terça-feira, 9 de setembro de 2008

Línguas e leituras

Como sabem, estou naquela condição privilegiada de estar "em férias" mais ou menos permanentes e poder fazer, também mais ou menos, o que me apetece. Angola, este ano, está fora de questão, embora continue a fazer umas coisas para lá via Internet. Esta benção que Deus me mandou através de um pé partido, que me obrigou a olhar para dentro e para fora de mim, trouxe-me a sabedoria de aprender a ver os meus limites.
Mas, felizmente, tenho-me habituado a este ritmo a que nunca, nunca estive habituada: tenho usufruído, como nunca, da minha condição de idosa para viajar de comboio, tenho visitado Amigos que não via há anos (que bom, reencontrá-los como se nos tivéssemos visto ontem!) tenho lido e ando a aprender Esperanto.
Imaginem, eu a aprender esperanto nesta idade! Mas o facto é que esta "tarefa" me espevita, puxa por mim, abre-me horizontes. Aprender esperanto é, para mim, uma espécie de busca da língua única que todos os homens usariam, de acordo com a Bíblia, e que a arrogância associada à construção da Torre de Babel teria baralhado de tal forma que ainda hoje andamos a falar cada um para si, quantas vezes.
Aviso desde já que leio o episódio bíblico simbolicamente, mas não deixa de fazer muito sentido.
Poderia ter-me virado para o mandarim, que parece uma opção útil e necessária para os mais novos, mas se ainda sou capaz de plantar uma árvore sabendo que outros colherão os frutos (e eu os abençoarei por isso), não me apetece aprender uma língua só por utilidade.
Aprender esperanto tem qualquer coisa de incomum na sua aparente inutilidade. Digo "aparente" porque muita gente me pergunta o que é que me deu na cabeça... Ora, não deu nada demais nem de menos: talvez eu sinta essa língua como um elo universal e, ao mesmo tempo, como um código quase secreto.
Já agora gostaria de partilhar com os que me lêem que li um livro que pode ser um pouco perturbador, mas que para mim o não foi. Chama-se "O Evangelho segundo Pilatos", o seu autor tem muito a ver com a obra, e pacificou-me em relação a questões que se me punham há muito.
A biografia de D. Luís encheu-me as medidas, gostei de ler "Rainha Ginga" e de reler as obras do costume: "Não matem a cotovia", "Cem anos de solidão", "O Livro das Lendas" de Selma Lagerlof.
Ah, queria partilhar convosco uma alegria, entre as muitas com que Deus me abençoou: consegui, de facto, embora com ajuda, criar um jardim na minha varanda! What's a wonderful World!