sexta-feira, 16 de maio de 2008

FÁBULA COM CARAPUÇA

Amigos, vou partilhar convosco o relatório de uma visita de estudo


Uma fábula com carapuça, para quem o não saiba, é aquela cuja moralidade serve na cabeça de alguém. Dada esta explicação prévia, vamos à fábula:
Era uma vez uma Escola cujos pedagogos decidiram levar os seus discípulos à cidade de Atenas, à Assembleia, para que os jovens aprendessem, pelo exemplo, com os que discutem os superiores interesses do Povo. Como parecia uma missão altamente nobre, (os objectivos que se perseguiam eram os de acordar os jovens para a importância da Cidadania e os deveres dos eleitos perante os eleitores), enviaram arautos à frente. Era sua missão pedir autorização para assistir a tão importante acontecimento e, ainda, sensibilizar tão insigne instituição, na pessoa dos seus membros, para o facto de, a assistir aos seus trabalhos, estarem jovens numa idade altamente mimética.
Chegou, finalmente, o dia em que, após longa viagem, para alguns até penosa, pedagogos e discípulos se dirigiram à Assembleia. Estes estavam conscientes da transcendência do acontecimento: sabiam, a exemplo do que lhes era ensinado na Escola, da necessidade de uma postura respeitosa, da obrigação de um silêncio absoluto. Mais: embora todos tivessem ido munidos de uns curiosos instrumentos que lhes permitiam falar com qualquer pessoa em qualquer lado, (os Gregos, eram, de facto, muito inteligentes...), tinham facilmente abdicado deles, dado que era proibido utilizá-los no recinto. Era fácil provar, sem margem para dúvidas, que os tais aparelhos perturbavam os que ouviam os oradores. E os jovens sabiam que era uma falta de respeito falar enquanto outros tratavam de assuntos de relevo e de interesse geral.
À hora determinada, pedagogos e discípulos estavam à porta da Assembleia, confiantes em ir assistir a algo de memorável. O que, de facto, aconteceu. Infelizmente, não no sentido esperado.
Para grande espanto dos jovens, muitos membros da Assembleia estavam ausentes. Outros, chegaram atrasados. Parecia que, de manhã, a discussão se tinha arrastado, atrasando o almoço. Chegavam, uns atrás dos outros, aos pares e aos trios, falando com desembaraço, assinavam o livro de ponto diligentemente e… E depois, alguns saíam outra vez após escassos minutos, outros conversavam com os vizinhos sem prestar a mínima atenção aos oradores, passeavam por entre as filas de cadeiras, parando aqui e ali, outros desapertavam um tanto a toga para, mais à vontade, dormitarem na segurança das últimas filas e, finalmente, muitos, mas muitos mesmo, comunicavam com o exterior por meio de instrumentos iguais aos que os discípulos tinham obedientemente deixado nas antecâmaras. Os jovens assistiam a tudo de boca aberta, perante a aflição dos seus pedagogos e do chefe do hemiciclo que olhava ora para os seus subordinados ora para os assistentes nas galerias. Após cerca de duas horas, praticamente ocupadas com assuntos de antes da ordem de trabalhos, numa discussão sem garra nem glória, pedagogos e discípulos retiraram-se, desiludidos.
Os pedagogos suspiravam entre si: “E foi para isto que viemos de tão longe? Valia mais eles ficarem só com os nossos exemplos”.

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência nem acaso...