Pois é. Agora que o Natal aí vem, porque não tarda nada que as montras se encham de coisas que pretendem ser símbolos, que os anúncios se dirijam ao “espírito natalício”, que os pequenos comecem a pensar numa nova playstation, vou contar uma pequena história que me chegou aos olhos via Internet.
A minha conhecida presunção leva-me, até, a crer que a sua divulgação é um acto social...
Mike, como lhe chamam na Internet, passava a época do Natal de cenho franzido, incomodado com o seu aspecto comercial. Parecia que o Natal o irritava e a esposa encarava a tarefa de arranjar um presente para ele com a maior preocupação. Ora uma vez, quando o seu filho mais velho tinha doze anos, participou num campeonato escolar de luta livre em que a sua escola defrontava uma escola pobre das redondezas. O filho de Mike e os seus colegas, devidamente equipados, venceram com relativa facilidade aqueles meninos voluntariosos, alguns até muito bons, mas que competiam vestidos com as suas próprias T-shirts e com sapatilhas tão velhas que mal se seguravam nos pés.
A mulher reparou que Mike felicitou o filho com pouco entusiasmo e, a sós com ela, deixou escapar: "Gostava que ao menos um daqueles garotos tivesse ganho a sua partida. Alguns são mesmo bons, mas vão ficar desmoralizados. E ninguém sabe o que pode nascer dessa desmoralização". Isto passou-se a meio do primeiro período lectivo, meados de Novembro, e a mulher de Mike teve uma inspiração: logo que pôde, foi a uma loja de artigos desportivos e comprou camisolas e sapatilhas que mandou entregar naquela escola, para os alunos da classe de luta livre. Trouxe a factura, anexou-lhe uma cópia da carta que enviou com os presentes para a direcção da Escola, meteu tudo num sobrescrito e guardou. No dia de Natal, quando entregava as prendas à família, pegou no sobrescrito e deu-o ao marido, dizendo-lhe: "Toma, aqui tens o meu presente de Natal". Ele abriu, intrigado e ainda de cenho franzido, pelo que o sorriso largo e feliz que se lhe seguiu até aos próprios filhos espantou. Pedindo aos meus leitores que preencham os pormenores que se terão seguido, o que é muito mais interessante do que quer que seja que eu escreva, julgo que adivinham que, daí em diante, o presente de Mike deixou de ser um problema para a esposa: no ano seguinte comprou bilhetes e transporte para que crianças diminuídas mentais pudessem ir ver um jogo importante de baseball. Depois, enviou um donativo para dois irmãos que perderam a casa num incêndio na semana anterior ao Natal. O ponto alto da quadra era o mistério do que estaria dentro do sobrescrito de Mike. Os seus três próprios filhos ficavam tão suspensos do que seria, que pediam ao pai que o abrisse ainda antes de eles abrirem os seus próprios embrulhos.
De acordo com a história, Mike morreu no princípio de 2003 e a viúva hesitava se deveria ou não prosseguir com a tradição. Depois de pensar um pouco, decidiu continuar a ajudar alguém como um presente para Mike e, no Natal, junto dos presentes para os filhos e suas famílias, depositou o sobrescrito habitual. Os filhos, já de família constituída, chegaram e cada um deles, sem ter falado com os outros, trazia também um sobrescrito para Mike. Cada um com algo feito para outros que mais precisavam, em memória do pai.
Se, nesta altura da leitura, alguém começar a abanar a cabeça e a dizer que isto é treta, desengane-se: há mais exemplos destes do que aquilo que se sabe e quantos mais houver, melhor. Por mim e para já, entre outras coisas, adaptei o procedimento à família. O ano passado, sabendo que um dos meus filhos andava preocupado porque não sabia o que me havia de oferecer no aniversário, peguei o problema de caras e disse-lhe que uma coisa que me daria muito jeito seria arranjar a luz da cozinha (ele é muito jeitoso de mãos). Ofereceu-me e colocou uma luz "decente", como ele diz. Como estou quase a fazer anos outra vez, ontem, olhando para o tecto, disse-me: "Agora, com esta luz, é que se vê como o tecto precisa de pintura". Resposta minha: "Fica para o Natal".
Basta-me comprar a tinta... e em Dezembro terei, se Deus quiser, a minha cozinha pintada de novo, como presente. Quem é que disse que, afinal, o Natal não pode ser todos os dias?
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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7 comentários:
Entao, temos a nossa querida avó pirueta, de volta com lindas histórias! Uma surpresa e uma grande alegria para todos nós.
Saudacoes outonais de D´dorf!
Eu também acho esta história linda! E só mesmo no teu Blog é que eu acreditaria numa história assim. Geralmente enviam histórias do mesmo tipo por mail , E uma pessoa desconfia, duvida, e muitas vezes nem lê e deita para o caixote lixo.
E com a avó pirueta a escrever aqui no blog umas histórias tão giras , já estamos a antecipar o nosso natal, com este conto de natal em Setembro. Beijo Luis
Começo por me apresentar: sou uma nova aquisição da Tribo dos Afectos e ando a visitar e conhecer os blogs que fazem parte da tribo e que não conhecia.
Fiquei muito emocionada com este texto, sobretudo por ver que depois de morrer, todos continuaram a cumprir com atradição do Mike.
Daria um belo conto de Natal.
Beijinhos Tribais
A minha @mail pars ti foi-me devolvida. Com o ccz funciona. Ele podia dar-te a minha @mail.
ERRO DE E-MAIL
POR FAVOR VERIFIQUE O CONTACTO
DESEJADO..........................................
On Wed, Sep 24, 2008 at 5:44 PM, teresa wrote:
Minha querida Carmo:
Depois de uma luta longa com a Vodafone e a Arcor, resolvi aceitar um novo endereco.
Um novo endereco nao é o problema, mas perdi todos os enderecos-@mail que estavam lá registados.
Hoje descobri que escreves outra vez no blogue. Que bom.
Um abraco amigo e outonal!
Avó já li a história e gostei muito, não sei se foi lá buscar o poema, quando quiser é só carregar no botão, não fica longe.
Beijinhos cheios de uma coisa de que todos precisamos "força"para um novo ano.
Cheguei ontem do meu Alentejo, apesar do Outono o seu estava estrelado, só não vi nenhuma estrela cadente.
PS. PASSE LÁ PELO MENOS PARA LER A HISTÓRIA, QUANDO PODER.
Pelo menos a solidariedade pode ser todo o ano e o natal é de solidariedade e amor que fala
Concordo com você geocrusoé: precisamos mais de solidariedade e amor ao próximo do que presentes caros impostos pela sociedade de consumo.
Denise
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