Eu não conhecia Adélia Prado e alguém me fez encontrá-la. Ou antes, me fez ter vontade de a encontrar. Que bom! Fui à procura dela e encontrei uma Mulher que mostra na sua Poesia uma enorme alegria de ser Mulher, de estar viva, de ter um corpo. Estas são as primeiras impressões colhidas. Ainda tenho que me encontrar com ela muitas vezes. Creio que nos vamos dar bem. Partilho-a com gosto na descrição de uma cena conjugal tão normal e pacata e onde se pode encontrar uma cumplicidade natural e inocente entre Marido e Mulher. De que tenho saudades. Então, a palavra a Adélia Prado. Se quiserem saber onde a descobri vão ao terrear, a partir de um texto de Rubem Mendes e de um comentário de um meio-Anónimo de nos fazer crescer água na boca:
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.