quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lições de Português

Antes de falar nas "Lições", deixem-me agradecer todos os comentários e palavras tão amigas e simpáticas que foram deixando enquanto eu preguiçava. Acontece que, como venho repetindo, custa-me não ter coisas bonitas, positivas, para falar delas. Mas acontece também que, só agora, finalmente, vi algo que me agradou imenso e quero partilhá-lo convosco.
Tudo porque o meu novo fornecedor de TV por cabo inclui a TV Globo e ainda ando por ali a ver quantos canais tenho, o que apresentam, etc. Por motivos que não vêm agora ao caso, tenho tido insónias e só adormeço tarde. Mas continuo a acordar cedo...
Ora, já percebi que o sono é essencial e, por isso, de manhã. pelas seis, sete horas, ligo o aparelho que está no meu quarto para um canal onde haja notícias em Português. E a meia voz... Normalmente traz-me o sono de volta. Pois nestes últimos dias, a essas horas matinais, tenho encontrado um belíssimo programa, muito bem feito, a ensinar Português. No Brasil. E não é Português de favela nem de telenovela de prime-time. É bom Português! Os exemplos, as explicações, os actores, as sequências, tudo do melhor. E vai-me aquecendo a alma não ouvir "Vêjamos, póssamos, deiamos, sêjamos, etc".

As preposições pedidas por alguns verbos aparecem inseridas em contextos naturais, adequados. Enfim, um regalo para os meus ouvidos exigentes. Um programa como nunca vi na nossa TV, nem sequer naquele que passou há relativamente pouco tempo com o Diogo Infante. O actual "Bom Português" da RTP1 da manhã é quase 99 por cento baseado em ortografia. Importante, sim, mas que pobreza! Quando será que aparece um programa como o brasileiro? Com explicação dos conectores? Com frases bem estruturadas? Com exercícios de pontuação?
Enquanto não vem, aproveito para dizer que o meu pé direito, com os seus parafusos, placa e prego, está recuperado a uns 95%, o que é muito bom na minha provecta idade. No entanto, a meta a atingir, são os 100%, claro. E vamos vencer. A Vanessa, o Nelson e eu: três medalhas!
Viva Portugal!
PS: Já me ofereci ao Comité Olímpico para ensinar "a estar" e boas maneiras para participantes em futuras Olimpíadas. Graciosamente. Aguardo resposta...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Os frades e a salsa

Conta-se que uma comunidade de frades vivia em contemplação e na mais estrita frugalidade. Assim, 365 dias por ano, 366 nos anos bissextos, eles comiam ao almoço o equivalente a três colheres de arroz, um pedacinho de carne, isto enfeitado com um raminho de salsa.
Um belo dia, sem qualquer justificação, o pedacinho de carne não apareceu e ninguém disse nada. Obedientemente, comeram o arroz, calados. Daí a umas semanas, veio só o arroz em cada prato. Aí, um dos monges, mais jovem, pediu para falar e disse, dirigindo-se ao Superior: "Pai, eu quero o meu raminho de salsa, se me permite":
E o Superior respondeu: - "Mas porquê, meu filho? Antes de mandar retirar a salsa, tive o cuidado de verificar que ninguém a comia. O raminho de salsa ficava sempre no prato":
Resposta do "reclamante": - "Sim, Pai, isso é verdade. Mas mesmo assim quero a minha salsa. Há tempos tiraram-nos a carne e nós calámo-nos. Agora tiram-nos a salsa. Se nós não dissermos nada, qualquer dia tiram-nos também o arroz! E depois?"

Quem tiver olhos para olhar, veja! Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Falta de brio profissional

A foto de hoje, tirada no dia 2 de Agosto numa parede do meu quarto, é um verdadeiro exemplo de brio profissional e de espírito inventivo. Resolvi mudar de fornecedor das tecnologias domésticas (tv por cabo, internet, telefone) e no dia 23 de Julho apareceu-me cá um "técnico"
que logo na sala me deixou um bocado admirada: colocou a chamada box no soalho, quando tinha por cima uma prateleira vazia que, aliás, estava aí para o efeito.
Fiquei na sala enquanto ele foi para o quarto, tivemos um ligeiro quiproquo por causa da Internet, assinei o papel e o homem foi-se embora "porque já eram 6 horas".
Quando cheguei ao quarto ia-me dando um ataque: Como o cabo era curto, o homem, em vez de me chamar, não esteve com meias medidas: pegou numa caixa que eu tinha à vista, depois colocou-lhe um leitor de cassetes por cima, mais uma cassete e colocou a box na vertical!
Nessa altura eu ainda andava com duas canadianas (agora é só uma) e notem o perigo que era eu andar por ali.
Não refiro o servidor, pois assim que reclamei foram impecáveis, pediram-me para fotografar e reclamar. Como tal me tinha sido pedido expressamente, assim o fiz. Por motivos meus, só vieram repetir todo o serviço no dia 2 de Agosto e ficou tudo numa boa.
Agora gostaria de saber se este funcionário (que era extra-empresa, pertencendo, portanto, a uma empresa subcontratada) é feliz. Não pode ser! Como ser feliz, como pode gostar de si alguém que é capaz de apresentar um serviço tão mal feito! Tive pena dele, porque tenho a certeza de que há algo que ele gostaria de fazer, em que se aplicaria, em que teria brio. Mas isso não desculpa o trabalho feito. Assim como não perdoo que as pessoas se desculpem de fazer as coisas mal feitas ou demoradas "porque ganham pouco". É uma questão de princípio: quando se aceita fazer algo é para ser bem feito!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Eufemismos


Vivam todos os Amigos que aqui fiz e que devem estar mais ou menos todos a gozar merecidas férias. Tenho achado um tanto ou quanto digno de menção o facto de a maior parte das pessoas com quem tenho contactado só se considerarem estar de férias quando partem para algum lado.
Ora eu que, neste momento, profissionalmente, digamos que estou sempre de férias, lembro-me de que "férias era (e ainda é) sair da rotina, fazer coisas diferentes. E uma delas era gozar, usufruir, a minha casa, em que passava tão pouco tempo durante o dia. Férias, para mim, significavam uma grande volta à casa, às coisas, aos hábitos domésticos, assim como que um "retiro de ménage". E uma ou duas semanas na casa da aldeia.
Depois, férias significaram, durante anos, além do retiro doméstico, (não esqueçamos que esse eram já muito boas férias) campismo (ou antes, caravanismo), pic-nics, em que o Pai ensinava aos filhos os nomes das plantas, dos animais, das rochas. Em que se oferecia um "Corneto" a quem lavasse a louça toda bem lavada e a arrumasse nos sítios. Até que eles casaram e férias eram o retiro mais um passeio a dois por Portugal e pela Galiza, de carro, sem destino marcado, ao correr da nossa vontade.
Agora, que não tenho rotinas, é sempre férias, mesmo em casa. Mas quando saio olho bem para o que se vê por essa cidade fora e um dia destes, ia eu com um bom Amigo (agora não é eufemismo...) e vimos este anúncio, ali para os lados do Carvalhido e não pudemos deixar de soltar uma bela e saborosa gargalhada: Cirurgião de esgotos! Em Português e em Inglês! É assim mesmo!
Pois é assim mesmo porque nós vivemos num tempo de eufemismos. Não se reprova - fica-se retido; não se morre -falece-se; as oficinas que lavam carros chamam-se agora "estética-auto". E esta falência generalizada em que, pelo menos aparentemente, se vive, designa-se por "crise".
Pois é, eu tencionava ter começado ontem mas estava à espera de boas notícias para comentar ou apresentar. E dessas apenas posso referir que a minha empregada interrompia todos os dias as suas merecidas férias para vir regar o meu jardim varandal enquanto estive na aldeia. É ou não digno de nota?