terça-feira, 20 de maio de 2008

Carta ao Menino Jesus ... aos soluços (2º Soluço)

O que precisamos de Ti, de Ti que conheces os nossos mais íntimos pensamentos, que tens contados até os cabelos da nossa cabeça, que nos perdoas ainda antes de termos pecado, tão grande é o Teu Amor, é explicar-nos que o Amor é algo tão belo e tão perfeito que não se pode avaliar com dinheiro. Aliás, não há dinheiro que compre o Amor. Mas seria o Amor pela coisa pública que nos daria bons e verdadeiros políticos e governantes e não esta gentinha que só pensa em si própria. E nem a si ama, ou pelo menos é o que parece pelas figuras tristes que fazem, pelo ridículo a que se prestam. Dá-nos, pois, bons governantes. O Amor terminaria com a solidão dos velhos, pobres e doentes. O Amor não permitiria que se fizesse humor com o sofrimento e a deficiência. O Amor evitaria que fosse preciso haver Casas Pias ou Casa do Gaiato. O Amor acabaria com palavras como “guerra” e “fome”.
O Amor pela Verdade não poria o Natal a começar em Outubro, como se tivesses sido um impaciente prematuro. Porque nasces inteiro todos os dias, sempre que nós agimos como Tu o farias. Bem, mas agora, em Teu nome, ainda fico mais ofendida quando querem fazer de Ti um prematuro. É que, por estes tempos, até os verdadeiros prematuros terão vergonha de o ser. Para ninguém pensar que eles também fazem parte de uma famosa metáfora. Além disso, também te matam antes do tempo. Até a Páscoa, a Passagem da Tua vida terrena, através da Morte, para a Ressurreição, qualquer dia estamos a vender ao quilo, como amêndoas e pão-de-ló e ainda mais os ovos de chocolate, porque somos muito bons a aprender coisinhas assim, que não interessam “nem ao Menino Jesus”, como a gente diz, invocando o Teu nome em vão.
Senhor, faz-nos aprender o valor do Tempo, a usar o Tempo, a dar Tempo ao Tempo. É uma das maiores graças que nos podes dar. Jesus, Tu que discutias com tanto tino e profundidade aos 12 anos, com os estupefactos doutores da Lei, não tens à mão um pouco de sensatez para distribuir pelos nossos doutores de agora, de leis e de outras coisas? A sensatez também é uma forma de Amor, muito necessária em outras circunstâncias. Por exemplo: já viste como é que os portugueses estão endividados? E como continuam a endividar-se alegremente? E não achas, Senhor, uma traição social que os senhores do dinheiro recorram a tantas formas sedutoras para tentarem os pobres portugueses, levando-os a querer mais e sempre mais?
Agora, um aspecto melindroso. Nem sei bem como Te hei-de falar disto. Bem, o melhor é ir a direito e dizer claramente a que me quero referir: a sexualidade. Meu Jesus, a questão põe-se e só queria pedir-Te que pusesses um pouquinho de pudor na cabeça das pessoas. Não confundas, por favor, este pedido com qualquer intenção, da minha parte, de estar do lado dos que defendem “vícios privados, públicas virtudes”. Sei quanto abominas a hipocrisia, talvez o pecado que mais Te magoe. Mas, Senhor, um pouco mais de vergonha, menos exibicionismo, mais castidade verdadeira, tudo isso deveria, certamente, transformar-se num Amor mais amplo, que a todos envolveria sem ninguém excluir. E protege os pequeninos, Senhor, porque parece não haver quem os guarde nem ensine para o verdadeiro afecto.
(Agora, imagina, é alguém que diz que precisa de me falar em particular. Já marcou duas vezes hora e duas vezes faltou, mas não é preciso perdoar setenta vezes sete?)

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