao longo da vida".
5.Ensinar e aprender é Trabalho, mas não é uma expiação. Não precisa de usar muito "folclore" mas lembre-se de que já lá vai o tempo do "magister dixit". Estude a sua "gente", descubra estratégias e materiais, puxe por eles. Fale com Colegas e partilhe ideias e não só.
6. Faça os possíveis por mostrar que aquilo que ensina tem utilidade e, por favor, nunca menospreze a importância da sua disciplina.
7.Lembre-se de que um Professor é sempre Professor de Português. Use o registo de língua adequado à situação de aula e tenha um cuidado extremo naquilo que escreve.
8.Se pensa ou sabe que tem problemas de expressão escrita a nível de ortografia, estrutura frásica ou pontuação, aja de imediato. Adquira os livros que o podem ajudar, peça ajuda a amigos muito especiais e de confiança, use o corrector ortográfico do computador e leia bons autores portugueses. Dos que sabem mesmo escrever.
9. Tenha o máximo cuidado ao redigir os testes. Como sabe, há regras. Respeite-as. Seja claro no que pede, não utilize vocabulário que não usa normalmente nas aulas, parta do mais fácil para o mais difícil, dê sempre a conhecer a cotação de cada questão porque os alunos poderão ter necessidade de optar por uma ou outra questão, se tiverem problemas de tempo e não se esqueça de uma ou duas questões para que alguns alunos possam mostrar a diferença.
10.Não demore semanas a corrigir os testes e, se marcar trabalhos de casa, faça a sua correcção. Os alunos respeitam mais facilmente um Professor que entrega os testes com a brevidade possível e faz a sua correcção formativamente, isto é, de modo a que ela sirva para que os alunos aprendam o que não sabiam ou corrijam alguma ideia errada.
(Por motivos óbvios, ando um pouco atrapalhada com o tempo. Ainda não aprendi a fazer apresentações de jeito. Em Julho, se Deus quiser, vou aprender.)

Parábolas de sempre - Jesus e o futebol

No blogue Revisitar a Educação, a Fátima postou uma parábola de hoje. Lembrei-me, ao lê-la, de que eu tinha a mania de andar com um daqueles livrinhos do Padre Anthony Mello na carteira. Para quê e porquê? São pequeninos, podem ler-se em qualquer lado, quase não ocupam espaço e, de vez em quando, davam-me muito jeito. Imaginem um dia em que, como a Catarina muito bem disse, “Professora, hoje estamos todos com as hormonas muito agitadas”.
Resposta: “Caríssimos, para acalmarem, vou fazer um pequeno intervalo e ler-vos uma história”. E lia mesmo. Às vezes, ficávamos a dissecá-la, outras vezes a história já era lida com a promessa de que ficaria para conversa de intervalo.
Pois vou contar (não transcrever, porque os livros andam todos emprestados) a parábola de Jesus e o futebol. Sei-a quase de cor:
Soubemos, eu e alguns Amigos, que Jesus nunca tinha visto um desafio de futebol e resolvemos levá-lo a assistir a um jogo entre Católicos e Protestantes. A tarde estava magnífica, o campo estava cheio de adeptos calorosos e as duas equipas jogavam denodadamente, os Protestantes vestido de xadrez banco e preto e os Católicos de azul e branco.
De repente, os Católicos marcaram um golo e Jesus entusiasmou-se: gritou, bateu palmas, levantou-se do lugar, atirou o chapéu ao ar. Uma alegria.
Mas, daí a pouco os Protestantes marcaram também e Jesus fez a mesma coisa: gritou, bateu palmas, levantou-se do lugar, atirou o chapéu ao ar.
Olhámos uns para os outros e um dos Amigos que estava mesmo por detrás de Jesus tocou-lhe no ombro para lhe chamar a atenção e perguntou: “- Então, como é isso? Por quem é que estás a torcer?”
Jesus respondeu calmamente: “Torcer? Mas eu não vim torcer por ninguém, eu vim ver o jogo, vim divertir-me”.
A parábola não acaba aqui mas eu confesso um truque: quando a lia no 10º ano acabava aqui e ela já dava pano para mangas.
Logo no princípio do 11º ano, para ver quantos “centímetros tinham crescido por dentro”, eu arranjava – era tão fácil - maneira de voltar a ler a história e era interrompida pouco depois: “- Professora, essa já conhecemos. ”
“- Não conhecem o fim, que vos vou ler agora: Então, o Amigo que tinha interpelado Jesus virou-se para os que estavam ao lado e disse: Olha, mais um ateu!”
Pois é: somos crentes e ateus, sempre, ao mesmo tempo. Depende daquilo em que queremos acreditar. Mas esta é apenas uma das milhentas conclusões possíveis.