sexta-feira, 27 de junho de 2008

Por que gosto das sextas-feiras...

Um pôr de sol que anuncia trovoada, em Quibaxe, Angola, e uma casacatinha perto de Penamacor, mas já em Espanha.





Hoje é sexta-feira. Gosto das sextas-feiras: conheci o meu Marido a uma sexta-feira, casei-me numa quinta mas, como julgo já ter contado, ele não veio ao casamento e só me encontrei com ele na sexta, os meus dois primeiros filhos nasceram à sexta-feira e hoje o Dr. David Abel, o fantástico médico que me operou, disse-me que posso começar a pousar o pé no chão a 30%. Não é uma maravilha?
Além disso, hoje acabei uma formação que correu maravilhosamente e tenho umas provas e umas avaliações fora de série. E muita gente me pediu para voltar, voltar. E eu gosto de voltar.


Bem, mas além das sextas-feiras, há uma quantidade de coisas de que gosto:
Gosto de ver os meninos negros vestidinhos de lavado, com aqueles seus olhos muito brilhantes. Gosto de os ver levar livros na pasta, do ar malandro com que me chamam Avó para ver se me levam uns kuanzas. Gosto de ouvir a Tia Bela, uma negra forte, que trabalha por três, dizer-me, quando lhe agradeço um carinho, uma delicadeza, “ai, professora Carmo, não faz isso, não me ofende”.


Gosto de ver olhos a sorrir. Gosto de ver casais com olhares cúmplices. Gosto de ver o marido ou a mulher, de repente, estender a mão e pousá-la sobre o braço do outro. Gosto de ver casais acima dos sessenta de mãos dadas. Gosto de ver um homem a compor uma gola feminina que o vento pôs fora do lugar e de ver uma mulher a endireitar o colarinho do Marido.


Gosto do ar absolutamente indescritível de um homem a olhar para o seu primogénito acabado de nascer. Gosto de ver crianças a começar a andar. Gosto daquele olhar cheio de expectativas enquanto, de braços abertos, tentam mudar de pé.
Gosto de ver os meus netos a rapar a taça onde se bateu um bolo. E do cheiro do caril feito com as minhas próprias misturas. E de caju estufado a fingir que é frango. Gosto de cozinhar para Amigos. Gosto de anedotas compridas ou então muito curtas. Gosto de histórias que acabam bem (para compensar a vida).

Gosto de uma bela trovoada nocturna. Gosto do céu estrelado visto nas noites de Mumemo. Gosto das chuvadas africanas, porque são rápidas, poderosas e cheias de cheiros. Gosto do mar sereno da Ilha do Mussulo e das calemas bravas das marés vivas. Gosto de rios, ribeiros e riachos. E de pontes. Gosto de jardins pouco “artísticos” mas com muitas flores diferentes e algumas árvores. Gosto de comer figos com boroa debaixo da figueira.
Gosto de ouvir Mahler quando estou triste para ainda ficar mais triste e resolver o problema da tristeza. Gosto de Verdi e de Mozart porque me põem a cantarolar. Gosto de palavras e de frases gostosas: sorriso, alegria, primavera, outono, verão, inverno, lareira, estou a chegar, feijão com arroz, arroz-doce, canela açucarada, gengibre e mel…
Meu Deus, como Tu és bom! As coisas de que mais gosto são, quase todas, absolutamente de graça. Basta um eco do Teu Amor em nós para se tornarem possíveis!