sábado, 3 de maio de 2008

Porque hoje é Sábado, tempo de relaxar, e Nada é definitivo!

Nada é definitivo. Este é um dos meus lemas. Aprendi o seu valor num dos mais belos livros que li, e que comecei a ler num avião bimotor que me levava de Luanda a Malange, na manhã do dia 8 de Março de 1963. Chama-se “Cidadela”, de J. Cronin. Este lema tem-me ajudado a relativizar coisas complicadas e a aceitar com coerência situações que, à partida, pareciam impossíveis de melhorar.
O intróito serve para vos contar por que tenho um Filho chamado Carlos Manuel mas que eu queria que se chamasse João Manuel. Só que, nessa altura, eu já dava aulas e tinha um aluno chamado João Manuel. Este aluno dava umas respostas tão loucas que eu, na ignorância dos meus 21 anos e escudada no meu Amor incondicional por aquele Filho tão desejado, reconheço que tive medo que os nomes tivessem algum efeito nas pessoas… Podem rir-se ou sorrir, mas não quis arriscar. Pois o João Manuel, soube-o há pouco, cresceu, mudou e acaba de se aposentar de um lugar de responsabilidade que exerceu com honra e com saber. Portanto, cuidado, “nada é definitivo”, graças a Deus.
Agora, vamos ao mais importante: o João Manuel, naquele longínquo ano lectivo de 1963/64, estava a repetir o 2º ano de uma Escola Industrial e Comercial e eu era professora de Língua e História Pátria. No fim de cada período fazíamos uma prova global (!!!), que era elaborada pelo Professor Responsável pela disciplina, igual para todas turmas. À questão sobre o que era a Lei das Sesmarias, o João Manuel respondeu: “A Lei das Seis Marias dizia que a cólera mole e a febre-amarela só podiam aparecer no reinado de D. Maria II.” (ipsis verbis)
Fiquei para morrer! A seguir, havia uma composição subordinada à “Crise de 1383-1385” (perguntar isto, assim, a miúdos de 11 anos, que viviam uma realidade completamente diferente, reconheço, também era de loucos). E ainda hoje sei de cor, com pontuação e parágrafos, o que escreveu o João Manuel:
“D. Fernando casou com D. Leonor Teles, senhora de maus portos.
Casou contra a vontade do povo.
Não foi feliz.
Bem feito.”
Bem, aqui dei umas saudáveis gargalhadas, mas o medo instalou-se: nessa altura, fim do 1º período, eu estava grávida de 5 meses!
E foi por estas bolandas que o meu Primogénito ficou a chamar-se Carlos Manuel!

PUDOR

Há um sentimento que se chama PUDOR. Esta palavra tem sofrido umas mudanças ao longo da História mas para mim continua a ser muito importante. Não estou preocupada, quando falo em Pudor, com a muita ou pouca roupa que as pessoas põem a cobrir o corpo. É secundário. O Pudor que me interessa é outro. Hoje fui cumprir o meu fado de compradora compulsiva de livros à FNAC e, lá bem à vista, estava com o seu ainda erro de ortografia, uma obra de que o Prof. Malaca Casteleiro é co-autor. Lembrei-me de como o barco do Poema de António Nobre era tão bonito com o seu erro de ortografia, mas aquele ATUAL, designação principal da obra, chocou-me. Não achei bonito. Que me desculpe o Professor e o seu co-autor, mas além da falta do c senti falta de Pudor. O senhor tem andado há anos embrenhado nos meandros do Acordo Ortográfico. Que não vou discutir aqui, porque não tem discussão. Não é a ortografia que separa o nosso Português da língua que se fala no Brasil. Mas como já sei que outros valores menos altos se alevantam e chegam onde querem, dispenso-me de esgrimir evidências e reservo as minhas energias para tentar falar bem o meu Português.
Mas, sinceramente, não gostei da sua atitude. Acha bem? Faça um exame de consciência: sente-se tranquilo, à vontade? Não luta um pouco consigo mesmo, à noite, quando se deita? Quem me coíbe de pensar que a sua tão intensa defesa do Acordo tem como um dos objectivos a venda do seu livro? O pensamento é livre, não é verdade?
Um dia destes, ou antes, uma noite destas, num dos debates por causa da liderança do PSD (vivi tantos anos sem saber o que era liderança! E depois, um dia, começam a dizer-me que tenho espírito de liderança e que isso era bom, blá, bla…), ouvi alguém dizer que “era uma certa falta de pudor o candidato X ter (ou ir ter) como mandatário Y”. O capital crime parecia ser a circunstância de Y ser filho de W, que tinha deixado o lugar a que X agora aspirava… Parecia que X estava a pedir batatinhas a W, se me entende…
Pois olhe, hoje, ao olhar para o ATUAL, senti que havia ali muito mais razão para sentir Pudor do que no caso de quem era pai do mandatário Y!
Não gosto de ser injusta (sou Balança, sabe?) nem lhe estou a pedir explicações. Aliás, tenho a certeza de que esta minha reflexão não se vai encontrar no seu caminho. Mas julgo que ainda tenho o direito de pensar. Sabe, eu não seria capaz de fazer uma coisa dessas. A única coisa que lhe serve de atenuante é que se identificou. Porque muitos fazem o mesmo mas escondem-se por detrás de outro nome.
Só mais uma coisita: um Professor ainda deveria ter mais Pudor e não fazer estas coisas.
Sem ofensa.