sexta-feira, 9 de maio de 2008

Deixem dizer-vos hoje

Era uma vez uma Pessoa que descobriu que não poderia viver sem Amor (talvez porque soubesse o que era). Mas ela tinha Amor à sua volta: dos Filhos, dos Amigos, e ainda de tanta outra gente que ela já não sabia destrinçar se eram Filhos, se Amigos. Mas faltava-lhe alguma coisa: a Escola, especialmente uma Escola viva e, de uma forma quase dolorosa, o convívio com os jovens, os Alunos.
Faz o que pode para colmatar esse vazio e uma das vias que usa é visitar a sua última Escola. Lá, sem o saber, recebeu um presente imenso: disseram-lhe que “se fosse ao terrear era capaz de encontrar gente com as preocupações dela”. E até iria encontrar muitas grelhas de avaliação, porque o José Matias Alves (“lembras-te?”, perguntaram-lhe então) era o “dono do blogue”. Bem, a necessidade das grelhas não vem ao caso, até porque não tem nada a ver com Professores.
E essa vossa Amiga foi ao terrear e apaixonou-se por uma quantidade de gente: primeiro, o Zé, que conhecia, mas superficialmente, de outras guerras. Depois, em catadupa, a Fátima André, o Raul do Sorriso Imenso, a Anabela do Tâmega, a Teresa do Lindo Nome, o Existente Instante, a Isaura das partilhas, a Renard que a vê lendo-a, a Teresa de Dusseldorf, a Elsa do retrato sinestésico, a Rosário que perdeu o ânimo (momentaneamente, espera-se) e até, sempre com tanto gosto, o cumpadre do Oeste. E depois, quando notou que poderia estar a perturbar os blogues por onde se andava a aninhar, ela resolveu criar o seu próprio blogue.
Essa Mulher feliz sou eu, a mesma menina que não teve a boneca que pediu no seu primeiro Natal. O que só prova que tudo pode mudar para melhor (Zé, esta conclusão é para juntar à tua parábola dobre a justiça da Justiça). Mas é para todos que estou a escrever. É a todos que quero agradecer a porta que abriram para eu entrar, as boas vindas com que fui recebida, as vossas palavras sempre embaraçosamente gentis. Como já disse à Isaura, o meu corpo, objecto físico, vai partir, mas o meu espírito, múltiplo e infinito porque é uma chispa do Espírito que o criou, fica convosco mesmo indo comigo.
Vou ter, certamente, menos tempo para reflectir e partilhar as minhas reflexões convosco. Ou não… Afinal, nada é definitivo! Mas vou ver-vos todos os dias, vou sentir-me não só a Amiga mas também a orgulhosa Mãe, Irmã, Avó (lembremo-nos dos Corações Adolescentes do Raul e especialmente da Vera e também do Maracujá da Anabela), de todos vós. E Colega, mas assim mesmo, Colega, com letra grande. A sentir as vossas alegrias, tristezas e angústias
Quero deixar-vos uma mensagem de Esperança. Aliás, quero devolver-vos, acrescentada, a Esperança na Educação que me deram e que tão profundamente vos agradeço. As coisas estão feias, reconheço. As dificuldades são muitas, não duvido. As deserções doem, eu sei. A falta de reconhecimento pela função do Professor é injusta, sinto-o na minha carne também.
Mas, mesmo assim, eu julgo que os Professores são a última Esperança deste Portugal que se estilhaça em coisas mesquinhas. Nós, Professores, nunca usámos a força que temos, em comunhão (como no dia dos 100.000) para revolucionar. E precisamos de ser revolucionários. Não só por uma Avaliação justa. Não só por nós, mas pelos nossos jovens, todos, mesmo os que nos desesperam (esses mais do que ninguém), pelos que não têm maneiras, pelos que são grosseiros, violentos, indiferentes.

Vocês todos, aqui nomeados, são a minha Esperança no Futuro dos meus netos. E esse é, para mim, o melhor elogio que vos posso deixar.
Um abraço apertado da Avó Pirueta.
PS. Por me orgulhar disso, aqui vos mando mais alguns nomes por que sou conhecida: Mãe Bom-Dia, Mãe Descomplica, Irmã. São só alguns…


13 comentários:

Fátima André disse...

Querida Carmo,
Que palavras tão sabororas recebo ao pequeno almoço que vão encher todo o meu dia de alegria. Vou guardá-las no meu coração :)

Quero dizer-lhe que a porta continua aberta. Os seus textos e reflexões continuam a ter um cantinho especial no meu espaço. Eu agradeço em nome pessoal e dos meus leitores.
Um grande beijinho.

Raul Martins disse...

Palavras que arrebatam e nos calam fundo. Estaremos todos juntos contigo, como estarás connosco.
Pronto, vá lá... Um sorriso grande,com admiração e amizade.
Nós é que agradecemos a tua presença nas nossas vidas.
Carpe diem!

Fátima André disse...

Ainda aqui voltei porque não sei se consigo gerir tanta generosidade nas suas palavras. Para começar vou retribuir-lhe com uma outra história :)
Uma história que acho que se identifica muito consigo.
Espero que goste.
Ainda a tenho que escrever... logo, logo, afixo-a no meu cantinho.

JMA disse...

Querida Carmo
Neste solstício de Inverno, tu foste a claridade clara e a prova de que a humanidade existe. Bem hajas. Até sempre. Para sempre.

Teresa Martinho Marques disse...

Um enorme e sentido abraço. Pessoas raras e especiais estão sempre connosco... não importa de que forma... sabes bem que te trazemos ao peito... Um beijo para aninhar o abraço

EMD disse...

Oh Carmo, não vai deixar-nos não! O que escreve no seu blogue (e no dos outros) é tão intenso, tão sentido, que dá para reflectir, saborear e estimar durante muuuuito tempo.
Para a menina desapontada que vive dentro da avó esperançosa a saudação beirã, que prefiro sempre: Bem haja, Carmo, aqui ou em África.
Ainda bem que o amor não é paga direitos aduaneiros…

Anabela Magalhães disse...

Querida Avó Pirueta

As tuas palavras enchem-nos de orgulho e também de esperança. De esperança de alcançarmos também para nós um estádio desses "sem idade" aos 65 anos. Não é todos os dias que temos uma Avó Pirueta na Blogosfera!! Que orgulho!
Estamos todos juntos, sem nos conhecermos, mas tão próximos uns dos outros!!!
Assim continuaremos graças às novas tecnologias.
Bom regresso a "casa". Fica bem.
Agurdamos novas tuas nos nossos blogues espalhados por este país à beira-mar plantado.
Bjs

Anabela Magalhães disse...

Aguardamos, evidentemente!

Raul Martins disse...

Um bom trabalho, simplesmente!

O retrato mais adequado
para cada um soubeste dizer
qual mãe que de seus filhos
o seu perfil sabe tecer.

(E lá vem vindo a do "nome lindo"
ali o "semeador"
acolá o "lindo olhar"
e salta o "sorriso imenso"
e por esse rio acima...)

E a cada um foste deixando
aqui, acolá, em mil lugares,
uma palavra "presença", de alento,
de imensa partilha de saberes.

E agora que partes - permanecendo -
respondendo a um apelo premente
e que te inquieta, desejo:
UM BOM TRABALHO, SIMPLESMENTE!

Raul Martins disse...

E Carmo, eu já lá fui ver a história. E eu não sabia que era para si, mas quando a li pensei em si e comentei isso com a Fátima e não é que ela me disse que a tinha colocado lá para si. É sinal que a história que ela escolheu foi muito bem escolhida e diz bem com o que a Carmo é.
Espero notícias fresquinhas do país que me viu nascer.

Mil sorrisos!

EMD disse...

Enquanto espero notícias de África, vou relendo...
Que tal o mundo visto daí de cima?
Boa viagem, Carmo.
Um abracinho, para servir de almofada e dormitar.

«Ainda bem que o amor não paga direitos aduaneiros...», assim é que devia ser ali atrás!

Existente Instante disse...

Parte quem eu quero e deixo...
Quem já cá está não parte...quando muito reparte-se.
Por isso nem "Carmo", nem "Cruz" a sua partida. Ela vai ser som e luz, melodia e afago. Aquelas lonjuras-perto africanas, engolidas por aqueles olhos meigos e belíssimos, aqueles pedaços de vida trincados sofregamente por aquele "dentito" saliente, aqueles rostos acalentados pelas mãos esbeltas sulcadas pelos arados da vida, que parecem orações!
Posso dizer-lhe até já com... uma lagrimazinha?

EMD disse...

Oh querida e inquebrantável avó pirueta, já dei conta que chegou bem ao seu destino!
Vi-a por ali pelas bandas do Tâmega e, confesso, já tinha saudades.
Beijinhos.