Quem for da minha idade lembra-se de um texto, do livro da 4ª classe, que se chamava “A Mulher minhota”. E começava assim: A mulher minhota trabalha mais do que o homem.” Pois. Começo pelo meu louvor à Mulher Moçambicana. Vejam depois como tudo se interliga. Para ti, em especial, Teresa de Longe.
Mulher Moçambicana,
eu te saúdo,
neste dia que a ti é dedicado.
Em casa, na machamba,
tu és tudo
tudo nasce de tuas mãos, do teu cuidado
Manhã cedo, inda a lua é uma bola,
levantas-te da cama, diligente.
tratas dos filhos, manda-los para a Escola,
para lhes dares um futuro diferente.
Limpas a casa, acarretas água,
cavas a mandioca e o feijão.
Cantas e danças, mas sabe Deus a mágoa
que às vezes mora no teu coração.
Queres um amanhã melhor prá tua terra,
serás o motor dessa mudança.
Forte na paz, forte na guerra
Moçambique põe em ti sua esperança.
Quando vestes a tua capulana
que envergas com orgulho e elegância,
és o retrato da mulher africana
e o teu corpo caminha numa ânsia
de agarrar um Amanhã diferente,
para ti e para a tua gente.
Deus te abençoe, Mulher Moçambicana!
(Mumemo, Moçambique, 7 de Março de 2006)
Moçambique tem mais ministras do que Portugal, umas poucas de governadoras de Província e não são de gabinete. Correm os distritos do seu território e são aguardadas com respeito e expectativa. Os cursos superiores que funcionam à noite estão cheios de mulheres, que trabalham de dia, que tratam da casa, que não têm transporte próprio. Elas estão dispostas a fazer todos os sacrifícios para dar uma vida melhor aos filhos.
Nos bairros suburbanos, as mulheres fazem tudo, sustentam a casa, vendem, compram, viajam para os países vizinhos para negociar. Criam pintos, fazem doces, salgados, comida para vender aos operários, nos passeios. Muitas levantam-se de madrugada e viajam empoleiradas em equilíbrio instável, em cima de camiões que, conforme a época do ano, as trazem com carvão, com couve, com tomate, com laranjas, etc., que vão buscar a centenas de quilómetros de distância. Chegam à cidade por volta das oito horas, depois de terem viajado tempos infinitos, muitas vezes à chuva, outras ao frio, sempre com um fito: que os filhos tenham um futuro diferente do delas. E especialmente as filhas.
Ouso afirmar que, para as mulheres moçambicanas não europeizadas, (portanto, acima dos 40 anos, mais ou menos), os homens só são realmente importantes porque sem eles elas não teriam filhos. Esses, sim, merecem todos os sacrifícios. Às vezes, metidos à força pela boca abaixo. E é ver o orgulho com que algumas mulheres falam da forma como foram educadas: com exigência, a levantarem-se de madrugada para acarretar água antes de ir à Escola, para cavar a machamba ainda noite escura, para aprenderem o seu valor. Por muito que custe a saudosistas, foi entre estas mulheres que brotou a vontade da autonomia, da liberdade. Se os resultados não foram exactamente os desejados, a culpa não foi delas. Por isso continuam a lutar corajosamente, agora contra a discriminação de género, pelo direito à igualdade, pelo fim da violência doméstica.
E será que isto não está a acontecer um pouco por todo o lado? O que é que está bem ou mal? Tudo e nada. Depois de séculos confinadas à cozinha e sala, as mais afortunadas, à lavoura e ao serviço doméstico a maior parte, foi desta última camada que, também em Portugal, as mulheres enfrentaram dificuldades para porem as filhas na Escola, para as levarem até à Universidade. Infelizmente, muitas vezes, só para ouvirem chamar-lhes doutoras. Aí é que está o engano: as raparigas obtêm melhores resultados porque crescem, amadurecem, mais depressa. São, na maior parte das vezes, mais persistentes, têm mais brio. Com as excepções da praxe. O importante, contudo, não está em serem em maior número nas Escolas ou terem classificações mais altas. Julgo que este tempo em que vivemos será o verdadeiro tempo das Mulheres se elas se aceitarem como Mulheres, não para competirem com os Homens, mas para os ajudarem a serem melhores seres humanos.
Faz parte da nossa natureza sermos mais pacíficas e pacificadoras. Não deixemos morrer esta característica. Não queiramos considerarmo-nos melhores do que os Homens. Somos melhores do que alguns, em algumas coisas, e piores do que outros, em outras coisas. E depois, que mal há nisso? Vamos, agora que quase estamos realmente do mesmo lado da barricada, desejando o mesmo – um futuro promissor para os nossos filhos e netos – pormo-nos a discutir que é melhor do que quem? Que tola perda de tempo!
Homens de Portugal, olhem que as vossas mulheres, filhas e namoradas estão a pôr as unhas de fora. Não se assustem: aceitem-nas como iguais na sua diferença, façam-lhes sentir que a diversidade é sempre enriquecedora. (Não as ensinem a mudar um pneu para poderem ter sempre um ponto de vantagem se vos cair em sorte uma daqueles que puxa dos galões em todas as circunstâncias...) Sabem o que a maior parte das mulheres quer ser, de facto, mesmo não confessando? Querem ser Mulheres! Só que, para se poder ser Mulher, é preciso que haja Homens à altura, ora essa! Demos graças a Deus, que parece que vai havendo. Para bem da Humanidade. Mulheres de todo o Mundo, usemos as nossas qualidades intrínsecas para mudar o que deve ser mudado. Façamos tudo o que nos for possível para acabar com a violência, com a guerra, com a discriminação, com a injustiça. Usemos o coração e a cabeça e, certamente, todos, Homens e Mulheres, seremos mais humanos e felizes.
Mulher Moçambicana,
eu te saúdo,
neste dia que a ti é dedicado.
Em casa, na machamba,
tu és tudo
tudo nasce de tuas mãos, do teu cuidado
Manhã cedo, inda a lua é uma bola,
levantas-te da cama, diligente.
tratas dos filhos, manda-los para a Escola,
para lhes dares um futuro diferente.
Limpas a casa, acarretas água,
cavas a mandioca e o feijão.
Cantas e danças, mas sabe Deus a mágoa
que às vezes mora no teu coração.
Queres um amanhã melhor prá tua terra,
serás o motor dessa mudança.
Forte na paz, forte na guerra
Moçambique põe em ti sua esperança.
Quando vestes a tua capulana
que envergas com orgulho e elegância,
és o retrato da mulher africana
e o teu corpo caminha numa ânsia
de agarrar um Amanhã diferente,
para ti e para a tua gente.
Deus te abençoe, Mulher Moçambicana!
(Mumemo, Moçambique, 7 de Março de 2006)
Moçambique tem mais ministras do que Portugal, umas poucas de governadoras de Província e não são de gabinete. Correm os distritos do seu território e são aguardadas com respeito e expectativa. Os cursos superiores que funcionam à noite estão cheios de mulheres, que trabalham de dia, que tratam da casa, que não têm transporte próprio. Elas estão dispostas a fazer todos os sacrifícios para dar uma vida melhor aos filhos.
Nos bairros suburbanos, as mulheres fazem tudo, sustentam a casa, vendem, compram, viajam para os países vizinhos para negociar. Criam pintos, fazem doces, salgados, comida para vender aos operários, nos passeios. Muitas levantam-se de madrugada e viajam empoleiradas em equilíbrio instável, em cima de camiões que, conforme a época do ano, as trazem com carvão, com couve, com tomate, com laranjas, etc., que vão buscar a centenas de quilómetros de distância. Chegam à cidade por volta das oito horas, depois de terem viajado tempos infinitos, muitas vezes à chuva, outras ao frio, sempre com um fito: que os filhos tenham um futuro diferente do delas. E especialmente as filhas.
Ouso afirmar que, para as mulheres moçambicanas não europeizadas, (portanto, acima dos 40 anos, mais ou menos), os homens só são realmente importantes porque sem eles elas não teriam filhos. Esses, sim, merecem todos os sacrifícios. Às vezes, metidos à força pela boca abaixo. E é ver o orgulho com que algumas mulheres falam da forma como foram educadas: com exigência, a levantarem-se de madrugada para acarretar água antes de ir à Escola, para cavar a machamba ainda noite escura, para aprenderem o seu valor. Por muito que custe a saudosistas, foi entre estas mulheres que brotou a vontade da autonomia, da liberdade. Se os resultados não foram exactamente os desejados, a culpa não foi delas. Por isso continuam a lutar corajosamente, agora contra a discriminação de género, pelo direito à igualdade, pelo fim da violência doméstica.
E será que isto não está a acontecer um pouco por todo o lado? O que é que está bem ou mal? Tudo e nada. Depois de séculos confinadas à cozinha e sala, as mais afortunadas, à lavoura e ao serviço doméstico a maior parte, foi desta última camada que, também em Portugal, as mulheres enfrentaram dificuldades para porem as filhas na Escola, para as levarem até à Universidade. Infelizmente, muitas vezes, só para ouvirem chamar-lhes doutoras. Aí é que está o engano: as raparigas obtêm melhores resultados porque crescem, amadurecem, mais depressa. São, na maior parte das vezes, mais persistentes, têm mais brio. Com as excepções da praxe. O importante, contudo, não está em serem em maior número nas Escolas ou terem classificações mais altas. Julgo que este tempo em que vivemos será o verdadeiro tempo das Mulheres se elas se aceitarem como Mulheres, não para competirem com os Homens, mas para os ajudarem a serem melhores seres humanos.
Faz parte da nossa natureza sermos mais pacíficas e pacificadoras. Não deixemos morrer esta característica. Não queiramos considerarmo-nos melhores do que os Homens. Somos melhores do que alguns, em algumas coisas, e piores do que outros, em outras coisas. E depois, que mal há nisso? Vamos, agora que quase estamos realmente do mesmo lado da barricada, desejando o mesmo – um futuro promissor para os nossos filhos e netos – pormo-nos a discutir que é melhor do que quem? Que tola perda de tempo!
Homens de Portugal, olhem que as vossas mulheres, filhas e namoradas estão a pôr as unhas de fora. Não se assustem: aceitem-nas como iguais na sua diferença, façam-lhes sentir que a diversidade é sempre enriquecedora. (Não as ensinem a mudar um pneu para poderem ter sempre um ponto de vantagem se vos cair em sorte uma daqueles que puxa dos galões em todas as circunstâncias...) Sabem o que a maior parte das mulheres quer ser, de facto, mesmo não confessando? Querem ser Mulheres! Só que, para se poder ser Mulher, é preciso que haja Homens à altura, ora essa! Demos graças a Deus, que parece que vai havendo. Para bem da Humanidade. Mulheres de todo o Mundo, usemos as nossas qualidades intrínsecas para mudar o que deve ser mudado. Façamos tudo o que nos for possível para acabar com a violência, com a guerra, com a discriminação, com a injustiça. Usemos o coração e a cabeça e, certamente, todos, Homens e Mulheres, seremos mais humanos e felizes.