segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mas não há ninguém que os ensine?

Há pouco estava a ver o noticiário da estação oficial. Uma apresentadora, aos gritos, tentava fazer-se ouvir por cima do ruído musical retro da inauguração do Tróia Resort. O assunto passou para estúdio e, logo a seguir, a mesma apresentadora resolveu falar com uma camponesa (sim, uma mulher do campo, vestida a preceito, e que andava a tratar da relva e dos jardins.
E que resolveu a jovem licenciada em jornalismo fazer? Perguntas estúpidas, paternalistas, complacentes, em que punha em causa uma série de valores sociais e profissionais. Perguntou-lhe se ela sabia o que era um resort. Depois, se ela contaria voltar lá. A senhora, candidamente, disse que talvez, se fosse preciso. E a menina, travessa, perguntou se ela sabia quanto custava viver ou simplesmente estar ali.
Fiquei indignada. Caramba, mas afinal não há ninguém que ensine boas maneiras a estes aprendizes de jornalistas? Já não basta a demonstração de ignorância com que tantas vezes nos presenteiam, temos também que aturar a falta de educação?
Haja alguém que ensine boas maneiras. Creio que é um campo com futuro: desde preparar autarcas para saberem apresentar-se em público e aprenderem a falar, até preparar todos os que vão a qualquer lado a representar Portugal e agora, praticamente, ensinar o que é delicadeza, respeito, consideração a todos os que lidam com o público. Desde empregados de balcão (desculpem, agora são assistentes de vendas - e por isso, só assistem, nós temos que fazer o resto...) até repórteres, jornalistas, entretendedores(!), há uma multidão de gente que julga que tem alguma classe quando humilha (ou tenta humilhar) os outros. Sem respeito pela idade, posição, nada.
Quando é que eu recomeço a dizer bem? Ah, para não levar nenhum ralhete indirecto, se calhar o melhor é fechar a loja... Mas, de qualquer maneira, eu também não gosto de dizer mal. Logo, ou há assunto ou não há.

Onde estará a Virtude?

Diz-se que os provérbios ou ditados são sabedoria, pois foram criados a partir de milhentas ocorrências que pareciam garantir a sua Verdade para além do Tempo. Pois já sabemos que não é assim, visto que a tecnologia (ia a chamar-lhe progresso mas desisti a tempo) tem mudado as coisas. Por exemplo, um ditado antigo dizia que "mal vai a Portugal se não há três cheias antes do Natal". Ora as barragens tiraram significado a um provérbio muito útil num país predominantemente agrícola mas que agora nada significa. Outro dizia: "se quiseres comer bem, come as ervilhas com os ricos e as cerejas com os pobres". Este felizmente vai desaparecendo, mas queria simplesmente dizer que as melhores ervilhas eram as primeiras, tenrinhas, mas tão caras que só os ricos as podiam comprar, enquanto as melhores cerejas são as últimas, aquelas que já ficam tão baratas que até os pobres se podiam deliciar com elas.
Na minha aldeia havia um ditado que nunca ouvi em mais lugar nenhum e que era, por si só, todo um tratado sobre a situação de pobreza do Portugal rural (e note-se que esta aldeia está a uns 15km de Coimbra). Como os pais mandavam as crianças "roubar" fruta aos pomares ou fruteiras quando estes lhes pediam pão, corria este: "Da cereja ao castanho, bem me avenho; da castanha ao cerejo, mal me vejo". O que significava que, a partir de Maio, com as primeiras cerejas, até Novembro, com a chegada das castanhas, as crianças tinham muito por onde enganar a fome. Mas de Novembro a Maio, o caso fiava mais fino, porque não havia fruta. Sei de quem enganava o estômago com flor de marmeleiro, que é das primeiras a aparecer, muito adocicada. Já provei. E acho muito interessante a inversão do género da fruta, para rimar a preceito.
E que tem isto tudo a ver com o título? É que se diz que "no meio está a virtude"... Será?
Não sei porquê, isto faz-me lembrar a "aura mediocritas" e fico logo desconfiada. Não gosto muito de médias. Lembro-me logo de que se tu comeres uma galinha e eu nenhuma, na média comemos ambos meia galinha...
Pois é: eu gostaria de saber onde está a Virtude. E já agora dizer que apreciei ontem uma personalidade da nossa praça política, de clara e conhecida prática cristã católica, afirmar que certas acções que fazemos valem bem por vinte missas. Dão-se alvíssaras a quem disser quem o disse, a que acções se referia e em que local ou meio se exprimiu.