D. Teresa, condessa do Condado Portucalense
Ultimamente tenho dado vazão ao vício e tenho lido que nem uma desalmada. Imobilidade oblige. Não me tem apetecido ler romances, narrativas, o que às vezes até me parece impossível, porque adoro uma boa história. Não sei que me deu, ando muito de volta da História, nossa e dos outros. E por causa disso, tenho tido necessidade de rever umas poucas de "verdades" que eu tinha como imutáveis, irrefutáveis e estáveis, além de outros adjectivos que rimam com estes...
Ora vamos lá falar de algumas: achei que Charles Lindbergh era um autêntico herói, até que li "A Conspiração contra a América" e quase chorei por mim: era nazi, impenitente até ao fim, tudo fez para que o seu país se aliasse a Hitler.
Tinha uma admiração extrema por Churchill, achava que Lawrence da Arábia era um Herói a sério, daqueles aventureiros que parecem trazer um Anjo da Guarda imenso a livrá-los de todas as ciladas e um Conselheiro de outro Universo a dizer-lhe o que e como há-de fazer. Pois. Estou a ler "A Loucura de Churchill" e a perceber como nasceu o Iraque, como se pega em povos e nações e se faz um redil para os pôr lá, como se de carneiros se tratasse, e como nós estamos a pagar a conta.
Imaginava, pobre de mim, que Calouste Gulbenkian se tinha apaixonado por Portugal, tão rústico e pobrezinho, e por isso cá tinha deixado a sua imensa fortuna, com a gratidão do Dr. Oliveira Salazar e nem vos digo onde descobri que as coisas não são como se pintam, que o senhor mudou de nacionalidade várias vezes, chegou a ter mais do que uma, umas vezes comprava-as, outras vezes tiravam-lhas, enfim Rocambole no seu melhor, com o petróleo e ele a jogarem às escondidas e aos cinco cantinhos.
Comecei a ler "D. Teresa, a primeira rainha de Portugal", de Marsilio Cassotti, e este senhor está a provar-me por A mais B que a mãe de D. Afonso Henriques nem era devassa nem queria roubar o filho. Era, pelo contrário, uma mulher inteligente, com uma estratégia assombrosa para o seu tempo, que nunca se deixou diminuir por ser filha fora de casamento e nem autorizou a irmã, princesa real, (agora têm que desculpar o vernaculismo em coisa tão séria...) " a passar-lhe a perna".
A batalha de S. Mamede não teria sido bem assim como nos têm contado e não há provas de que a pobre, viúva cedo, tenha tido qualquer caso amoroso com o conde Fernão Peres de Trava. Ah, e pelo caminho, ainda me provam que D. Afonso Henriques não teve Egas Moniz como aio!
Bem, eu sei que são autoridades na matéria, mas já repararam que agora tenho que reformatar a minha História? A obra "1808" também me fez mudar de ideias sobre D. João VI, e para melhor, graças a Deus. "A Primeira Aldeia Global", afinal criação portuguesa, também me fez aumentar a auto-estima nacional e "Este País que nos pariu" provou que nem todos os filhos são ingratos... Mas vamos ver o que vou a ficar a não saber quando acabar de ler a minha colheita de férias...
10 comentários:
Aprendeste. Não há uma História. Há muitas e variadas, dependendo das interpretações de quem as constrói. A objectividade em História? O mais das vezes inatingível.
Já te imaginaste a ler a história da Irlanda do Norte escrita por um católico? Será a mesma se escrita por um protestante? E no entanto os factos são os mesmos. Mas como varia a interpretação desses mesmos factos!
O mesmo exercício podemos fazer para a história da Palestina vista por judeus e árabes, as Cruzadas vistas por cristãos e árabes, os Descobrimentos vistos por descobridores e descobertos e etc, etc, etc.
Fica bem.
Beijocas
A conversa foi longa, mas ainda aqui vim, já perto da hora do jantar.
Avó anda a descobrir as carecas aos senhores,mas que desgraças encontrou nas suas leituras,mas de facto é verdade, quantas verdades andam por aí escondidas e quantas mentiras andam por aí dissimuladas.
C'est la vie!!!
Sorrisos
Hoje li este poema Sagres de Miguel Torga,
mando-te o Link, do blog A ver o mar, para leres se não conheces , vale a pena, beijinho Luis
http://sophiamar.blogspot.com/2008/07/sagres.html
Cá em casa quem devora história é a Émy. E romances históricos e filmes é com ela. Esteve com este exemplar de Cassotti nas mãos e diz sempre a mesma coisa... é caro... e lá tenho que eu depois comprar para lhe oferecer... e pelo que enuncias aqui... uma história de uma mulher inteligente e asombrosa para o seu tempo... e lá tenho que ir quando ela acabar de ler o "Filipa de Lencastre" da Stilwell.
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E Anabela... do que foste falar, da História da Irlanda! Outras das paixões da minha Émy...
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Fiquem bem.
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Carpe diem!
Querida avó pirueta,
Até parece que abandonei os afectos blogosféricos, mas olhe que não!
Mesmo sem tempo para saborear as entradas, dei conta de ter voltado, cheia de saudades de lá e de cá, e das novas rotinas da leitura+fisioterapia.
Hoje passo a correr para desejar que o pezito fique bom de todo e dizer até breve.
Que raio de vida esta em que se anda sempre a correr, até para ir de férias.
Muitos beijinhos
Adorei este seu texto, porque aborda uma temática que gosto! Sabe… é que gosto imenso de ler livros sobre história e romances históricos... então se nesses livros se desmistificam determinados conceitos que tínhamos como certos e indiscutíveis ou os esclarecem melhor... então para mim é, com costumo dizer, "ouro sobre azul", os seja, perfeito! Melhor leitura não há!!! (e nisso incluo também a história e literatura irlandesa que aprecio muito!), então se causar alguma polémica melhor!
Bem, mas se já estava curiosa relativamente ao livro sobre D. Teresa (já o admirei por diversas vezes na FNAC), agora fiquei mais ansiosa por o ler... além disso despertou a minha curiosidade, e bastante, para os restantes livros que menciona no texto, em especial sobre Churchill e o livro "1808", mas também fiquei pasmada com o que refere sobre Lindbergh e sobre Calouste Gulbenkian, pois é… não conhecia essa parte da história!
Agora que estão a chegar as férias tenho mesmo de ler (o mais urgentemente possível!), o livro sobre D. Teresa, esse é prioritário! Também quero ler um livro que vi sobre D. Sebastião… estou a precisar e muito de começar a ler um novo livro!!! E a Carmo fez-me sentir esta necessidade ainda mais.
Luís, como sempres, és um querido a mandar belas sugestões.Obrigada. Vou ver logo que possa. Abraço.
Émy, venha na segunda e vai ver o que tenho sobre D. Sebastião. E outras coisas assim. Espero por si. A minha biblioteca é sua... Beijinho da Avó Pirueta
embora haja verdades na História, normalmente a história tende mostrar a visão dos vencedores, que não só controlaram a informação a curto-prazo, como depois, a longo-prazo, essa informação passou muitas vezes a ser tida como verdadeira. ao criticarmos as imagens que temos do passado, verificamos que raramente os vencedores são os maus e os vencidos são os bons. Se fosse mesmo assim, talvez fosse o nosso mundo mesmo melhor. felizmente hoje a investigação está a reconstruir a História
Carmo
Seus textos são ótimos. Eu gosto muito de ler sobre história e sobre biografias. Há algum tempo, li as biografias do Barão de Mauá e de Sarah Bernhardt (Pedrita me emprestou - aliás, a gata de Pedrita se chama Sara por causa dela!) que, confesso, não sabia muita coisa. É muito bom quebrar paradigmas e idéias pré-concebidas sobre este ou aquele assunto. O importante é sempre deixar a mente aberta para novos pensares.
Beijocas
Denise
eu ando com pouco tempo pra ler, mas consegui ir algumas páginas adiante de um dos livros que estou lendo. não conheço esse livro que está lendo. beijos, pedrita
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