Vou responder aqui aos Amigos e Leitores que fizeram o favor de ler e comentar o poste do dia 27.
Primeiro: estamos todos de acordo em que a avaliação que existia não era nada, era menos que nada, permitia a consagração da fachada, da funcionalização. Quantos professores eram avaliados com o raríssimo "Não Satisfaz"? E quantos documentos apresentados nos relatórios eram consabidamente falsos? Quantos relatórios eram copiados a partir de outros?
É claro que concordo que há mais Professores que professores, mas o prejuízo causado por um só professor pode ofuscar, diminuir, impedir, sabotar, o trabalho de 10 Professores.Sou pela Avaliação, sim! Eu própria, ao atingir o 10º escalão, pedi, como era meu direito, para ser avaliada externamente à minha Escola. Porque não queria sair com o mesmo mísero "Satisfaz" de pelo menos três colegas que se aposentariam no mesmo ano que eu. Podem pensar que isto é orgulho, soberba, mesquinhice, demasiada auto-estima. Pois eu pensei que estava a fazer justiça ao meu trabalho como Professora! O que penso ainda é que a Avaliação, tal como a vejo, deve ser formativa, isto é, a sua principal finalidade deve ser melhorar o desempenho mais do que "catalogar" o docente como mau ou bom. Essa ideia criámo-la nós, Professores maiúsculos e minúsculos, quando usamos os testes para "ver" quem aprendeu e quem não aprendeu. Na minha óptica, os testes eram primeiramente para eu aferir o meu próprio trabalho e só interessavam se me permitiam ver o que tinha falhado com alguns e porquê. Logo, com os docentes a Avaliação tem de ter esse objectivo. Quem a usar para sobressair (como avaliador), para humilhar, para se vingar, para se apropriar de técnicas e estratégias dos avaliados não merece ser avaliador e deveria ser avaliado negativamente como tal.
Estamos todos no mesmo barco: queremos uma Educação melhor, uma Escola mais activa, mais atractiva, uma Relação interpessoal mais humana. Se a Avaliação não permitir tal, se for realizada com papel e lápis, tesoura e esquadro, fita métrica e relógio, sem alma, sem coração, sem solidariedade, sem justiça, então nem sequer vale a pena começar.
A Vida trouxe-me, mais uma vez, o que prova a infinita Bondade divina, outras obrigações que não me permitem dedicar tanto tempo ao blogue ou a comentários. Já agradeci a todos os que se interessam pela minha ausência e fazem o favor de gostar de ler o que me dita o coração e a cabeça, mas, realmente, tenho o tempo muito agradavelmente mais ocupado e, como em tudo, é preciso fazer opções...
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
sábado, 27 de setembro de 2008
Eu avalio, tu avalias, ele avalia...
Tinha uma enorme vontade de participar neste encontro de ideias sobre a Avaliação dos Professores mas sentia que pouca coisa de novo podia trazer à colação e por isso me tenho mantido em silêncio. Depois, comecei a lembrar-me de como sempre me bati pessoalmente ou em colaboração com Colegas por uma Avaliação dos Professores justa e, na quinta-feira passada, desloquei-me a uma Escola privada para um encontro com Alunos do 6º ano e tudo me voltou à mente.
Primeiro, e porque neste espaço pouca gente me conhece, começo por informar que o meu uso de maiúsculas é sempre intencional e significativo. Bem, o ambiente que encontrei nesta Escola que visitei fez-me um imenso bem: reconciliou-me com a Escola privada. Tudo o que pude apreciar me permite afirmar sem dúvidas que, ali, avaliar os Professores não vai ser difícil, sejam quais forem os critérios a ter em conta, incluindo, provavelmente, até os Pais e Encarregados de Educação. Para dar mais uma achega, a Escola tem mais de 1200 alunos, o que é obra.
Sei que estou a sonhar (mas não foi a sonhar que consegui tudo o que quis na Vida?), porque a realidade é profundamente diferenciada e não se deveria avaliar actores/acções diferentes com as mesmas medidas. Mas é preciso avaliar e confio que tal será possível a partir precisamente daqueles que, com razão, mais se preocupam com a Avaliação.
Por muito que nos custe, sabemos de antemão que são e serão os Professores mais dedicados, os Professores por vocação, que vão sentir mais na pele o que este sistema traz. Porque são esses os que se preocupam, os que se avaliam a si mesmos todos os dias na privacidade da sua consciência, após cada aula, após cada experiência, após cada teste. E, humanos que são, não podem nem querem ser avaliados como os professores "funcionalizados" que, em maior ou menor número, existem em todas as Escolas. Ser Professor é demasiadamente importante para ser trabalho de funcionários e, portanto, se não agimos como funcionários não podemos ser avaliados com os mesmos critérios. O Professor em cujas turmas alguns alunos não têm sucesso são os mesmos dos alunos que têm sucesso. Logo, o sucesso das turmas não pode ser critério de diferenciação. Mas a atitude do Professor perante o sucesso e o insucesso, por muito difícil que seja de Avaliação, essa, sim, merece sê-lo.
O Professor que reclama que não pode ser bom docente se tiver que permanecer 35 horas por semana na Escola, além das horas para as reuniões, está a lutar pela dignificação da sua acção. O Professor que "chora" o tempo que perde a preencher papéis criados por burocratas, tem todo o meu apoio e compreensão.
Mas se esse mesmo docente nunca tiver tempo para ir até ao recreio, se não for capaz de sacrificar um intervalo para ouvir um aluno ou uma turma inteira, aquele que não "vê" os Alunos quando passa por eles nos corredores e só é docente na sala de aula, esse não é Professor e pode ser facilmente avaliado: sem desprimor nem ofensa, como um simples burocrata.
Ora, o que eu temo é precisamente que a Avaliação, como estava prevista (há tanta mudança e medida avulsa!) "empurre" os Professores para a "funcionalização"! Mas, por outro lado, tenho a Certeza, mais do que a Esperança, de que em todas as Escolas há Professores que vão avaliar e ser avaliados dentro de um espírito de partilha que, sinceramente, eu não senti que existisse antes como factor de carácter geral: praticamente nunca conheci trabalho mais autónomo do que o docente. Será esse espírito de partilha, de entre-ajuda, que poderá fazer toda a diferença e os professores "funcionalizados" auto-excluir-se-ão naturalmente. O que significa que a sua avaliação será um processo fácil e, o que é mais importante, justo...
O que não poderemos evitar, na minha opinião pessoal e discutível, é que a Avaliação veio para ficar. Que, como qualquer mudança profunda (e eu desejaria que ela fosse causa de mudança de tudo o que está menos bem), ela vem sempre acompanhada de alguma injustiça que recai sobre os melhores. Mas que, após um curto período de tempo (assim seja!), ela acabará por se auto-regular. E então os bons e os maus serão facilmente reconhecidos como tal.
Primeiro, e porque neste espaço pouca gente me conhece, começo por informar que o meu uso de maiúsculas é sempre intencional e significativo. Bem, o ambiente que encontrei nesta Escola que visitei fez-me um imenso bem: reconciliou-me com a Escola privada. Tudo o que pude apreciar me permite afirmar sem dúvidas que, ali, avaliar os Professores não vai ser difícil, sejam quais forem os critérios a ter em conta, incluindo, provavelmente, até os Pais e Encarregados de Educação. Para dar mais uma achega, a Escola tem mais de 1200 alunos, o que é obra.
Sei que estou a sonhar (mas não foi a sonhar que consegui tudo o que quis na Vida?), porque a realidade é profundamente diferenciada e não se deveria avaliar actores/acções diferentes com as mesmas medidas. Mas é preciso avaliar e confio que tal será possível a partir precisamente daqueles que, com razão, mais se preocupam com a Avaliação.
Por muito que nos custe, sabemos de antemão que são e serão os Professores mais dedicados, os Professores por vocação, que vão sentir mais na pele o que este sistema traz. Porque são esses os que se preocupam, os que se avaliam a si mesmos todos os dias na privacidade da sua consciência, após cada aula, após cada experiência, após cada teste. E, humanos que são, não podem nem querem ser avaliados como os professores "funcionalizados" que, em maior ou menor número, existem em todas as Escolas. Ser Professor é demasiadamente importante para ser trabalho de funcionários e, portanto, se não agimos como funcionários não podemos ser avaliados com os mesmos critérios. O Professor em cujas turmas alguns alunos não têm sucesso são os mesmos dos alunos que têm sucesso. Logo, o sucesso das turmas não pode ser critério de diferenciação. Mas a atitude do Professor perante o sucesso e o insucesso, por muito difícil que seja de Avaliação, essa, sim, merece sê-lo.
O Professor que reclama que não pode ser bom docente se tiver que permanecer 35 horas por semana na Escola, além das horas para as reuniões, está a lutar pela dignificação da sua acção. O Professor que "chora" o tempo que perde a preencher papéis criados por burocratas, tem todo o meu apoio e compreensão.
Mas se esse mesmo docente nunca tiver tempo para ir até ao recreio, se não for capaz de sacrificar um intervalo para ouvir um aluno ou uma turma inteira, aquele que não "vê" os Alunos quando passa por eles nos corredores e só é docente na sala de aula, esse não é Professor e pode ser facilmente avaliado: sem desprimor nem ofensa, como um simples burocrata.
Ora, o que eu temo é precisamente que a Avaliação, como estava prevista (há tanta mudança e medida avulsa!) "empurre" os Professores para a "funcionalização"! Mas, por outro lado, tenho a Certeza, mais do que a Esperança, de que em todas as Escolas há Professores que vão avaliar e ser avaliados dentro de um espírito de partilha que, sinceramente, eu não senti que existisse antes como factor de carácter geral: praticamente nunca conheci trabalho mais autónomo do que o docente. Será esse espírito de partilha, de entre-ajuda, que poderá fazer toda a diferença e os professores "funcionalizados" auto-excluir-se-ão naturalmente. O que significa que a sua avaliação será um processo fácil e, o que é mais importante, justo...
O que não poderemos evitar, na minha opinião pessoal e discutível, é que a Avaliação veio para ficar. Que, como qualquer mudança profunda (e eu desejaria que ela fosse causa de mudança de tudo o que está menos bem), ela vem sempre acompanhada de alguma injustiça que recai sobre os melhores. Mas que, após um curto período de tempo (assim seja!), ela acabará por se auto-regular. E então os bons e os maus serão facilmente reconhecidos como tal.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Agora que o Natal aí vem...
Pois é. Agora que o Natal aí vem, porque não tarda nada que as montras se encham de coisas que pretendem ser símbolos, que os anúncios se dirijam ao “espírito natalício”, que os pequenos comecem a pensar numa nova playstation, vou contar uma pequena história que me chegou aos olhos via Internet.
A minha conhecida presunção leva-me, até, a crer que a sua divulgação é um acto social...
Mike, como lhe chamam na Internet, passava a época do Natal de cenho franzido, incomodado com o seu aspecto comercial. Parecia que o Natal o irritava e a esposa encarava a tarefa de arranjar um presente para ele com a maior preocupação. Ora uma vez, quando o seu filho mais velho tinha doze anos, participou num campeonato escolar de luta livre em que a sua escola defrontava uma escola pobre das redondezas. O filho de Mike e os seus colegas, devidamente equipados, venceram com relativa facilidade aqueles meninos voluntariosos, alguns até muito bons, mas que competiam vestidos com as suas próprias T-shirts e com sapatilhas tão velhas que mal se seguravam nos pés.
A mulher reparou que Mike felicitou o filho com pouco entusiasmo e, a sós com ela, deixou escapar: "Gostava que ao menos um daqueles garotos tivesse ganho a sua partida. Alguns são mesmo bons, mas vão ficar desmoralizados. E ninguém sabe o que pode nascer dessa desmoralização". Isto passou-se a meio do primeiro período lectivo, meados de Novembro, e a mulher de Mike teve uma inspiração: logo que pôde, foi a uma loja de artigos desportivos e comprou camisolas e sapatilhas que mandou entregar naquela escola, para os alunos da classe de luta livre. Trouxe a factura, anexou-lhe uma cópia da carta que enviou com os presentes para a direcção da Escola, meteu tudo num sobrescrito e guardou. No dia de Natal, quando entregava as prendas à família, pegou no sobrescrito e deu-o ao marido, dizendo-lhe: "Toma, aqui tens o meu presente de Natal". Ele abriu, intrigado e ainda de cenho franzido, pelo que o sorriso largo e feliz que se lhe seguiu até aos próprios filhos espantou. Pedindo aos meus leitores que preencham os pormenores que se terão seguido, o que é muito mais interessante do que quer que seja que eu escreva, julgo que adivinham que, daí em diante, o presente de Mike deixou de ser um problema para a esposa: no ano seguinte comprou bilhetes e transporte para que crianças diminuídas mentais pudessem ir ver um jogo importante de baseball. Depois, enviou um donativo para dois irmãos que perderam a casa num incêndio na semana anterior ao Natal. O ponto alto da quadra era o mistério do que estaria dentro do sobrescrito de Mike. Os seus três próprios filhos ficavam tão suspensos do que seria, que pediam ao pai que o abrisse ainda antes de eles abrirem os seus próprios embrulhos.
De acordo com a história, Mike morreu no princípio de 2003 e a viúva hesitava se deveria ou não prosseguir com a tradição. Depois de pensar um pouco, decidiu continuar a ajudar alguém como um presente para Mike e, no Natal, junto dos presentes para os filhos e suas famílias, depositou o sobrescrito habitual. Os filhos, já de família constituída, chegaram e cada um deles, sem ter falado com os outros, trazia também um sobrescrito para Mike. Cada um com algo feito para outros que mais precisavam, em memória do pai.
Se, nesta altura da leitura, alguém começar a abanar a cabeça e a dizer que isto é treta, desengane-se: há mais exemplos destes do que aquilo que se sabe e quantos mais houver, melhor. Por mim e para já, entre outras coisas, adaptei o procedimento à família. O ano passado, sabendo que um dos meus filhos andava preocupado porque não sabia o que me havia de oferecer no aniversário, peguei o problema de caras e disse-lhe que uma coisa que me daria muito jeito seria arranjar a luz da cozinha (ele é muito jeitoso de mãos). Ofereceu-me e colocou uma luz "decente", como ele diz. Como estou quase a fazer anos outra vez, ontem, olhando para o tecto, disse-me: "Agora, com esta luz, é que se vê como o tecto precisa de pintura". Resposta minha: "Fica para o Natal".
Basta-me comprar a tinta... e em Dezembro terei, se Deus quiser, a minha cozinha pintada de novo, como presente. Quem é que disse que, afinal, o Natal não pode ser todos os dias?
A minha conhecida presunção leva-me, até, a crer que a sua divulgação é um acto social...
Mike, como lhe chamam na Internet, passava a época do Natal de cenho franzido, incomodado com o seu aspecto comercial. Parecia que o Natal o irritava e a esposa encarava a tarefa de arranjar um presente para ele com a maior preocupação. Ora uma vez, quando o seu filho mais velho tinha doze anos, participou num campeonato escolar de luta livre em que a sua escola defrontava uma escola pobre das redondezas. O filho de Mike e os seus colegas, devidamente equipados, venceram com relativa facilidade aqueles meninos voluntariosos, alguns até muito bons, mas que competiam vestidos com as suas próprias T-shirts e com sapatilhas tão velhas que mal se seguravam nos pés.
A mulher reparou que Mike felicitou o filho com pouco entusiasmo e, a sós com ela, deixou escapar: "Gostava que ao menos um daqueles garotos tivesse ganho a sua partida. Alguns são mesmo bons, mas vão ficar desmoralizados. E ninguém sabe o que pode nascer dessa desmoralização". Isto passou-se a meio do primeiro período lectivo, meados de Novembro, e a mulher de Mike teve uma inspiração: logo que pôde, foi a uma loja de artigos desportivos e comprou camisolas e sapatilhas que mandou entregar naquela escola, para os alunos da classe de luta livre. Trouxe a factura, anexou-lhe uma cópia da carta que enviou com os presentes para a direcção da Escola, meteu tudo num sobrescrito e guardou. No dia de Natal, quando entregava as prendas à família, pegou no sobrescrito e deu-o ao marido, dizendo-lhe: "Toma, aqui tens o meu presente de Natal". Ele abriu, intrigado e ainda de cenho franzido, pelo que o sorriso largo e feliz que se lhe seguiu até aos próprios filhos espantou. Pedindo aos meus leitores que preencham os pormenores que se terão seguido, o que é muito mais interessante do que quer que seja que eu escreva, julgo que adivinham que, daí em diante, o presente de Mike deixou de ser um problema para a esposa: no ano seguinte comprou bilhetes e transporte para que crianças diminuídas mentais pudessem ir ver um jogo importante de baseball. Depois, enviou um donativo para dois irmãos que perderam a casa num incêndio na semana anterior ao Natal. O ponto alto da quadra era o mistério do que estaria dentro do sobrescrito de Mike. Os seus três próprios filhos ficavam tão suspensos do que seria, que pediam ao pai que o abrisse ainda antes de eles abrirem os seus próprios embrulhos.
De acordo com a história, Mike morreu no princípio de 2003 e a viúva hesitava se deveria ou não prosseguir com a tradição. Depois de pensar um pouco, decidiu continuar a ajudar alguém como um presente para Mike e, no Natal, junto dos presentes para os filhos e suas famílias, depositou o sobrescrito habitual. Os filhos, já de família constituída, chegaram e cada um deles, sem ter falado com os outros, trazia também um sobrescrito para Mike. Cada um com algo feito para outros que mais precisavam, em memória do pai.
Se, nesta altura da leitura, alguém começar a abanar a cabeça e a dizer que isto é treta, desengane-se: há mais exemplos destes do que aquilo que se sabe e quantos mais houver, melhor. Por mim e para já, entre outras coisas, adaptei o procedimento à família. O ano passado, sabendo que um dos meus filhos andava preocupado porque não sabia o que me havia de oferecer no aniversário, peguei o problema de caras e disse-lhe que uma coisa que me daria muito jeito seria arranjar a luz da cozinha (ele é muito jeitoso de mãos). Ofereceu-me e colocou uma luz "decente", como ele diz. Como estou quase a fazer anos outra vez, ontem, olhando para o tecto, disse-me: "Agora, com esta luz, é que se vê como o tecto precisa de pintura". Resposta minha: "Fica para o Natal".
Basta-me comprar a tinta... e em Dezembro terei, se Deus quiser, a minha cozinha pintada de novo, como presente. Quem é que disse que, afinal, o Natal não pode ser todos os dias?
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Com uma certa emoção...
Amigos, é com uma certa emoção que estou a escrever este poste. De facto, quando ontem, após uma certa ausência, retomei a escrita, nem sequer olhei para a última coisa que tinha escrito e muito menos para os comentários. Quando voltei a olhar com mais calma, vi que havia bastantes comentários que eu não tinha lido e que, mais do que uma referência ao conteúdo, eram uma prova de grande simpatia pelos meus despretensiosos escritos e mesmo de Amizade pela pessoa que sou.
Portanto, o que quero hoje é apenas agradecer a todos os que escreveram e aos que, não escrevendo nada, me "sentiram" a falta. Muita obrigada pela vossa benevolência.
Gostaria de partilhar convosco algo de bom: não vou ter tanto tempo para escrever no blogue, mas tal será apenas o resultado de assumir novas tarefas na minha vida que, imagino, me ocuparão algum do tempo que eu dedicava à escrita aqui.
Mas também pode ser que eu consiga conciliar as duas realidades e, por outro lado, a ausência pode ser uma boa medida para aferir a importância das coisas.
Não vou citar nomes de ninguém, mas quero que todos saibam que me puseram um nó na garganta e um sorriso nos lábios, dois aspectos só aparentemente antagónicos...
Para quem perguntou, o meu pé vai bem mas teima em dizer-me a idade e tenho que me habituar a isso. Até porque só se for pelo pé, pois o coração e a cabeça continuam com 20 anos por fazer...
Um abraço apertado e a minha gratidão para todos. Avó Pirueta
Portanto, o que quero hoje é apenas agradecer a todos os que escreveram e aos que, não escrevendo nada, me "sentiram" a falta. Muita obrigada pela vossa benevolência.
Gostaria de partilhar convosco algo de bom: não vou ter tanto tempo para escrever no blogue, mas tal será apenas o resultado de assumir novas tarefas na minha vida que, imagino, me ocuparão algum do tempo que eu dedicava à escrita aqui.
Mas também pode ser que eu consiga conciliar as duas realidades e, por outro lado, a ausência pode ser uma boa medida para aferir a importância das coisas.
Não vou citar nomes de ninguém, mas quero que todos saibam que me puseram um nó na garganta e um sorriso nos lábios, dois aspectos só aparentemente antagónicos...
Para quem perguntou, o meu pé vai bem mas teima em dizer-me a idade e tenho que me habituar a isso. Até porque só se for pelo pé, pois o coração e a cabeça continuam com 20 anos por fazer...
Um abraço apertado e a minha gratidão para todos. Avó Pirueta
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Livros, livros, livros
As pessoas da minha geração têm, geralmente, uma tentação de conservar as coisas. Ou antes, têm dificuldade de se desfazerem das coisas. A Psicologia pode explicar os fundamentos para esta atitude com relativa facilidade, mas como sempre um pouco em contra-corrente, ando com uma vontade louca de arranjar coragem de me desfazer de mil miudezas, acumuladas em duas casas, ainda por cima. Dar, ninguém quer receber. Uma vez já fiz um leilão, tudo a um euro, e lá despachei umas coisas, mas havia uma motivação que levava as pessoas a comprar: a quantia apurada, devidamente registada, era para ser entregue numa obra em Moçambique.
Este preâmbulo serve apenas para eu expor um problema: o que tenho mais de meu, realmente meu, são livros. E não consigo arranjar coragem para me desfazer deles! Vejo-me aflita para resistir à tentação de comprar mais, o que é praticamente impossível, e depois não sei onde os hei-de pôr.
Bem, mas esta conversa de livros traz agarrada a si uma das coisas mais bonitas de que tive conhecimento como Professora. Não aconteceu comigo, mas garanto a verdade dos factos.
Numa escola dos arredores, durante a experiência da gestão flexível do currículo, o Presidente do Conselho Executivo conseguiu uma adesão extraordinária de toda a comunidade escolar para mudar algumas coisas: não havia campainha, os docentes planificavam em conjunto e quando um tinha necessidade de faltar avisava outro que estivesse livre (tinham os contactos e os horários uns dos outros) e os alunos estavam sempre acompanhados.
Por outro lado, sendo uma zona em que havia algum policiamento mais visível, alguns agentes colaboraram com o pedido feito de "acordarem" alguns alunos que não tinham quem os acordasse. Mas numa de serviço cívico e não de autoridade.
Outra particularidade que eu verifiquei foi a de que os pais eram chamados e recebiam uma espécie de "lições": o seu menino (!) precisava de tempo para brincar, portanto, nada de o obrigar a ir a correr buscar a avó ao centro de dia, ou levar-lhe o remédio, ou ir buscar o irmão à ama... Não é que não fosse bom ele fazer isso, mas tinha o direito a ser criança nem que fosse meia-hora. Além disso, precisava de um lugar para estudar - nem que fosse a mesa da cozinha - e precisava de um lugar certo para pôr os livros... Aí, houve uma gargalhada quase geral: "Lugar para pôr os livros? Quer que a gente compre uma estante, não? Ainda mais essa!"
Mas, pacientemente, se explicou que com dois tijolos e umas caixas de madeira de supermercado se fazia uma prateleira. Ele, Professor, quando se casara, tinha sido assim que resolvera o problema porque o dinheiro não abundava...
Bem, para encurtar a história, vamos ao importante: apesar dos cuidados, havia um aluno que estava quase a reprovar por faltas e como a montanha não ia a Maomé, foi Maomé à montanha: a directora de turma resolveu ir a casa do faltante e, chegando lá, encontrou o seu aluno à bulha com um vizinho e as mães já a começarem a puxar o cabelo uma à outra. A Professora tossiu (é uma maneira muito inteligente de chamar a atenção de alguém...) e a mãe do aluno apartou-se da outra e gritou para o filho. Oh Jorge, olha a tua Professora; anda-te embora qu'isso é gente que nem livros em casa tem!"
Que belo diploma aquela mãe passou àquela Escola!
Este preâmbulo serve apenas para eu expor um problema: o que tenho mais de meu, realmente meu, são livros. E não consigo arranjar coragem para me desfazer deles! Vejo-me aflita para resistir à tentação de comprar mais, o que é praticamente impossível, e depois não sei onde os hei-de pôr.
Bem, mas esta conversa de livros traz agarrada a si uma das coisas mais bonitas de que tive conhecimento como Professora. Não aconteceu comigo, mas garanto a verdade dos factos.
Numa escola dos arredores, durante a experiência da gestão flexível do currículo, o Presidente do Conselho Executivo conseguiu uma adesão extraordinária de toda a comunidade escolar para mudar algumas coisas: não havia campainha, os docentes planificavam em conjunto e quando um tinha necessidade de faltar avisava outro que estivesse livre (tinham os contactos e os horários uns dos outros) e os alunos estavam sempre acompanhados.
Por outro lado, sendo uma zona em que havia algum policiamento mais visível, alguns agentes colaboraram com o pedido feito de "acordarem" alguns alunos que não tinham quem os acordasse. Mas numa de serviço cívico e não de autoridade.
Outra particularidade que eu verifiquei foi a de que os pais eram chamados e recebiam uma espécie de "lições": o seu menino (!) precisava de tempo para brincar, portanto, nada de o obrigar a ir a correr buscar a avó ao centro de dia, ou levar-lhe o remédio, ou ir buscar o irmão à ama... Não é que não fosse bom ele fazer isso, mas tinha o direito a ser criança nem que fosse meia-hora. Além disso, precisava de um lugar para estudar - nem que fosse a mesa da cozinha - e precisava de um lugar certo para pôr os livros... Aí, houve uma gargalhada quase geral: "Lugar para pôr os livros? Quer que a gente compre uma estante, não? Ainda mais essa!"
Mas, pacientemente, se explicou que com dois tijolos e umas caixas de madeira de supermercado se fazia uma prateleira. Ele, Professor, quando se casara, tinha sido assim que resolvera o problema porque o dinheiro não abundava...
Bem, para encurtar a história, vamos ao importante: apesar dos cuidados, havia um aluno que estava quase a reprovar por faltas e como a montanha não ia a Maomé, foi Maomé à montanha: a directora de turma resolveu ir a casa do faltante e, chegando lá, encontrou o seu aluno à bulha com um vizinho e as mães já a começarem a puxar o cabelo uma à outra. A Professora tossiu (é uma maneira muito inteligente de chamar a atenção de alguém...) e a mãe do aluno apartou-se da outra e gritou para o filho. Oh Jorge, olha a tua Professora; anda-te embora qu'isso é gente que nem livros em casa tem!"
Que belo diploma aquela mãe passou àquela Escola!
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Línguas e leituras
Como sabem, estou naquela condição privilegiada de estar "em férias" mais ou menos permanentes e poder fazer, também mais ou menos, o que me apetece. Angola, este ano, está fora de questão, embora continue a fazer umas coisas para lá via Internet. Esta benção que Deus me mandou através de um pé partido, que me obrigou a olhar para dentro e para fora de mim, trouxe-me a sabedoria de aprender a ver os meus limites.
Mas, felizmente, tenho-me habituado a este ritmo a que nunca, nunca estive habituada: tenho usufruído, como nunca, da minha condição de idosa para viajar de comboio, tenho visitado Amigos que não via há anos (que bom, reencontrá-los como se nos tivéssemos visto ontem!) tenho lido e ando a aprender Esperanto.
Imaginem, eu a aprender esperanto nesta idade! Mas o facto é que esta "tarefa" me espevita, puxa por mim, abre-me horizontes. Aprender esperanto é, para mim, uma espécie de busca da língua única que todos os homens usariam, de acordo com a Bíblia, e que a arrogância associada à construção da Torre de Babel teria baralhado de tal forma que ainda hoje andamos a falar cada um para si, quantas vezes.
Aviso desde já que leio o episódio bíblico simbolicamente, mas não deixa de fazer muito sentido.
Poderia ter-me virado para o mandarim, que parece uma opção útil e necessária para os mais novos, mas se ainda sou capaz de plantar uma árvore sabendo que outros colherão os frutos (e eu os abençoarei por isso), não me apetece aprender uma língua só por utilidade.
Aprender esperanto tem qualquer coisa de incomum na sua aparente inutilidade. Digo "aparente" porque muita gente me pergunta o que é que me deu na cabeça... Ora, não deu nada demais nem de menos: talvez eu sinta essa língua como um elo universal e, ao mesmo tempo, como um código quase secreto.
Já agora gostaria de partilhar com os que me lêem que li um livro que pode ser um pouco perturbador, mas que para mim o não foi. Chama-se "O Evangelho segundo Pilatos", o seu autor tem muito a ver com a obra, e pacificou-me em relação a questões que se me punham há muito.
A biografia de D. Luís encheu-me as medidas, gostei de ler "Rainha Ginga" e de reler as obras do costume: "Não matem a cotovia", "Cem anos de solidão", "O Livro das Lendas" de Selma Lagerlof.
Ah, queria partilhar convosco uma alegria, entre as muitas com que Deus me abençoou: consegui, de facto, embora com ajuda, criar um jardim na minha varanda! What's a wonderful World!
Mas, felizmente, tenho-me habituado a este ritmo a que nunca, nunca estive habituada: tenho usufruído, como nunca, da minha condição de idosa para viajar de comboio, tenho visitado Amigos que não via há anos (que bom, reencontrá-los como se nos tivéssemos visto ontem!) tenho lido e ando a aprender Esperanto.
Imaginem, eu a aprender esperanto nesta idade! Mas o facto é que esta "tarefa" me espevita, puxa por mim, abre-me horizontes. Aprender esperanto é, para mim, uma espécie de busca da língua única que todos os homens usariam, de acordo com a Bíblia, e que a arrogância associada à construção da Torre de Babel teria baralhado de tal forma que ainda hoje andamos a falar cada um para si, quantas vezes.
Aviso desde já que leio o episódio bíblico simbolicamente, mas não deixa de fazer muito sentido.
Poderia ter-me virado para o mandarim, que parece uma opção útil e necessária para os mais novos, mas se ainda sou capaz de plantar uma árvore sabendo que outros colherão os frutos (e eu os abençoarei por isso), não me apetece aprender uma língua só por utilidade.
Aprender esperanto tem qualquer coisa de incomum na sua aparente inutilidade. Digo "aparente" porque muita gente me pergunta o que é que me deu na cabeça... Ora, não deu nada demais nem de menos: talvez eu sinta essa língua como um elo universal e, ao mesmo tempo, como um código quase secreto.
Já agora gostaria de partilhar com os que me lêem que li um livro que pode ser um pouco perturbador, mas que para mim o não foi. Chama-se "O Evangelho segundo Pilatos", o seu autor tem muito a ver com a obra, e pacificou-me em relação a questões que se me punham há muito.
A biografia de D. Luís encheu-me as medidas, gostei de ler "Rainha Ginga" e de reler as obras do costume: "Não matem a cotovia", "Cem anos de solidão", "O Livro das Lendas" de Selma Lagerlof.
Ah, queria partilhar convosco uma alegria, entre as muitas com que Deus me abençoou: consegui, de facto, embora com ajuda, criar um jardim na minha varanda! What's a wonderful World!
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Mas não há ninguém que os ensine?
Há pouco estava a ver o noticiário da estação oficial. Uma apresentadora, aos gritos, tentava fazer-se ouvir por cima do ruído musical retro da inauguração do Tróia Resort. O assunto passou para estúdio e, logo a seguir, a mesma apresentadora resolveu falar com uma camponesa (sim, uma mulher do campo, vestida a preceito, e que andava a tratar da relva e dos jardins.
E que resolveu a jovem licenciada em jornalismo fazer? Perguntas estúpidas, paternalistas, complacentes, em que punha em causa uma série de valores sociais e profissionais. Perguntou-lhe se ela sabia o que era um resort. Depois, se ela contaria voltar lá. A senhora, candidamente, disse que talvez, se fosse preciso. E a menina, travessa, perguntou se ela sabia quanto custava viver ou simplesmente estar ali.
Fiquei indignada. Caramba, mas afinal não há ninguém que ensine boas maneiras a estes aprendizes de jornalistas? Já não basta a demonstração de ignorância com que tantas vezes nos presenteiam, temos também que aturar a falta de educação?
Haja alguém que ensine boas maneiras. Creio que é um campo com futuro: desde preparar autarcas para saberem apresentar-se em público e aprenderem a falar, até preparar todos os que vão a qualquer lado a representar Portugal e agora, praticamente, ensinar o que é delicadeza, respeito, consideração a todos os que lidam com o público. Desde empregados de balcão (desculpem, agora são assistentes de vendas - e por isso, só assistem, nós temos que fazer o resto...) até repórteres, jornalistas, entretendedores(!), há uma multidão de gente que julga que tem alguma classe quando humilha (ou tenta humilhar) os outros. Sem respeito pela idade, posição, nada.
Quando é que eu recomeço a dizer bem? Ah, para não levar nenhum ralhete indirecto, se calhar o melhor é fechar a loja... Mas, de qualquer maneira, eu também não gosto de dizer mal. Logo, ou há assunto ou não há.
E que resolveu a jovem licenciada em jornalismo fazer? Perguntas estúpidas, paternalistas, complacentes, em que punha em causa uma série de valores sociais e profissionais. Perguntou-lhe se ela sabia o que era um resort. Depois, se ela contaria voltar lá. A senhora, candidamente, disse que talvez, se fosse preciso. E a menina, travessa, perguntou se ela sabia quanto custava viver ou simplesmente estar ali.
Fiquei indignada. Caramba, mas afinal não há ninguém que ensine boas maneiras a estes aprendizes de jornalistas? Já não basta a demonstração de ignorância com que tantas vezes nos presenteiam, temos também que aturar a falta de educação?
Haja alguém que ensine boas maneiras. Creio que é um campo com futuro: desde preparar autarcas para saberem apresentar-se em público e aprenderem a falar, até preparar todos os que vão a qualquer lado a representar Portugal e agora, praticamente, ensinar o que é delicadeza, respeito, consideração a todos os que lidam com o público. Desde empregados de balcão (desculpem, agora são assistentes de vendas - e por isso, só assistem, nós temos que fazer o resto...) até repórteres, jornalistas, entretendedores(!), há uma multidão de gente que julga que tem alguma classe quando humilha (ou tenta humilhar) os outros. Sem respeito pela idade, posição, nada.
Quando é que eu recomeço a dizer bem? Ah, para não levar nenhum ralhete indirecto, se calhar o melhor é fechar a loja... Mas, de qualquer maneira, eu também não gosto de dizer mal. Logo, ou há assunto ou não há.
Onde estará a Virtude?
Diz-se que os provérbios ou ditados são sabedoria, pois foram criados a partir de milhentas ocorrências que pareciam garantir a sua Verdade para além do Tempo. Pois já sabemos que não é assim, visto que a tecnologia (ia a chamar-lhe progresso mas desisti a tempo) tem mudado as coisas. Por exemplo, um ditado antigo dizia que "mal vai a Portugal se não há três cheias antes do Natal". Ora as barragens tiraram significado a um provérbio muito útil num país predominantemente agrícola mas que agora nada significa. Outro dizia: "se quiseres comer bem, come as ervilhas com os ricos e as cerejas com os pobres". Este felizmente vai desaparecendo, mas queria simplesmente dizer que as melhores ervilhas eram as primeiras, tenrinhas, mas tão caras que só os ricos as podiam comprar, enquanto as melhores cerejas são as últimas, aquelas que já ficam tão baratas que até os pobres se podiam deliciar com elas.
Na minha aldeia havia um ditado que nunca ouvi em mais lugar nenhum e que era, por si só, todo um tratado sobre a situação de pobreza do Portugal rural (e note-se que esta aldeia está a uns 15km de Coimbra). Como os pais mandavam as crianças "roubar" fruta aos pomares ou fruteiras quando estes lhes pediam pão, corria este: "Da cereja ao castanho, bem me avenho; da castanha ao cerejo, mal me vejo". O que significava que, a partir de Maio, com as primeiras cerejas, até Novembro, com a chegada das castanhas, as crianças tinham muito por onde enganar a fome. Mas de Novembro a Maio, o caso fiava mais fino, porque não havia fruta. Sei de quem enganava o estômago com flor de marmeleiro, que é das primeiras a aparecer, muito adocicada. Já provei. E acho muito interessante a inversão do género da fruta, para rimar a preceito.
E que tem isto tudo a ver com o título? É que se diz que "no meio está a virtude"... Será?
Não sei porquê, isto faz-me lembrar a "aura mediocritas" e fico logo desconfiada. Não gosto muito de médias. Lembro-me logo de que se tu comeres uma galinha e eu nenhuma, na média comemos ambos meia galinha...
Pois é: eu gostaria de saber onde está a Virtude. E já agora dizer que apreciei ontem uma personalidade da nossa praça política, de clara e conhecida prática cristã católica, afirmar que certas acções que fazemos valem bem por vinte missas. Dão-se alvíssaras a quem disser quem o disse, a que acções se referia e em que local ou meio se exprimiu.
Na minha aldeia havia um ditado que nunca ouvi em mais lugar nenhum e que era, por si só, todo um tratado sobre a situação de pobreza do Portugal rural (e note-se que esta aldeia está a uns 15km de Coimbra). Como os pais mandavam as crianças "roubar" fruta aos pomares ou fruteiras quando estes lhes pediam pão, corria este: "Da cereja ao castanho, bem me avenho; da castanha ao cerejo, mal me vejo". O que significava que, a partir de Maio, com as primeiras cerejas, até Novembro, com a chegada das castanhas, as crianças tinham muito por onde enganar a fome. Mas de Novembro a Maio, o caso fiava mais fino, porque não havia fruta. Sei de quem enganava o estômago com flor de marmeleiro, que é das primeiras a aparecer, muito adocicada. Já provei. E acho muito interessante a inversão do género da fruta, para rimar a preceito.
E que tem isto tudo a ver com o título? É que se diz que "no meio está a virtude"... Será?
Não sei porquê, isto faz-me lembrar a "aura mediocritas" e fico logo desconfiada. Não gosto muito de médias. Lembro-me logo de que se tu comeres uma galinha e eu nenhuma, na média comemos ambos meia galinha...
Pois é: eu gostaria de saber onde está a Virtude. E já agora dizer que apreciei ontem uma personalidade da nossa praça política, de clara e conhecida prática cristã católica, afirmar que certas acções que fazemos valem bem por vinte missas. Dão-se alvíssaras a quem disser quem o disse, a que acções se referia e em que local ou meio se exprimiu.
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