Todas as histórias felizes começam assim. Era uma vez…
Era uma vez uma menina que queria ser professora. Não tinha uma fada-madrinha, nem lhe faltavam trabalhos que a empurravam do caminho e ela via a Escola cada vez mais longe. Então, alguém se apiedou dela e a ensinou a usar uns truques e a menina voltou à Escola. Como demorou muito tempo a voltar, quando, de facto, voltou, já era quase uma senhora e, para abreviar, um dia encontrou um Príncipe encantado que andava transformado em Homem Bom, casaram-se, tiveram três filhos e foram felizes. Não para sempre, porque ambos sabiam que não existe Sempre. Bem, mas esta é só a introdução da História.
O Homem Bom mudou de curso, tirou outro, porque também gostava de ser professor e os dois trabalharam, anos e anos, nas mesmas escolas. Ele ensinava Geografia e ela ensinava Inglês e Técnicas de Tradução. Esta menina tinha muitas manias sobre ser professora e uma delas era que aquilo que se aprendia tinha que estar muito ligado à vida fora da Escola, porque senão parecia-lhe (a ela, e ela não queria que também parecesse aos seus Alunos) que a Escola e a Vida não tinham nada a ver uma com a outra.
Uma das suas manias era, por exemplo, não fazer os exercícios estereotipados, a não ser para Inglês ver… Um belo dia, andava ela e as suas duas turmas a dar “A Publicidade” e a discutir como a linguagem publicitária é tão sui generis que é quase impossível traduzi-la apenas directamente de uma língua para outra e decidiu a professora que o teste seria o seguinte: “Nesta folha de papel, concebe um slogan para um produto (tarefa 1) e cria um anúncio para esse mesmo produto, tendo em conta o canal de divulgação que vais usar (tarefa 2). Dá as instruções para construir o anúncio (tarefa 3). Podes criar uma marca ou um produto ou trabalhar sobre material já existente. Em inglês, claro!”
Apesar de tantas vezes ela dizer que pensar numa língua é mais fácil do que traduzir, quase toda a gente fez rascunho. E vou copiar para os que me lerem, o que uma aluna escreveu como rascunho, de que essa menina se assenhorou, para guardar como recordação:
Item: My teacher
Slogan: If you want to succeed, buy her!
E agora o rascunho:
“A TV Shop apresenta uma Professora de Técnicas de Tradução bastante útil. Esta maravilhosa Professora, além de vestir lindamente, é fácil de entreter: basta ter um livro para ler. Para além de ser uma óptima Professora de Inglês e de Técnicas, tem uma cultura geral que daria para fazer uma enciclopédia: ideal para ajudar os seus filhos a fazerem os trabalhos de casa, ficando você com muito mais tempo livre.
Como se não bastasse, tem invejáveis dotes culinários e até sabe fazer profiteroles! Para poder adquirir esta maravilha ligue já, pois este “produto” não se encontra à venda em lojas. Para a primeira pessoa que ligar oferecemos um Professor de Geografia, porque não funcionam um sem o outro. Ligue já para o 0641-366036. É uma oportunidade única!”
E olhem que, em Inglês, o “produto” também estava bem apresentado!
Há Professoras felizes, pois não há?!
quinta-feira, 1 de maio de 2008
As minhas cabeleireiras particulares
Lembram-se de "Os deuses devem estar loucos"? Aquela loura era feia aos olhos do Bosquímane que queria deitar ao mar a oferenda dos deuses. Pois estas minhas queridas, com cara de amuadas porque a mãezinha vinha embora, estavam a embelezar-me, fazendo aquelas suas minúsculas trancinhas. Meninas da Casa Mãe Clara, Maputo, Moçambique
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Um recado à senhora Ministra sobre a diferença entre Dinheiro e Valor
No Público de ontem, fiquei muito preocupada depois de ler a página 8: toda ela era dedicada ao custo de um aluno chumbado! Que desperdício! E se o aluno chumba três anos e sai do sistema? Uma despesa sem retorno! Dramático! Afinal, o problema pode ser evitado: basta a identificação precoce das dificuldades! A Finlândia já tem o remédio: "A Finlândia recorre a um conjunto de intervenções formais e informais para ajudar quem está a ficar para trás na Escola", dizem os peritos da OCDE, “e os chumbos são absolutamente residuias”.
Hoje, dia 1 de Maio, página 9, mesmo jornal, a nossa Ministra pede "trabalho precoce" às escolas. Pois claro, senhora Ministra, tem todo o meu apoio. Porque sei que a Senhora vai, imediatamente, talvez na próxima segunda-feira, implementar uma medida importante: vai, para começar e por ser um território mais conhecido, colocar umas boas dezenas de milhares de Professores desempregados para ajudar quem está a ficar para trás. Sim, porque o remédio só pode ser esse: não se pode ajudar quem está a ficar para trás sem deixar para trás os que vão em frente (repare que estou a ter cuidado com as preposições!). O combate tem que ser da Escola, diz V. Exa. E muito bem. Mas à Escola o que é da Escola. Os meninos e as meninas não nascem na Escola. Quando lá chegam trazem já uns anos de vida. Que, normalmente, fazem toda a diferença, sabe?
Que tal começarmos o combate muito antes? É difícil, mas poderíamos tentar imitar aquele ministro que, nos idos de 60 do século passado, dizia: "O difícil faz-se já. O impossível é que demora um pouco mais", isto citando de memória. Pois é, talvez tenhamos que começar o combate em casa. Como? Disem que as perguntas são sempre fáceis, as respostas é que são difíceis. Vejamos:
Com tempo para os filhos. Como?
Com comida no prato. Como?
Com o apreço pelo trabalho. Como?
Com exemplos de civismo. Como?
Com uma nova filosofia de ter e de ser. Como?
Senhora Ministra, não vou continuar. Seria, indelicadamente, estar a ensinar o Padre-Nosso ao vigário, mutatis mutandis. A Educação não tem preço. Tem Valor. A Senhora vai avaliar os Professores. Acho bem. Eles vão ter de fazer um exame de entrada. Não acho mal. Mas a avaliação mais precoce para ter em conta as dificuldades futuras seria através de um exame de entrada, também, dos Alunos, só para saber:
Quantos sabem o que é o carinho de um pequeno-almoço sentados a uma mesa.
Para saber quantos trouxeram um abraço ou um beijo.
Quantos sabem o que é serem queridos.
Quantos é que não trazem carimbo: "burro", "atrasado", "chato", para só falar dos mais comuns.
Quantos, antes e depois da Escola, têm que dar remédios a Avós, leite a irmãos mais pequenos, adiantar o jantar.
Quantos sabem sentar-se.
Quantos sabem que terão sempre vez e não precisam de a "roubar" a ninguém.
Quantos já viram o Pai ou a Mãe a baterem um no outro.
Quantos serviram de saco de areia para descarregar as frustrações dos pais.
Quantos têm jantar.
Quantos têm cama, com colchão e cobertor no Inverno.
Quantos só têm a Escola para se afirmar.
Senhora Ministra, nós não somos a Finlândia e nem sei de nenhuma instituição fidedigna que lhe tivesse passado um atestado válido de qualidade para irmos atrás. Nós somos nós, Portugueses, e as nossas crianças não vivem, a maior parte delas, os padrões e níveis de vida finlandeses, dizem-nos os jornais, as revistas, os estudos. As nossas crianças não vão ficar frustradas se reprovarem (lá disse eu a palavra proibida!). Não elas, só se alguém lhes inculcar essa ideia. Elas serão frustradas e infelizes se passarem sem saber, porque estarão sempre na cauda do pelotão. Se V. Exa. insiste em que façamos o trabalho precoce, siga o meu conselho. É a única coisa que é de graça, sabe? Não há, definitivamente, "almoços grátis".
Tenha um bom Dia do Trabalhador.
Maria do Carmo Cruz
Hoje, dia 1 de Maio, página 9, mesmo jornal, a nossa Ministra pede "trabalho precoce" às escolas. Pois claro, senhora Ministra, tem todo o meu apoio. Porque sei que a Senhora vai, imediatamente, talvez na próxima segunda-feira, implementar uma medida importante: vai, para começar e por ser um território mais conhecido, colocar umas boas dezenas de milhares de Professores desempregados para ajudar quem está a ficar para trás. Sim, porque o remédio só pode ser esse: não se pode ajudar quem está a ficar para trás sem deixar para trás os que vão em frente (repare que estou a ter cuidado com as preposições!). O combate tem que ser da Escola, diz V. Exa. E muito bem. Mas à Escola o que é da Escola. Os meninos e as meninas não nascem na Escola. Quando lá chegam trazem já uns anos de vida. Que, normalmente, fazem toda a diferença, sabe?
Que tal começarmos o combate muito antes? É difícil, mas poderíamos tentar imitar aquele ministro que, nos idos de 60 do século passado, dizia: "O difícil faz-se já. O impossível é que demora um pouco mais", isto citando de memória. Pois é, talvez tenhamos que começar o combate em casa. Como? Disem que as perguntas são sempre fáceis, as respostas é que são difíceis. Vejamos:
Com tempo para os filhos. Como?
Com comida no prato. Como?
Com o apreço pelo trabalho. Como?
Com exemplos de civismo. Como?
Com uma nova filosofia de ter e de ser. Como?
Senhora Ministra, não vou continuar. Seria, indelicadamente, estar a ensinar o Padre-Nosso ao vigário, mutatis mutandis. A Educação não tem preço. Tem Valor. A Senhora vai avaliar os Professores. Acho bem. Eles vão ter de fazer um exame de entrada. Não acho mal. Mas a avaliação mais precoce para ter em conta as dificuldades futuras seria através de um exame de entrada, também, dos Alunos, só para saber:
Quantos sabem o que é o carinho de um pequeno-almoço sentados a uma mesa.
Para saber quantos trouxeram um abraço ou um beijo.
Quantos sabem o que é serem queridos.
Quantos é que não trazem carimbo: "burro", "atrasado", "chato", para só falar dos mais comuns.
Quantos, antes e depois da Escola, têm que dar remédios a Avós, leite a irmãos mais pequenos, adiantar o jantar.
Quantos sabem sentar-se.
Quantos sabem que terão sempre vez e não precisam de a "roubar" a ninguém.
Quantos já viram o Pai ou a Mãe a baterem um no outro.
Quantos serviram de saco de areia para descarregar as frustrações dos pais.
Quantos têm jantar.
Quantos têm cama, com colchão e cobertor no Inverno.
Quantos só têm a Escola para se afirmar.
Senhora Ministra, nós não somos a Finlândia e nem sei de nenhuma instituição fidedigna que lhe tivesse passado um atestado válido de qualidade para irmos atrás. Nós somos nós, Portugueses, e as nossas crianças não vivem, a maior parte delas, os padrões e níveis de vida finlandeses, dizem-nos os jornais, as revistas, os estudos. As nossas crianças não vão ficar frustradas se reprovarem (lá disse eu a palavra proibida!). Não elas, só se alguém lhes inculcar essa ideia. Elas serão frustradas e infelizes se passarem sem saber, porque estarão sempre na cauda do pelotão. Se V. Exa. insiste em que façamos o trabalho precoce, siga o meu conselho. É a única coisa que é de graça, sabe? Não há, definitivamente, "almoços grátis".
Tenha um bom Dia do Trabalhador.
Maria do Carmo Cruz
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Futuros e condicionais
A Língua Portuguesa é mais do que a minha Pátria: é o meu orgulho! É bela, é cantante, é rica, é volúvel. A Língua Portuguesa é Mulher! Por isso tudo, que nada é, e pelo não dito, fico muito triste quando vejo as maldades que lhe fazem. Fico arrepiada quando vejo "concerteza", porque nunca vi ninguém escrever "semcerteza". Fico furiosa quando separam o sujeito e o predicado um do outro com uma vírgula. Fico com pena, garanto, quando se esquecem de que antes do vocativo ela, a vírgula, também é precisa. E passo a vida a limpar as lágrimas das preposições esquecidas, retiradas de junto dos seus verbos queridos. Ai, As coisas de que eu gosto na minha Língua! Mas, repito, não gosto nada daquilo que lhe fazemos como falantes e como Povo. Já repararam que não usamos o futuro? Parece que queremos o futuro, aqui, já, sem trabalho nem construção e dizemos "amanhã vou à Praça da Liberdade". E também, por preguiça, por ignorância, deixámos há muito de usar o condicional (que eu recuso-me a chamar-lhe outro nome). Vamos contra toda a lógica gramatical e dizemos (eu não digo, por teimosia): "Se me saísse o Euromilhões comprava uma casa em Espanha."
Comprava? Mas "comprava" não é pretérito imperfeito? E não me venha para cá a Dra. Edite Estrela falar no condicional de politesse, como a ouvi dizer, uma vez, num programa televisivo!
Depois, de vez em quando, mudam as designações. E nem sequer estou a falar do famoso TLEBS! Bem, mas na prática, o que me incomoda é que os nossos alunos aprendem línguas. Em que se usa o futuro e o condicional. Há funções da linguagem, em inglês, por exemplo, que exigem o futuro: "I'll love you forever!" (Gosto de coisas positivas...) e outras que exigem o condicional: "Would you like going to te beach?"
Estes exemplos são minimalistas se nos lembrarmos das situações em que deveríamos usar o futuro e o condicional e são o fazemos.
Será que, pessimisticamente, poderei dizer que o Português não tem Futuro e que, mesmo assim, não aceita condições?...
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