segunda-feira, 21 de julho de 2008

O que a gente não sabe, o que sabe e o que julga que sabe



D. Teresa, condessa do Condado Portucalense

Ultimamente tenho dado vazão ao vício e tenho lido que nem uma desalmada. Imobilidade oblige. Não me tem apetecido ler romances, narrativas, o que às vezes até me parece impossível, porque adoro uma boa história. Não sei que me deu, ando muito de volta da História, nossa e dos outros. E por causa disso, tenho tido necessidade de rever umas poucas de "verdades" que eu tinha como imutáveis, irrefutáveis e estáveis, além de outros adjectivos que rimam com estes...

Ora vamos lá falar de algumas: achei que Charles Lindbergh era um autêntico herói, até que li "A Conspiração contra a América" e quase chorei por mim: era nazi, impenitente até ao fim, tudo fez para que o seu país se aliasse a Hitler.

Tinha uma admiração extrema por Churchill, achava que Lawrence da Arábia era um Herói a sério, daqueles aventureiros que parecem trazer um Anjo da Guarda imenso a livrá-los de todas as ciladas e um Conselheiro de outro Universo a dizer-lhe o que e como há-de fazer. Pois. Estou a ler "A Loucura de Churchill" e a perceber como nasceu o Iraque, como se pega em povos e nações e se faz um redil para os pôr lá, como se de carneiros se tratasse, e como nós estamos a pagar a conta.

Imaginava, pobre de mim, que Calouste Gulbenkian se tinha apaixonado por Portugal, tão rústico e pobrezinho, e por isso cá tinha deixado a sua imensa fortuna, com a gratidão do Dr. Oliveira Salazar e nem vos digo onde descobri que as coisas não são como se pintam, que o senhor mudou de nacionalidade várias vezes, chegou a ter mais do que uma, umas vezes comprava-as, outras vezes tiravam-lhas, enfim Rocambole no seu melhor, com o petróleo e ele a jogarem às escondidas e aos cinco cantinhos.

Comecei a ler "D. Teresa, a primeira rainha de Portugal", de Marsilio Cassotti, e este senhor está a provar-me por A mais B que a mãe de D. Afonso Henriques nem era devassa nem queria roubar o filho. Era, pelo contrário, uma mulher inteligente, com uma estratégia assombrosa para o seu tempo, que nunca se deixou diminuir por ser filha fora de casamento e nem autorizou a irmã, princesa real, (agora têm que desculpar o vernaculismo em coisa tão séria...) " a passar-lhe a perna".

A batalha de S. Mamede não teria sido bem assim como nos têm contado e não há provas de que a pobre, viúva cedo, tenha tido qualquer caso amoroso com o conde Fernão Peres de Trava. Ah, e pelo caminho, ainda me provam que D. Afonso Henriques não teve Egas Moniz como aio!

Bem, eu sei que são autoridades na matéria, mas já repararam que agora tenho que reformatar a minha História? A obra "1808" também me fez mudar de ideias sobre D. João VI, e para melhor, graças a Deus. "A Primeira Aldeia Global", afinal criação portuguesa, também me fez aumentar a auto-estima nacional e "Este País que nos pariu" provou que nem todos os filhos são ingratos... Mas vamos ver o que vou a ficar a não saber quando acabar de ler a minha colheita de férias...