domingo, 25 de maio de 2008

Deixem-me falar de Amor



Fala-se tanto de amor! Sim, de amor, assim, com letra pequena, porque não vale nada.
É uma palavra gasta, velha, desperdiçada. No entanto, na minha opinião, para crentes e ateus, para todos os Homens e Mulheres, só o Amor pode servir de padrão de Vida, porque ele tudo ensina, tudo conduz, tudo enforma, para tornar o nosso tempo neste mundo digno de ser vivido.
S. Paulo sabe que eu o acho um tanto pragmático, ter-lhe-ia feito bem talvez ter vivido um Amor terreno para lhe dar mais um pouco de aceitação do que somos, mas tem páginas admiráveis e a famosa Epístola aos Coríntios é um dos meus textos de eleição. Comemorámos, o meu Marido e eu, o nosso 40º aniversário de casamento no dia 3 de Maio de 2003. Ao princípio, ele achou ridículo: ninguém comemora, com uma festa aberta a convidados, 40 anos de casamento! Mas nessa tarde, na Missa celebrada especialmente para o efeito, ele leu a Epístola aos Coríntios (eu tinha pedido licença para tal, visto que não era a do dia) e depois – espanto dos espantos – quem fez a homilia fui eu. Porque eu queria que toda a gente soubesse que aquele Homem me tinha amado, a mim, com todas as minhas imperfeições, daquela maneira. Porque eu tive Pai e Mãe, mas quem me ajudou a crescer e a ser o que sou, foi o meu Marido, o Pai dos meus Filhos. E que me aconselha e ajuda ainda hoje. Se eu o quiser ouvir…
Daí a 23 dias, no dia 26 de Maio, faz, portanto, amanhã 5 anos, morreu como merecia, em paz e suavemente, durante a sua querida e imprescindível sesta da tarde. Nunca soube definir, até hoje, se devia agradecer ou zangar-me por não se ter despedido de mim. Eu não estava em casa. Então, para quem a não tiver à mão de ler, aqui vai a Epístola:

Ainda que eu fale as línguas dos homens
e dos anjos, se não tiver Amor,
serei como o bronze que soa
ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o Dom de profetizar
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto
de transportar montanhas,
se não tiver Amor, nada serei.

E ainda que eu distribua todos
os meus bens entre os pobres
e ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado,
se não tiver Amor,
nada disso me aproveitará.

O Amor é paciente, é benigno,
o Amor não arde em ciúmes,
não se ufana, não se ensoberbece,
não se conduz inconvenientemente,
não procura os seus interesses,
não se exaspera,
não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.
tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta.

O Amor jamais acaba.
Mas, havendo profecias, desaparecerão;
havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará.
Porque em parte conhecemos,
e em parte profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito,
o que então o é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino,
falava como um menino,
sentia como um menino.
Quando cheguei a ser homem,
desisti das coisas próprias de menino.
Porque agora vemos como em espelho,
obscuramente, e então veremos face a face;
agora conheço em parte e então,
conhecerei como sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a Fé,
a Esperança e o Amor.
Estes três.
Porém, o maior deles é o Amor.”

Alguns séculos mais tarde, Santo Agostinho escreveria: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.”

2 comentários:

Raul Martins disse...

Carmo, só um beijinho e mais nada. Para ler, meditar e interiorizar. E ainda diz que eu e o CCZ deveríamos fazer homilías!
E confortam-me as palavras da litúrgia de hoje: "Olhem os lírios do campo..."
Carpe diem!

Anabela Magalhães disse...

Subscrevo as palavras do Raul.
"Para ler, meditar e interiorizar."