quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O que é que se passa connosco?

Acabo de ver o Telejornal e estou um tanto abalada. Não sei até que ponto o meu espírito natalício me ajudará a ter compreensão para duas notícias que me tocaram. Depois de ter visto o Presidente Lula da Silva discursar em Português na Cimeira do Clima em Copenhaga, vi, logo a seguir, o Primeiro Ministro português falar em inglês. Fiquei envergonhada! E, daí a pouco, ouço que o hino da selecção portuguesa para o Campeonato Mundial de 2010 é uma música dos Black Eye Peas! Mas nós perdemos de todo o amor-próprio ou sou eu que estou atrasada relativamente ao momento histórico? Bem conheço o aforismo que diz que "não é próprio chamar amor ao amor-próprio", mas, caramba, nem tanto ao mar nem tanto à terra!
Na verdade tenho de confessar que talvez ande um tanto susceptível, porque também me irritei com uma peça publicada hoje na revista "Sábado", sob o título "As figuras mais cruéis da Bíblia". Um chorrilho de banalidades, sem nenhuma profundidade e mostrando uma grande ignorância sobre o assunto, apesar da senhora que escreveu se ter dado ao trabalho de ouvir dois padres e um pastor. Logo no preâmbulo, a senhora define a Bíblia como "o livro de Jesus". S.Pedro, pelos vistos, foi cruel porque negou Jesus três vezes, E não recebeu nenhum castigo porque se arrependeu. Coitado de S. Pedro que até foi crucificado de cabeça para baixo! E vai por aí adiante. Os jornalistas mais jovens não recebem, garantidamente, ensinamentos nem normas nos campos da sensibilidade e bom senso. Basta reparar nas perguntas tolas que disparam e a falta de humildade ao humilharem, tantas e tantas vezes, as pessoas que entrevistam. Não refiro a falta de cultura geral porque essa, então, é de bradar aos céus.
Já a semana passada me indignei porque tomei por minhas mágoas alheias. Não gostei de ver como a revista Visão apresentou a vida e os gastos dos angolanos ricos em Portugal. Não se atrevendo a chamar claramente desonestos a esses cidadãos, fizeram grandes parangonas do que compram e da vida que levam. Ora vão lá a raciocinar um pouco: o dinheiro é deles ou não é? Se não é, onde é que isso nos coloca, a nós, portugueses? E se é, o que é que nós temos a ver com o facto de comprarem coisas caras e de bom gosto? Será por serem escuros de pele que não podem ter bom gosto e gostar de coisas boas? Sentir-nos-emos no direito de reclamar porque em Angola há muitos pobres? E em Portugal não há pessoas que levam vidas luxuosas e pobres a quem falta pão, calor, tecto, até remédios? Ora deixemo-nos de paternalismos serôdios e sejamos mais honestos. Não aconteça que de nós se possa dizer que vemos o argueiro no olho do vizinho e não vemos a trave no nosso olho.
Já agora que estou, reconhecidamente, a usar o blogue para desabafar as minhas mágoas, devo confessar que tenho andado muito incomodada com a incapacidade que temos tido de diminuir a fome no mundo. Ainda mais porque, tendo andado no meio, sei quanto do dinheiro e comida que se dá para os famintos se perde entre as mãos que dão e as mãos que recebem. Dói-me ver a Caridade feita emprego e, ainda por cima, emprego bem pago e com mordomias.
Bem, já desabafei. Gostaria de referir alguma coisa boa, mas apenas me lembro da alegria que vi em alguém apenas porque uma pessoa que há muito se afastara lhe mandara uma simples mensagem de Natal.
Pois é: temos de nos lembrar mais dos outros, porque também há quem tenha fome de Companhia, de Afecto, de uma palavra compreensiva. E isso é tão barato! Boas Festas!