Senhora Ministra da Educação,
Excelência,
Estou a escrever-lhe de Luanda, Angola, e creio que a distância física a que nos encontramos me dá a objectividade necessária para lhe dar umas pequenas ideias. Fartei-me de comprar livros para aprender a fazer xaropes com plantas, a descobrir as últimas ervas comestíveis, a ver o que se pode dizer e fazer para humanizar pessoas a quem as necessidades prementes de viver, paradoxalmente, desumanizaram. Foi nesse afã que tentei encontrar uma obra com dicas para Ministros da Educação, mas a procura deve ser pequena, porque não encontrei nada, depois de buscar neste mundo e no outro. No entanto, fortalecida com este sentimento africano de que os seniores valem por si só e têm o respeito de todos como “mais velhos”, atrevo-me a pedir-lhe autorização para lhe enviar algumas conclusões a que cheguei nesta já longa vida de mestra e aprendiz, assim como algumas sugestões.
E além disso, com estas, os Amigos da minha Caixinha de Afectos vão ficar a saber que estou bem e me recomendo. Ah, se a Senhora Ministra não se importasse, faria aqui um pequeno desvio só para dar uma Abraço especial ao Existente Instante (a Senhora sabe que nós, os bloguistas, aproveitamos para nos crismarmos e eu acho este nome de uma poesia imensa, embora não seja o único). Pois, meu Querido Existente Instante, foi a surpresa mais bonita que recebi, assim que me consegui organizar em termos de Net. O que não foi fácil… Mas o facto de teres interrompido a tua suspensa espera para me mandares um abraço foi um verdadeiro presente. Desculpem os outros Afectos da Caixinha, mas eu sempre apreciei a parábola do Filho Pródigo e encontrei uma vaga similitude entre as situações…
Primeiro, Senhora Ministra, queria sugerir-lhe que pusesse alguém do Ministério a ler blogues. Vai ver a categoria de Professores que tem e vai fazer-lhe bem. Porque eu tenho cá uma impressão de que nos Ministérios se esquece como é a Vida real. Por isso, eu concordo com a Avaliação. Mas AVALIAÇÃO como deve ser, para separar (e premiar) os cavalos dos burros. Não para humilhar nem vender formações esquisitas, como já começa a aparecer.
Depois, queria dizer-lhe que considero que a Educação é o mais importante Ministério do Governo, porque é na Educação que está o futuro. Poderia e deveria bater o pé nas reuniões, falar grosso e fazer-se valer. Mas para isso precisaria de ter o que não tem: uma quantidade de gente capaz (Professores, claro) por detrás, a dar-lhe apoio. Sabemos que tem o apoio do Primeiro-Ministro, mas olhe que nem sempre “vale mais ser Ministra por um dia do que Professora toda a Vida”, que me perdoe D. Luísa de Gusmão.
Lembre-se de que ninguém sensato faz obras de fundo em casa com os móveis e a família lá dentro. Se o faz, é barafunda na certa e as obras não acabam em bem. E se os obreiros não estiverem consigo, nunca mais chega a lado nenhum.
Não siga aquele dito (não é ditado) que refere que "antes faça mal do que se estrague". Em Educação é mais do que perigoso - pode ser criminoso.
Feche para balanço, como fazem as empresas, e seja realista. Como não se pode fazer tudo ao mesmo tempo (nem se deve), comece pelo princípio: reorganize completamente o ensino pré-primário e o 1º ciclo. Para fazer essa reorganização, não convoque uma comissão muito grande. Grande nau, grande tormenta. Quando há muita gente, a responsabilidade dilui-se. Escolha poucos, mas bons.
A maior parte dos membros dessa pequena comissão haveria de ser composta por professores desse nível escolar, embora deva ter alguns outros elementos para ter uma visão externa e de conjunto, com especial realce para os que vão pegar nas crianças no ciclo segionte.
Ouça os Pais e os Professores, o que não quer dizer forçosamente que tenha que ouvir os sindicatos. (Manterei esta opinião até ver os sindicatos defenderem outra coisa que não sejam direitos, sem se pronunciarem sobre deveres). Mesmo no caso dos Pais, desconfie dos dirigentes de Associações de Pais "profissionais". (A maior parte das vezes estão mais interessados no facilitismo do que na Educação dos seus filhos e educandos).
Quando remodelar (porque um dia lá terá que ser…) aqueles órgãos intermédios, que, muitas vezes, só andam a empatar-se uns aos outros, não "devolva" os técnicos que os constituem à Escola. Deveria dar-lhes possibilidade de escolherem se querem mesmo voltar. A Senhora Ministro sabe muito bem que muitos deles se transformaram nisso porque não gostavam de ser professores.
Assim, aqueles que demonstrassem não ter, de facto, perfil para educar, para formar, poderiam ganhar o mesmo e ficar numa espécie de limbo, a fazer umas coisas que têm que ser feitas e ocupam pessoas mais válidas. Por exemplo, fazer as estatísticas, confirmar os dados dos concursos dos professores, etc….
Dos programas do ensino pré-primário faria obrigatoriamente parte a aprendizagem de regras simples como cumprimentar, responder ao cumprimento, agradecer, pedir por favor, sentar-se quando a tarefa assim o exigir, partilhar e ser feliz.
A regra acima obriga a fazer um exame aos educadores para verificar até que ponto estão aptos e dispostos a fazer cumprir o programa definido, mas obrigatoriamente com Amor e Alegria. Nesse caso, seja exigente, porque estes são os verdadeiros alicerces. E como a oferta é maior (pelo menos, parece) do que a procura, quem não servir que vá fazer outra coisa.
Mande avaliar as Escolas Superiores de Educação. Quantos dos seus mestres já estiveram em situação normal de aula de crianças com que vão trabalhar os seus pupilos?
Pense em impor uma regra derivada da situação acima: todos os professores de professores deveriam dar aulas um ano nos níveis para que preparam os futuros professores. Para que não se repita aquela anedota “tu não sabes e eu já me esqueci”.
Quando os pais fecharem as escolas a cadeado, faça cumprir a lei, pois julgo que se incorre em duas faltas: actuação abusiva sobre bens do Estado e impedimento do exercício das acções para educar, que são obrigatórias até ao fim do 3º ciclo, pelo menos por agora.
Aliás, não se preocupe muito com estas acções ou com as greves. Preocupe-se com o que lhes está na origem e, se houver fundamento, seja Grande e corrija os erros. Não há nada que se pague mais caro do que erros em Educação e a prova está aí à frente de quem quiser ver.
Não permita que haja pessoas a “ensinar” que digam "há-des", "tu fizestes" ou "póssamos" e que não gostem de ler. Nem de sorrir.
Senhora Ministra, não quero abusar do seu tempo, mas ainda tenho mais no meu baú de Avó. À disposição de V. Exa. despeço-me com os mais respeitosos cumprimentos, Maria do Carmo Cruz
PS. Desculpe não levar imagem mas estou com uns problemazitos...
segunda-feira, 12 de maio de 2008
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