Hoje consolei o coração ao passar pelos blogues da minha Caixinha de Afectos. Bons textos ligados à Educação, de gente séria, que sabe do que fala, que pensa e pesa o que diz. Belos textos de Poetas e de Pensadores, que nos põem a olhar para a realidade circundante com olhos novos. Parábolas e fábulas, de que andava precisada. Mas, sabe-se lá porquê, a mim apetece-me falar de "sedução".
Creio que acontece com toda a gente - tenho palavras de que gosto muito, outras que detesto e outras de que desconfio. Uma das que pertencem a esta terceira categoria é "sedução".
Como sempre tive a mania de fazer "profundas" análises e introspecções (o que talvez tenha a ver com o signo de Balança, que não o é apenas de pessoas indecisas, como para aí se diz, mas também gente de um amor entranhado ao que é justo...), até já cheguei a identificar esta desconfiança com o meu primeiro trabalho…
Fui escriturária no Tribunal de Relação de Luanda entre 20 de Agosto de 1962 e 28 de Fevereiro de 1963 e a minha principal tarefa era dactilografar os acórdãos de sessões em que o Desembargador-Presidente recorria a frequentes expressões em Latim. Ora acontece que eu era a única funcionária que sabia Latim, tinha acabado o 7º Ano antigo com uma classificação mais do que honrosa e deram-me a "honra" de passar à máquina os tais acórdãos. O problema é que o tal Desembargador com quem trabalhava, não sei se por gosto ou acaso, só tratava de "Crimes de Sedução". Sim, aqueles casos em que uma donzela aceitava entrar em partilhas muito íntimas do seu corpo e dos prazeres acrescidos (ou não) com um "sedutor", sob promessa de casamento. Promessa de que depois o dito se esquecia rapidamente. Senhores, isto nos idos dos anos 60, do século passado, fazem lá ideia do que uma pobre e recatada menina de 20 anos aprendeu naqueles acórdãos sobre a dita "sedução"?
Poderá ser, pois, daí, mas desde então a palavra "sedução" cheira-me a embuste. E fico sempre preocupada quando alguém de responsabilidade na Educação - ministros, directores regionais, professores, pais - diz que a Escola, o Professor, têm de seduzir o Aluno. Não têm, não senhor, pelo menos na minha opinião. Isto, se querem dizer, com "sedução", fazer com que os alunos não queiram deixar a Escola. Aliás, na minha opinião, "seduzir" é a mais fácil de todas as soluções, mas receio que não vá longe.
Eu, Maria do Carmo Cruz, queria que os meus alunos já tivessem tido a sorte de alguém lhes ter ensinado que a Escola é precisa, que aprender é próprio do ser humano, que não é apenas brincadeira nem castigo - é apenas outra espécie de Trabalho, também próprio do Homem, que se vai adequando à medida que crescemos. Senão, ensinava eu.
Depois, era minha obrigação dar-lhes gosto em fazer aquele Trabalho de estar comigo 3 horas semanais, pelo puro prazer de aprender e reflectir sobre coisas novas e não tão novas. Era minha obrigação usar estratégias e metodologias à medida da sua idade, dos conteúdos programáticos, do interesse para a vida deles um dia, para que sentissem vontade de voltar, e isso sem recorrer a actuações de animação cultural, exceptuando recursos como visitas de estudo, colóquios com profissionais, visionamento de filmes, utilização da tecnologia que tivesse à mão e valorizasse o conteúdo.
Fui e sou Professora, gosto de ensinar, gosto de partilhar com alegria. Sei que não há prémio melhor do que, ao dar aula sem olhar para o relógio, ouvir um "oh" de desapontamento quando toca. Sim, mas sou e era Professora, e mesmo hoje recusar-me-ia a ser animadora social ou cultural. Essa função é outra, muito respeitável, mas eu só quero seduzir quem quer ser seduzido e, portanto, não necessita de manobras de sedução. Porque recorrer ao Melhor, fazer o Melhor, querer o Melhor quando ensinamos e aprendemos não é seduzir, é a única maneira como sei trabalhar. A sedução pode vir apenas por acréscimo e será bem-vinda mas não é o prato especial da ementa...
quinta-feira, 26 de junho de 2008
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