domingo, 27 de julho de 2008

Hoje foi a pensar em Henrique V, de Inglaterra

Lawrence Olivier no papel de Henry V, na batalha de Azincourt
Hoje acordei a pensar no discurso de Henrique V, na peça de Shakespeare com o mesmo nome e que o Rei fez aos seus pouco mais de 10 000 soldados que se preparavam para lutar com mais de 60 000 franceses. Foi no dia de S. Crispim ou S. Crispiniano (25 de Outubro de 1415) e aparece muitas vezes referenciado como "O Discurso de S. Crispim". Para o entendermos melhor é bom que recordemos que muitos cavaleiros da mais alta nobreza pensavam desistir devido à enorme disparidade de forças, especialmente o conde de Westmoreland, primo do monarca. Mas o Rei galvanizou-os para a vitória de Azincourt (Guerra dos Cem Anos) com o seu discurso. Que vos apresento numa tradução nem muito livre nem muito fiel.
Aqui vai;
"Quem expressa esse desejo de mais soldados? Meu primo Westmoreland? Não, meu simpático primo; se estamos destinados a morrer, o nosso país não tem necessidade de perder mais homens do que nós temos aqui; e, se devemos viver, quanto menor for o nosso número, maior será a parte da honra para cada um de nós.
Pela vontade de Deus! Não desejes nem mais um homem, te rogo! Por Júpiter! Não sou avaro de ouro, e pouco me importo se vivem às minhas expensas: pouco me importa que outros usem as minhas roupas: essas coisas externas não encontram abrigo entre as minhas preocupações. Mas se ambicionar a honra é pecado, sou a alma mais pecadora que existe. Não, por fé, não desejes nenhum homem mais da Inglaterra. Paz de Deus! Não quereria, pela melhor das esperanças, expor-me a perder uma honra tão grande, que um homem a mais poderia talvez querer compartilhar comigo. Oh! Não anseis por nenhum homem a mais! Proclama antes, através do meu exército, Westmoreland, que aquele que não for com coração à luta, poderá retirar-se: dar-lhe-emos um passaporte e poremos na sua mochila algum dinheiro para a viagem; não queremos morrer na companhia de um homem que teme morrer como companheiro nosso.
O dia de São Crispim: este dia é o da festa de São Crispim; aquele que sobreviver a este dia voltará são e salvo ao seu lar e colocar-se-á na ponta dos pés quando se mencionar esta data, ele crescerá sobre si mesmo ante o nome de São Crispim. Aquele que sobreviver a este dia e chegar à velhice, cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é dia de São Crispim". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no dia de São Crispim."
Os velhos esquecerão; mas, aqueles que não esquecem tudo, lembrar-se-ão todavia, com satisfação, das proezas que levaram a cabo neste dia. E então os nossos nomes serão tão familiares nas suas bocas como os nomes dos seus parentes: o rei Harry, Bedford, Exeter, Warwick e Talbot, Salisbury e Gloucester serão ressuscitados pela recordação viva e saudados com o tilintar dos copos. O bom homem ensinará esta história ao seu filho, e desde este dia até o fim do mundo, a festa de São Crispim e Crispiano nunca chegará sem que venha associada à nossa recordação, à lembrança do nosso pequeno exército, do nosso bando de irmãos; porque aquele que verter hoje o seu sangue comigo, por muito vil que seja, será meu irmão, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que permanecem agora no leito em Inglaterra considerar-se-ão como malditos por não estarem aqui, e sentirão a sua nobreza diminuída quando ouvirem falar daqueles que combateram convosco no dia de São Crispim."
Levantei-me e fui ler o texto: em inglês e nesta tradução que fiz há tempos e fiquei a pensar: "Por que é que me lembrei deste discurso? " Neste momento, penso que sei. Sei que temos uma grande batalha a travar pela verdadeira Educação, somos poucos a enfrentar muitos, mas será uma honra nunca esquecida se conseguirmos arrumar esta casa. Infelizmente (e não sou nada de me queixar da idade), precisaria de ter menos 20 anos. E esta ira que não considero pecado, esta vontade de fazer valer o que é importante, esta coragem de denunciar o que é trabalho de impostores.

12 comentários:

renard disse...

Hi Ouma:

Thank you for your ever so kind words. I must confess I didn't understand this comment:
"não vou dizer nada a não ser que te desvelaste no que escreveste. E nos mostraste ainda de forma mais clara o que eu antevia".
But I'm not worried because if it's something you wrote, I'm sure it's good hearted.
Big kiss my dear Ouma.

Fátima André disse...

Querida Carmo,
Agradeço, logo que possa consulte o seu e-mail.
Enviei-lhe uma mensagem URGENTE.
Nada de grave, fique tranquila, só que está com muita pressa a marota... isto nem parecem coisas de Alentejana :)
Beijinhos.

Jorge Bastos Malheiro disse...

Olá, Carminho!

Eu tnho a versão do Henrique V de Shakespeare interpretado pelo Kenneth Branagh e o seu grupo de actores shakespeareanos. Simplesmente fabulosa.

O discurso a que te referes, então, está recitado de uma forma magistral. Infelizmente está em cassete VHS (na altura ainda não havia DVD). Mas, se não te importares e tiveres aparelhagem, posso emprestar-to para o apreciares. Garanto que não ficas desapontada, bem pelo contrário.

Agora, o que ressalta desse discurso, é que há chfes e LÍDERES, e o Henrique V era manifestamente um líder.

Aqui para nóes, é uma raça que faz falta em Portugal. Há muito tempo que não temos nenhum que inspire os Portugueses.

Arrivederci

Giorgio

Passiflora Maré disse...

Bom dia Abuelita.
Em primeiro lugar, obrigada pelo seu contacto que foi deixado no blogue.
Desculpe por só agora agradecer, mas fui oito dias de férias para aproveitar o Julho.
Gostei muito do discurso, e nele se reflecte que um líder é aquele que sabe quando dizer aos seus comandados o que eles desejam ouvir. É sempre alguém capaz de sondar profundamente a alma humana. Trabalho a que os nossos "líderes" já nem se dão.

Pedrita disse...

adoro shakespeare. beijos, pedrita

BC disse...

OBRIGADA, ESPECIALMENTE PELAS PALAVRAS.
Isabel

Os Incansáveis disse...

Boa metáfora, Carmo. Remar contra a maré é digno de grandes heróis e líderes.
Eu assiti as 2 versões: a com Lawrence Olivier e a com Kenneth Branagh. Bem, e já li alguns trechos no original pois tenho o livro Shakespeare - the complete works.
Beijocas
Denise

Luis Neves disse...

Uma música muito linda em italiano, para te lembrares dos teus filhos missionários italianos

Aria - Giana Nannini
http://todosdiassaodias.blogspot.com/2008/05/aria.html

Tu sabes o que está a Nannini a cantar? eu tentei ler não entendo nada de italiano, mas é emotivo, talvez tu com os teus conhecimentos de italiano percebas.
Bjo Luís,
Ainda não fiz os teus bolinhos tenho que tratar disso.

Anabela Magalhães disse...

É verdade, os nossos já nem se dão a esse trabalho... ou será antes os nossos não têm competência para tal?!

Jorge Bastos Malheiro disse...

Para o Luís Neves aí vai a tradução (sem a poesia da língua italiana na «última flor do Lácio inculta e bela»):

AR

Sabes
Nascem assim
Fábulas que eu quereria
Dentro de todos os meus sonhos
E recontá-las-ei
Para voar em paraísos que não tenho
E não é fácil ficar sem fadas para raptar
E não é fácil brincar se tu faltas
Ar, como é doce no ar
Deslizar para fora da minha vida
Ar, respira-me em silêncio
Não me digas adeus mas soergue o mundo
Sim
Leva-me contigo
Entre os mistérios dos anjos
E sorrisos dos demónios
E ali transformarei
Em brilhantes de luz terna
E conseguirei sempre fugir dentro de cores a descobrir
E conseguirei ouvir ainda aquela música
Ar, como é doce no ar
Deslizar para fora da minha vida
Ar, respira-me em silêncio
Não me digas adeus mas soergue o mundo
Ar, abraça-me
Voarei
Ar, voltarei no ar
Que me leva da minha vida
Ar, abandonar-me-ei no ar
Ar, como é doce no ar
Deslizar para fora da minha vida
Ar, abandonar-me-ei no ar.

Um abraço

Luis Neves disse...

Muito Obrigado Jorge Malheiro pela tua tradução, Agora gosto muito mais desta canção da Gianna Nannini. Nada como termos o dominio de outras línguas para chegarmos mais além.
Quanto à batalha da Carmo pela Educação vou deixar aqui um pequeno contributo. Encontrei mesmo agora uma petição na net para pedir a demissão da ministra da educação, e assinei logo, de cruz. Fica aqui o endereço para a Carmo e quem queira assinar.
http://www.petitiononline.com/demissao/petition.html
pelo menos juntamo-nos a este exercito contra a tecnocrata da educação.
Luis

Avó Pirueta disse...

Luís, como não tens blogue, despeço-me aqui de ti. Até um dia destes. Só vou para a minha casa da aldeia, em Condeixa-a-Nova e quero descansar do império da Net. Só isso. Obrigada pelos teus presentes sempre generosos. O Jorge é umrapaz da minha idade que aprendeu a falar italiano para namorar. Mas fala mesmo muito bem italiano, o maroto! É muito prendado. Também faz uns scones de maravilha! Mas ontem fiz o bolo de cenoura para um chá com uns Amigos que aqui vieram cer um filme a casa e estava muito bom. Mesmo muito bom! Um beijo da Avó Pirueta.