sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Bem não vende nem parece interessar a muita gente

O Bem não vende...

Não posso passar sem ler jornais, compro um religiosamente todos os dias, dois ao sábado, dois ao domingo, duas revistas semanais e uma mensal. Já descobri, quase com vergonha, que, quando pelas minhas andanças africanas, o que mais falta me faz são os jornais, nos locais onde não tenho aceso à NET. Porque a família, essa posso sempre contactá-la pelo telefone, claro...

Mas ler os jornais é, cada dia, e cada vez mais, uma autêntica provação. Quero ser informada, mas não leio notícias, porque não m’as dão: leio comentários, opiniões pessoais, julgamentos de factos sobre os quais não nos são fornecidos todos os dados. A pensar nisto, lembrei-me de um episódio que ocorreu no último ano em que dei aulas (2002-2003).

Pedi aos meus alunos que fizessem um pequeno trabalho de casa: que escrevessem, cada um, uma frase idiomática, em inglês, em que entrasse uma cor. Talvez porque não costumo marcar muitos TPC's, a maior parte "esqueceu-se" de o fazer. Uma simples frase! Mas uma aluna das que se sentam à frente, daquelas que, não sendo brilhantes, querem absorver tanto o que o professor diz (falo por mim) que até se inclinam para a frente, como que tentando aprender através dos poros, uma dessas alunas, também não tinha feito o tal TPC que eu achara que os iria interessar muito. Olhei para ela, sem perguntar nada, e ouvi, em voz quase inaudível: "Professora, o que é uma frase idiomática?"

Não me zanguei, apesar de já ter falado não sei quantas vezes em frases idiomáticas, em como é difícil traduzi-las, mas também no colorido que dão às línguas. Então, resolvi fazer uma "revisão da matéria dada" e fiquei um bocado preocupada: é que eles também não sabem, em Português, o que quer dizer "estar verde de inveja", em que situação se diz "ficar vermelho como um tomate" ou "estar mesmo a pedi-las", "pernas para que vos quero", entre outras. E só estou a mencionar as mais simples.

Perguntei-lhes: "Mas o que é que vocês sabem, contem-me lá?" Eles sabiam imensas coisas com que eu nem sonhava, informação via TV, revistas especializadas para jovens, vídeos, jogos de computador, etc. Lá fui eu dar uma vista de olhos aos programas que viam, às revistas que liam, a um vídeo que me emprestaram e só não me arrisquei nos jogos porque sou uma nódoa no assunto... E não me admirei do pouco que sabiam da sua língua. Tudo aquilo era, na maioria, de uma pobreza franciscana em termos de linguagem e de muito mau gosto a nível de conteúdos, na minha opinião. Reparei, contudo, que começavam a falar de coisas que viam nos telejornais e até já liam alguns jornais, mas esses só de acordo com o que vinha na 1ª página.

Entretanto, muitas coisas aconteceram mas tenho agora a certeza de que, continuando a observar a realidade através dos jornais e da TV, pouco de Bem podem aprender. O Bem não vende. Quantas pessoas se entregam a ajudar crianças, a tomar conta de idosos que lhes não são nada, a visitar doentes, a procurar trabalho para desempregados, a ensinar pessoas para que se valorizem? Provavelmente mais dos que os que são pedófilos, que roubam, que corrompem e são corrompidos. E quem fala deles? Ninguém, porque o Bem não vende.

Em toda a parte, a toda a hora, há gente que procura melhorar o Mundo em que vivemos, tentando torná-lo mais humano, mais solidário, mais igual. Organizam-se eventos para actualizar certos sectores profissionais e os meios de comunicação "desconhecem-nos", mesmo que eles atraiam 1000 pessoas, sob a justificação de que há um patrocinador e falar do caso seria fazer publicidade. Mas aquilo que lemos todos os dias, o que vimos e ouvimos não é publicidade ao Mal, aos que vivem desse Mal, aos que se arrogam o direito de "lavar o Mal"? É que o Mal vende, ele sabe encontrar os seus agentes distribuidores. O que aconteceria a um jornal em que predominassem as boas notícias?