sábado, 3 de maio de 2008

PUDOR

Há um sentimento que se chama PUDOR. Esta palavra tem sofrido umas mudanças ao longo da História mas para mim continua a ser muito importante. Não estou preocupada, quando falo em Pudor, com a muita ou pouca roupa que as pessoas põem a cobrir o corpo. É secundário. O Pudor que me interessa é outro. Hoje fui cumprir o meu fado de compradora compulsiva de livros à FNAC e, lá bem à vista, estava com o seu ainda erro de ortografia, uma obra de que o Prof. Malaca Casteleiro é co-autor. Lembrei-me de como o barco do Poema de António Nobre era tão bonito com o seu erro de ortografia, mas aquele ATUAL, designação principal da obra, chocou-me. Não achei bonito. Que me desculpe o Professor e o seu co-autor, mas além da falta do c senti falta de Pudor. O senhor tem andado há anos embrenhado nos meandros do Acordo Ortográfico. Que não vou discutir aqui, porque não tem discussão. Não é a ortografia que separa o nosso Português da língua que se fala no Brasil. Mas como já sei que outros valores menos altos se alevantam e chegam onde querem, dispenso-me de esgrimir evidências e reservo as minhas energias para tentar falar bem o meu Português.
Mas, sinceramente, não gostei da sua atitude. Acha bem? Faça um exame de consciência: sente-se tranquilo, à vontade? Não luta um pouco consigo mesmo, à noite, quando se deita? Quem me coíbe de pensar que a sua tão intensa defesa do Acordo tem como um dos objectivos a venda do seu livro? O pensamento é livre, não é verdade?
Um dia destes, ou antes, uma noite destas, num dos debates por causa da liderança do PSD (vivi tantos anos sem saber o que era liderança! E depois, um dia, começam a dizer-me que tenho espírito de liderança e que isso era bom, blá, bla…), ouvi alguém dizer que “era uma certa falta de pudor o candidato X ter (ou ir ter) como mandatário Y”. O capital crime parecia ser a circunstância de Y ser filho de W, que tinha deixado o lugar a que X agora aspirava… Parecia que X estava a pedir batatinhas a W, se me entende…
Pois olhe, hoje, ao olhar para o ATUAL, senti que havia ali muito mais razão para sentir Pudor do que no caso de quem era pai do mandatário Y!
Não gosto de ser injusta (sou Balança, sabe?) nem lhe estou a pedir explicações. Aliás, tenho a certeza de que esta minha reflexão não se vai encontrar no seu caminho. Mas julgo que ainda tenho o direito de pensar. Sabe, eu não seria capaz de fazer uma coisa dessas. A única coisa que lhe serve de atenuante é que se identificou. Porque muitos fazem o mesmo mas escondem-se por detrás de outro nome.
Só mais uma coisita: um Professor ainda deveria ter mais Pudor e não fazer estas coisas.
Sem ofensa.

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