segunda-feira, 28 de julho de 2008

Divirtam-se, descansem, cultivem(-se), vivam um pouco mais devagar

Amigos,
como felizmente a minha Caixinha de Afectos se tornou muito grande e tenho receio de, por velhice, me esquecer de algum nome, não vos vou nomear. Mas quero deixar aqui a todos os Amigos, a todos os que me adoptaram como Avó, os votos muito profundos de que tenham umas óptimas férias. Vou sair da cidade por uns tempos e quero embeber-me na paisagem aldeã o mais completamente possível, o que não inclui Internet...
Portanto, por uns tempos, dou-vos descanso da minha presença diária. A todos, o meu Amor. Sim, Amor. Amizade é uma forma de Amor. Escrever um poste porque alguém conta com ele é uma forma de Amor. Fazer um comentário é uma forma de Amor. Amar é tão simples! E dar descanso também o é, ora essa!
Estou-vos imensamente grata pela paciência com que trataram esta anciã (!) e a recepção que me deram. Contem comigo para aquilo que eu possa ajudar. Trabalhar faz bem. E há tanta coisa em que posso ajudar: rever textos, fazer pesquisas, sei lá que mais! Estou aqui! Um abraço blogosférico ... Avó Pirueta

Vou dar férias... Vou para férias... E fazer bagi...

Ora, meus Amigos, eu agora estou naquela fase mágica da vida em que não tenho horários de trabalho, faço o que quero, às horas que quero, portanto, estou sempre de férias.
Aparentemente, mas de facto, mesmo as actividades em que me meto fazem parte do meu prazer de férias.
Por isso, e depois de passar a receita do bagi de batata para o Clap; Clap, Clap, etc. Clap, o que vou fazer de seguida, vou também dar férias: aos Amigos que me lêem e ao blogue.
Aproveitem bem, organizem-se, amem, beijem, abracem, digam às pessoas que amam que as amam, não deixem nada dessas coisas para amanhã. Porque, reparem:

É manhã. Já canta o galo.
Já canta o galo. É manhã.
Já canta o galo? Deixá-lo!
Quem sabe se vão matá-lo
E já não canta amanhã?!
O mundo está cheio de galos
que não cantam amanhã!


Clap, aqui vai o bagi de batata
Ingredientes para 3 ou 4 pessoas: 4 batatas grandes ou 6 médias; uma cebola grande, bem picada; duas colheres de sopa bem cheias de sementes de mostarda castanha; 10 folhas de caril; 4 malaguetas verdes, uma colher de chá de cominhos moídos; uma colher de chá bem cheia de açafrão das Índias; coentros frescos; 3 colheres de óleo de amendoim; alguma água.
As folhas de caril e as sementes de mostarda compram-se nas lojas dos indianos. As folhas de caril deveriam ser frescas e chamam-se, na verdade, folhas de caripat. Não há frescas mas há estas secas que servem muito bem.
Descasca-se as batatas e cortam-se em cubinhos de uns 5mm de lado. Quando estiverem todas cortadas, cobrem-se com água e sal e devem ficar assim pelo menos 10 minutos.
Num tacho, põe-se as três colheres de sopa de óleo de amendoim e quando estiver quente, lança-se as sementes de mostarda e deixam-se estalar. Junta-se a cebola ficada e fica a estrugir um bocado. Quando começa a gritar por água, juntamos as batatas escorridas, as folhas de caril, as malaguetas cortadas aos pedaços e o açafrão. Mexe-se e acrescenta-se água. Deve ficar no fim com muito pouco líquido. Coze em fogo lento e quando as batatas estiverem praticamente cozidas junta-se os cominhos e, a terminar, os coentros frescos cortados aos bocados, mesmo à mão.
Serve-se assim, como aperitivo ou com um simples ovo estrelado ou escalfado, serve de refeição.
Espero que gostes e informo que hoje fiz o bolo de cenoura com a cobertura de chocolate e estava uma delícia...

domingo, 27 de julho de 2008

Hoje foi a pensar em Henrique V, de Inglaterra

Lawrence Olivier no papel de Henry V, na batalha de Azincourt
Hoje acordei a pensar no discurso de Henrique V, na peça de Shakespeare com o mesmo nome e que o Rei fez aos seus pouco mais de 10 000 soldados que se preparavam para lutar com mais de 60 000 franceses. Foi no dia de S. Crispim ou S. Crispiniano (25 de Outubro de 1415) e aparece muitas vezes referenciado como "O Discurso de S. Crispim". Para o entendermos melhor é bom que recordemos que muitos cavaleiros da mais alta nobreza pensavam desistir devido à enorme disparidade de forças, especialmente o conde de Westmoreland, primo do monarca. Mas o Rei galvanizou-os para a vitória de Azincourt (Guerra dos Cem Anos) com o seu discurso. Que vos apresento numa tradução nem muito livre nem muito fiel.
Aqui vai;
"Quem expressa esse desejo de mais soldados? Meu primo Westmoreland? Não, meu simpático primo; se estamos destinados a morrer, o nosso país não tem necessidade de perder mais homens do que nós temos aqui; e, se devemos viver, quanto menor for o nosso número, maior será a parte da honra para cada um de nós.
Pela vontade de Deus! Não desejes nem mais um homem, te rogo! Por Júpiter! Não sou avaro de ouro, e pouco me importo se vivem às minhas expensas: pouco me importa que outros usem as minhas roupas: essas coisas externas não encontram abrigo entre as minhas preocupações. Mas se ambicionar a honra é pecado, sou a alma mais pecadora que existe. Não, por fé, não desejes nenhum homem mais da Inglaterra. Paz de Deus! Não quereria, pela melhor das esperanças, expor-me a perder uma honra tão grande, que um homem a mais poderia talvez querer compartilhar comigo. Oh! Não anseis por nenhum homem a mais! Proclama antes, através do meu exército, Westmoreland, que aquele que não for com coração à luta, poderá retirar-se: dar-lhe-emos um passaporte e poremos na sua mochila algum dinheiro para a viagem; não queremos morrer na companhia de um homem que teme morrer como companheiro nosso.
O dia de São Crispim: este dia é o da festa de São Crispim; aquele que sobreviver a este dia voltará são e salvo ao seu lar e colocar-se-á na ponta dos pés quando se mencionar esta data, ele crescerá sobre si mesmo ante o nome de São Crispim. Aquele que sobreviver a este dia e chegar à velhice, cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é dia de São Crispim". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no dia de São Crispim."
Os velhos esquecerão; mas, aqueles que não esquecem tudo, lembrar-se-ão todavia, com satisfação, das proezas que levaram a cabo neste dia. E então os nossos nomes serão tão familiares nas suas bocas como os nomes dos seus parentes: o rei Harry, Bedford, Exeter, Warwick e Talbot, Salisbury e Gloucester serão ressuscitados pela recordação viva e saudados com o tilintar dos copos. O bom homem ensinará esta história ao seu filho, e desde este dia até o fim do mundo, a festa de São Crispim e Crispiano nunca chegará sem que venha associada à nossa recordação, à lembrança do nosso pequeno exército, do nosso bando de irmãos; porque aquele que verter hoje o seu sangue comigo, por muito vil que seja, será meu irmão, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que permanecem agora no leito em Inglaterra considerar-se-ão como malditos por não estarem aqui, e sentirão a sua nobreza diminuída quando ouvirem falar daqueles que combateram convosco no dia de São Crispim."
Levantei-me e fui ler o texto: em inglês e nesta tradução que fiz há tempos e fiquei a pensar: "Por que é que me lembrei deste discurso? " Neste momento, penso que sei. Sei que temos uma grande batalha a travar pela verdadeira Educação, somos poucos a enfrentar muitos, mas será uma honra nunca esquecida se conseguirmos arrumar esta casa. Infelizmente (e não sou nada de me queixar da idade), precisaria de ter menos 20 anos. E esta ira que não considero pecado, esta vontade de fazer valer o que é importante, esta coragem de denunciar o que é trabalho de impostores.

sábado, 26 de julho de 2008

Ser ou não crente

Ontem mostrei como um Pai mostrou ao filho o que era a verdadeira coragem. Hoje, se me permitem, quero falar de Amor. Por causa de Deus.Por causa dos deuses. Por causa do Medo. Por causa da Esperança.
Hoje há uma ideia de que a Fé, a religiosidade, pela menos a católica, está a decrescer. O Homem, se acredita em alguma coisa, dizem, acredita em si próprio. Há também, trazida pelos media, a ideia de que religiões como o islamismo por uma lado e religiões orientais, como o budismo e o hinduismo, estão a seduzir cada vez mais pessoas.
Não contesto nem confirmo nenhuma destas ideias. O que eu sinto é que, apesar de tudo, as pessoas procuram Deus. Procuram-n'O nos lugares mais estranhos, mas procuram-n'O. Porque eu sinto que a nossa vida precisa de Deus como meta e farol.
Há muitas pessoas que dizem que a Igreja é que estragou a Fé. Ora, quando dou catequese, a primeira coisa que digo aos meninos é que a Igreja que nos interessa não é aquele edifício feito de pedra, de barro, de paus e folhas secas. Isso é uma casa, que, mais tarde, pode servir para outra coisa qualquer. A Igreja são os cristãos todos juntos. Mas, entre adultos, ouso ir mais além: a Igreja é o conjunto de todos os Homens e Mulheres de Boa Vontade que vivem de acordo com a verdadeira consciência, a ética, a solidariedade.
A Igreja tem afastado crentes por ser constituída por homens e mulheres que, humanos que são, fraquejam. Ora eu não acho que nos devamos afastar daquilo em que acreditamos porque outros fazem mau uso disso. Cada um é livre, pois Deus fez-nos livres de escolher como agir e viver.
Portanto, quando ouço dizer a alguém que não é crente, não acredito à primeira. E, em 80% dos casos tenho razão: as pessoas já crêem nessa altura, já andam preocupadas com Alguém que lhes faz falta para as preencher completamente. Já andam à procura sem o saberem.
É claro que também há os deuses: o dinheiro, a fama, o orgulho, o poder, só para citar os mais conhecidos.
Mas todo aquele que não deseja mal, que não faz mal, que respeita os outros, que os ajuda se e quando necessário, que está presente sempre que é preciso, que é capaz de partilhar o que é seu com outros (seja riqueza, conhecimento, sentimentos), esse é crente. Esse é um ou uma entusiasmada pela Vida, pelo Outro, pela Terra. E esta palavra quer dizer, etimologicamente, "ter o deus em si".
É claro que temos o outro lado da questão - o que diz: eu sou crente mas não vou à Missa. E por que não? É um sinal público de que se crê. Porque Jesus disse que Ele estaria onde estivessem dois ou mais reunidos em Seu nome. E quem estiver sozinho? Não se preocupe. Afinal, eu estou convencida (Deus me perdoe) que as igrejas se enchem de gente sem Fé, sem Esperança, sem Amor. Por hábito. Por vista. O que interessa é que façamos o que façamos, o façamos com convicção e Amor.
Deus, o meu Deus, que é o de toda a gente, não é uma Pessoa. É Amor. É Alegria. É Compaixão. Deus é uma Festa contínua, mesmo quando sofremos, porque conseguimos ver algum objectivo no nosso sofrimento.
Ele conhece-nos a todos, um por um. Ama-nos tanto que colocou entre nós o Seu Filho Deus, Jesus Cristo. O que fez Jesus de extraordinário? Milagres? Não, Jesus nem sequer gostava de fazer milagres. Ele pedia que não os contassem a ninguém. Jesus viveu em Verdade. Viveu e morreu como um Homem, com a única diferença de que achava que todos eram dignos de Amor. E que o Amor era para se mostrar, fazendo, agindo e não simplesmente rezando.
Portanto, meus Amigos que dizeis que não sois crentes, como agis de acordo com os principais mandamentos - de facto, só há um: amai -vos uns aos outros - sois crentes. O que, não tendo eu nada com isso, me faz feliz. Porque talvez eu me torne mais capaz de me encontrar um dia com todos os que amei num lugar de infinita Alegria e Paz. Desculpem a homilia.
PS. Sei que corro riscos, mas isso é um risco de quem tem Fé e a quer mostrar. E um dia destes, vou dizer-vos o que penso da deserção do encontro dominical...

Receitas prometidas, porque o prometido é de vidro...


Não precisam de legenda, pois não?

Então, como o prometido é de vidro e não quero que se quebre, aqui vai o meu bolo de cenoura (que geralmente faço num tabuleiro e não numa forma redonda):
Ingredientes:
1/2 chávena (chá) de óleo
3 cenouras médias raladas na varinha mágica
3 ovos
1 chávena e meia (chá) de açúcar
2 chávenas (chá) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó só rasa, isto é, mal cheia.

Como se faz:
Antes de mais nada, barra-se um tabuleiro ou forma com manteiga e salpicado de farinha e liga-se o forno a 180º.
1. Bate-se tudo no liquidificador, primeiro a cenoura com os ovos e o óleo, depois os outros ingredientes, um a um, misturando tudo, menos o fermento.
2. No fim, junta-se o fermento, misturando-o com uma colher de pau autorizada pela ASAE;
3. Vai ao forno pré aquecido (l80ºC) durante 40 minutos. Se for em tabuleiro, como é mais baixo, é melhor verificar pelo método científico do palito a partir dos 30 minutos.
Cobertura:
Esta cobertura é uma perdição e raramente me permito fazê-la cá em casa por causa das curvas mas é óptima!!!
Derreto uma tablete de chocolate no micro-ondas, depois despejo e mexo, ao mesmo tempo, uma lata de leite condensado magro, até estar tudo bem homogéneo e cubro o bolo. Depois contem-me!
Bolinhos de chuva
Os bolinhos de chuva, nome brasileiro, são os conhecidos belhós da Beira Litoral, que se fazem num instante, especialmente quando aparece alguém e estamos desguarnecidos...
Eu faço assim: uma chávena grande de farinha de trigo já com fermento, 2 duas boas colheres de leite em pó, 2 colheres de açúcar, 2 ou 3 ovos, raspa de limão. Misturo tudo com um garfo ou batedeira e acrescento a água ou leite necessário para ficar uma massa fluída e a fazer bolhas. É muito rápido. Depois, frito às colheradas, deixo escorrer e polvilho com açúcar e canela.
Estes eram os meus presentes no Ofertório em espécie para os meus queridos padres italianos.
Bom apetite.
Ainda cá hei-de voltar hoje, se o Senhor quiser, mas com uma receita de Deus.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Não matem a Cotovia ou O que é a Coragem?


Jem, o filho mais velho do Dr. Atticus Finch está a entrar na adolescência e tem uma certa "vergonha" do Pai porque, tendo casado tarde, não partilha com o filho muitas brincadeiras: cansa-se a jogar a bola, não pode subir a árvores, etc. Numa tarde de Verão aparece na rua um cão com raiva e, com grande espanto de Jem e de Scout, a filha, todos imediatamente se lembram de ir ao seu consultório buscá-lo, porque sabem que ele é o único capaz de matar o animal, misericordiosamente, com um só tiro. Então Jem pensa que afinal o Pai é um homem de coragem por possuir essa capacidade. Vou transcrever o diálogo entre Pai e filho sobre o que é a Coragem. A conversa decorre depois de ele ter sido chamado a casa de Mrs Dubose, uma senhora à antiga que sofria tantas dores que era obrigada a tomar morfina, receitada pelo médico, e que acabara de morrer. Mas quis morrer livre dessa prisão e sofreu horrores quando deixou, por sua livre vontade, de a tomar. Nesses momentos de sofrimento pela falta da droga - creio que se chama síndrome de abstinência - Jem, de castigo (não vou contar a história toda aqui...) lia-lhe um livro. Entretanto, mais uma vez os meus olhos se iluminaram ao ver aquele que sempre considerei o meu Actor preferido...

- O que é que ela queria? - perguntou Jem.
- Ela morreu, filho. Faleceu há alguns minutos.
- Oh, -murmurou Jem - Bem...
- Bem, exactamente - comcordou Atticus. - Já deixou de sofrer. Esteve doente durante muito tempo. Filho, não sabes o que eram aqueles ataques? - Jem abanou a cabeça - Mrs Dubose era viciada em morfina. Tomava-a como analgésico. O médico dela é que lha receitara. Ela teria de viver o resto da vida dependente da droga e morreria sem muitas dores, mas era demasiado caprichosa... Mrs Dubose disse-me que queria libertar-se do vício antes de morrer e foi isso que fez.
- Queres dizer que os ataques dela eram por causa disso? perguntou Jem.
-Sim, eram por causa disso. Durante a maior parte do tempo em que lias duvido que ela ouvisse uma palavra do que dizias. A sua mente e o seu corpo estavam concentrados naquele despertador.
- Ela morreu livre? perguntou Jem.
- Como o ar da montanha - respondeu Atticus. - Esteve consciente até ao fim, quase. (...) Filho, disse-te que se não tivesses perdido a cabeça, eu ter-te-ia obrigado a ires ler-lhe. Queria que descobrisses nela uma coisa... queria que visses o que é a verdadeira coragem, em vez de ficares com a ideia de que a coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é quando sabes que foste vencido ainda antes de começares, mas começas apesar disso e acabas o que tens a fazer., independentemente do que possa acontecer. É raro ganhar-se mas às vezes acontece. Mrs. Dubose ganhou, com os seus quarenta e quatro quilos. Segundo as suas noções, ela morreu sem dever nada a ninguém. Foi a pessoa mais corajosa que conheci.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Ofertas e Ofertórios

Esta fotografia foi tirada na Igreja de Marracuene, em Moçambique, num domingo de Maio de 2006, porque estou com um casaco, o que significa que está frio. E como "em Roma, sê Romano", também não dispensei a capulana à volta da cintura, roxa como convinha a uma viúva. Lembrei-me de a ir buscar para ilustrar um pequeno texto que irei "roubar" a Harper Lee, na sua única obra escrita "Não matem a cotovia".
Mas primeiro deixem-me explicar de que trata a foto: é o Ofertório em espécie. Embora haja um Ofertório em que quem pode oferece uma moeda (e parece que não há absolutamente ninguém que não dê), há depois o ofertório em espécie, em que os fiéis dão do que têm para o sustento dos seus párocos. Em Marracuene eram, há dois anos, dois Padres italianos, ainda jovens. Agora o mais jovem já voltou para Itália por motivos de saúde.
Como se vê, cada pessoa leva do que tem: banana, coco, abacaxi, batata doce, abóbora, quiabos, um peixe seco ou fresco (nunca vi mais do que um por Missa), massarocas e, nos dias grandes (Páscoa, Natal e no dia da festa da Igreja) uma galinha.
Os padres terão que se governar com o que recebem, as moedas valem muito pouco e sobrevivem porque a sua Congregação os ajuda. Mas vivem com muita frugalidade, iso posso garantir.
Ora, se repararem bem, ali vou eu na procissão e levo um tabuleiro coberto com um pano branco. O que levo? Um bolo de cenoura que os padres adoravam. Coitadinhos (as Irmãs da minha Congregação tinham a mania de dizer que eu pensava que eles eram meus filhos), com uma vida tão espartana, pelo menos ao domingo tinham um miminho.
A descrição prolongou-se - a Missa também, porque nunca demorava menos de 3 horas, bem mexidas, com cantos e danças - e o texto do livro fica para outra vez. Era também a descrição do ofertório numa Missa numa igreja de negros em Atlanta, onde o pastor mandou fechar a porta para ninguém sair até a colecta dar 10 dólares, quantia que ele achava o mínimo para ajudar uma família em apuros. A descrição é feita a partir dos olhos e da inocência de uma garota de 6 anos e é uma delícia.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Para que servem os livros?

Em tempos que já lá vão pedi ao escritor e poeta Manuel António Pina que fosse à "minha" Filipa falar com alunos e professores, na inauguração da nossa nova biblioteca, sobre livros. Foi no dia 23 de Abril de 2002. Sem lhe pedir autorização, passo a transcrever o que ele disse e que hoje pode ser visto emoldurado na dita biblioteca. Esta escolha faz parte da minha terapia de cura...

PARA QUE SERVEM OS LIVROS?

Há muitos anos, num infeliz livro de Joaquim Namorado, li um aflitivo poema intitulado “Viagem aos Mares do Sul”, cuja estrita prosa dizia qualquer coisa do género “Eu não fui lá”. Quem, como eu, tivesse andado por aqueles mares todos com Salgari, e Stevenson, e Somerset Maugham, e também com Gauguin, e por esses mares e pelos outros com Conrad e com Fernão Mendes Pinto, e tivesse viajado por África com Roussel, ido à Lua com Júlio Verne e com Cirano de Bergerac, e a Vénus e a Nova Iorque com Ray Bradbury, e aos pólos com Jack London, ou tivesse andado atrás do ouro do Alasca com Charlot, e do ouro californiano com Blaise Cendrars, e tivesse vivido todo o género possível de aventuras, na China, no Tibete, nos Andes, nas Arábias, e um pouco por todo o lado, com Tintin, e tivesse combatido em Tróia com Aquiles e Agamémnon, descido aos Infernos com Ulisses, e iludido Circe, e vencido os pretendentes, durante horas tiradas ao sono e às sebentas, ou com Rilke, com Elliot, com Pessoa, tivesse andado perdido pelos obscuros territórios da alma e dos sentidos, haveria de ter tido, como eu, uma pena imensa da incapacidade do poeta para sair de casa.

Para isso servem também os livros, para sair de casa. E a pintura, o cinema, a música. E para regressar, quando os olhos e o coração se cansam, a casa.

Borges imaginou o mundo como babilónica biblioteca; os cabalistas imaginaram-no como um imenso livro por ler. E Rilke evoca, julgo que no “Livro das Horas”, as vastas mãos de Deus que folheiam o Livro do Princípio, que é o Livro do Mundo porque, como ensina Thomas Brown, a arte é a natureza do homem e a natureza é a arte (e a literatura) de Deus.

Tudo está eternamente escrito. E eternamente, e cesarinymente, em Quito. Isto é, em qualquer sítio da estante. O leitor é um Deus fugaz, e o escritor é provavelmente um leitor lendo por escrito. Não há Mares do Sul, não há Lua, não há alma, fora dos livros e de nenhuma outra forma é possível ir seja onde for levando-nos a nós próprios. Eu é que sei, que já me aconteceu, uma vez ou outra, e por dever de ofício, estar nos Alascas sem Jack London, e em Verona sem Shakespeare, e voar sobre o Pólo Norte sem Júlio Verne, e andar por Tóquio e por Kyoto sem Bashô, e por Macau sem Camilo Pestana, e pelo Nordeste sem João Cabral e sem João Guimarães Rosa, e por Lisboa sem Cesário, e por dentro e por fora de mim próprio sem Pessoa e sem Santa Teresa de Ávila; eu é que sei, que não há outra forma de ir, nem de estar, seja onde for. Escrever livros, e ler livros, ou cantar, ou pintar, é a única forma de sair de casa. De viver, como está escrito no Livro do Tao.


terça-feira, 22 de julho de 2008

Onde estão a Ética, a Solidariedade e o Bom-Senso?

Devo estar doente. Mas não se preocupem. É, a ser, o tipo de doença que eu mesma terei que tratar. Os sintomas são estranhos: vejo e leio coisas e não acredito, pelo que estou a ganhar a paranóia de que todos se conluíaram para me enganar.
Por exemplo, li num jornal de hoje que, em Itália, duas crianças morreram afogadas e os seus corpos ficaram algum tempo nas areias da praia, à espera de serem retirados. Entretanto, os banhistas que enchiam o areal procederam como se nada se tivesse passado: brincaram, nadaram, jogaram, comeram, beberam, mesmo ao pé dos corpos infantis mal cobertos por uma toalha. E alguém insinuou que aquela indiferença cruel se deveria, talvez, ao facto de as crianças serem ciganas.
Vocês, os Amigos que me lêem, podem fazer-me o favor de me dizer se isto é verdade?
A minha empregada, mais minha filha que empregada, recebeu um telefonema para ir trabalhar para mais uma casa. E isso porque, sendo só nós agora, ela e eu, a Gorete tem muito mais tempo livre e pode ganhar mais. Ela continua comigo porque, além da amorável companhia que me faz, nós, eu e o meu Marido, a convencemos a fazer uma compra na base de que, enquanto um de nós fosse vivo, ela teria emprego. E avisámos os nossos filhos.
Bem, mas a Gorete tem o horário super-cheio e disse que não podia. No entanto, iria telefonar a alguém que estava livre e lhe parecia de confiança. Telefonou, à minha frente, a uma jovem de 33 anos que vive do Rendimento Mínimo. Que não aceitou, porque, palavras dela, não dobrava as costas por cinco euros por hora para limpar a casa dos outros. A Gorete jura que esta foi a resposta e assim também me pareceu. Mas isto pode ser verdade?
Não temos dinheiro para mandar cantar um cego, mas garantem-me que a penúltima ministra da Cultura gastou uns bons milhões só para preparar a possível vinda de um pólo do Museu Hermitage. A Inglaterra não aguentava os custos de manter o pólo. Parece, de facto, um raciocínio lógico: eles não aguentavam mas nós não somos desses... E agora ficou tudo em águas de bacalhau. Dizem-me e também li no jornal. Poderá ser?
Muitos Professores podem ser excelentes, verdadeiramente excelentes, mas só em privado, com a sua consciência e junto dos seus alunos. Porque, com os seus pares, já é mais difícil eu acreditar que sejam vistos assim. O Governo destinou quantos excelentes poderia haver por escola! Não pode ser verdade! Alguém anda a tentar fazer com que me sinta louca.
Os ciganos têm orgulho nas suas tradições mas já não lhes apetece ser nómadas. Muito bem. Dizem que por aqui estão há 500 anos. Melhor ainda, porque eu estou há muito menos tempo e juro que sou portuguesa. Querem ser portugueses, tratados como portugueses, mas não ter que agir como os portugueses fazem em geral: pôr os filhos na Escola, tratar das vacinações, ter emprego e fazer descontos, coisas assim comezinhas. Só se alguém lhes der um empurrãozinho. Excepto que grande parte também recebe o tal rendimento mínimo. Não querem ser discriminados, mas também não querem viver com negros. Uns e outros, a viver em casas de renda económica, guerreiam-se e já se toma partido. Geralmente pelos mais claros. Mas quem eu ontem vi na TV, a marchar pela Paz, foram os escuros! Alguém me anda a enganar!
Amigos, este não é o Portugal em que quero viver. E mesmo quanto ao que se passou em Itália, vou adiantando que esta também não é a Europa a que quero pertencer. Sou exigente: não me importo de dormir no chão, de tomar banho de chuva, de passar um mês ou dois sem comer carne, mas sinto-me mal a viver num pais e num continente onde a Ética está moribunda, a Solidariedade está de férias e o Bom-Senso foi enterrado com música e foguetes, como numa Queima das Fitas. Isto num Pais que nasceu em 1143.
Digam-me, por favor, que tudo isto é mentira.
PS. Por favor, se comentarem, não se cansem a falar da corrupção africana, que eu não nego que exista. Só que "quem tem telhados de vidro não deve andar à pedrada" e não é de bom tom cuspir para o ar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O que a gente não sabe, o que sabe e o que julga que sabe



D. Teresa, condessa do Condado Portucalense

Ultimamente tenho dado vazão ao vício e tenho lido que nem uma desalmada. Imobilidade oblige. Não me tem apetecido ler romances, narrativas, o que às vezes até me parece impossível, porque adoro uma boa história. Não sei que me deu, ando muito de volta da História, nossa e dos outros. E por causa disso, tenho tido necessidade de rever umas poucas de "verdades" que eu tinha como imutáveis, irrefutáveis e estáveis, além de outros adjectivos que rimam com estes...

Ora vamos lá falar de algumas: achei que Charles Lindbergh era um autêntico herói, até que li "A Conspiração contra a América" e quase chorei por mim: era nazi, impenitente até ao fim, tudo fez para que o seu país se aliasse a Hitler.

Tinha uma admiração extrema por Churchill, achava que Lawrence da Arábia era um Herói a sério, daqueles aventureiros que parecem trazer um Anjo da Guarda imenso a livrá-los de todas as ciladas e um Conselheiro de outro Universo a dizer-lhe o que e como há-de fazer. Pois. Estou a ler "A Loucura de Churchill" e a perceber como nasceu o Iraque, como se pega em povos e nações e se faz um redil para os pôr lá, como se de carneiros se tratasse, e como nós estamos a pagar a conta.

Imaginava, pobre de mim, que Calouste Gulbenkian se tinha apaixonado por Portugal, tão rústico e pobrezinho, e por isso cá tinha deixado a sua imensa fortuna, com a gratidão do Dr. Oliveira Salazar e nem vos digo onde descobri que as coisas não são como se pintam, que o senhor mudou de nacionalidade várias vezes, chegou a ter mais do que uma, umas vezes comprava-as, outras vezes tiravam-lhas, enfim Rocambole no seu melhor, com o petróleo e ele a jogarem às escondidas e aos cinco cantinhos.

Comecei a ler "D. Teresa, a primeira rainha de Portugal", de Marsilio Cassotti, e este senhor está a provar-me por A mais B que a mãe de D. Afonso Henriques nem era devassa nem queria roubar o filho. Era, pelo contrário, uma mulher inteligente, com uma estratégia assombrosa para o seu tempo, que nunca se deixou diminuir por ser filha fora de casamento e nem autorizou a irmã, princesa real, (agora têm que desculpar o vernaculismo em coisa tão séria...) " a passar-lhe a perna".

A batalha de S. Mamede não teria sido bem assim como nos têm contado e não há provas de que a pobre, viúva cedo, tenha tido qualquer caso amoroso com o conde Fernão Peres de Trava. Ah, e pelo caminho, ainda me provam que D. Afonso Henriques não teve Egas Moniz como aio!

Bem, eu sei que são autoridades na matéria, mas já repararam que agora tenho que reformatar a minha História? A obra "1808" também me fez mudar de ideias sobre D. João VI, e para melhor, graças a Deus. "A Primeira Aldeia Global", afinal criação portuguesa, também me fez aumentar a auto-estima nacional e "Este País que nos pariu" provou que nem todos os filhos são ingratos... Mas vamos ver o que vou a ficar a não saber quando acabar de ler a minha colheita de férias...

domingo, 20 de julho de 2008

O que é a Felicidade?



Um Presente

Ontem recebi um Presente. Assim, maiúsculo. Um Presente que devorei. Quem mo deu sabe o valor do que me ofereceu. Não é necessário ao entendimento deste poste nomeá-lo.
Hoje, enquanto esperava que o meu Filho Rui me viesse buscar para passar pelo menos parte do dia com a família, estava a ver um programa na TV que falava da busca da Felicidade. Só vi e ouvi muito pouco. Porque não quis ouvir mais. Porque começo a crer que há mais charlatães do que o concebível. E lembrei-me de uma fatiazinha do meu presente. Vou transcrevê-la para quem me visita nesta casa de todos os que vêm por bem:


“E a felicidade, o que é?”perguntou um outro homem ao Senhor das Estórias.

“Felizes são aqueles que têm saudades de Deus,
Porque o Reino dos Céus lhes pertence.
Felizes são os tristes,
Porque consolo lhes será dado.
Felizes são os de espírito manso:
Porque a terra lhes será dada como posse.
Felizes são os que têm fome e sede de justiça,
Porque serão satisfeitos.
Felizes são aqueles cujo coração deseja uma só coisa.
Porque eles verão a Deus.
Felizes são os que lutam pela paz,
Porque Deus os terá como filhos.
Felizes são os que têm sofrido perseguição por causa da justiça,
Porque o Reino dos Céus lhes pertence.”



A receita para ser feliz é tão simples! Mas na campa do meu Marido eu escrevi mais uma razão para o ser: "Felizes aqueles que deixam um sorriso por herança".


Gostaria ainda de copiar o que está escrito para o dia 20 de Julho na obra "Não há soluções - Há Caminhos", do Padre Vasco Pinto de Magalhães, que ainda tem como subtítulo "365 vezes por ano não perguntes porquê mas para quê".

A refllexão é curta, o resultado dela terá o tamanho que quisermos:
"Aquele homem queria ir para África ajudar os mais necessitados. Descobriu o sítio certo e com quem o realizar. Mas depois não contactou a organização, não comprou o bilhete e sentou-se em casa a sonhar como seria... Afinal, não queria, ou ainda não queria! Porque o sinal de querer mesmo é pôr os meios para lá chegar. Quem quer os fins, quer os meios."


Um dia destes continuarei com a Avaliação de desempenho.

sábado, 19 de julho de 2008

Avaliação de Desempenho do corpo docente de Angola - Parte II

Isto é uma escola angolana do interior, pouco depois de ter terminado a guerra. Vemos a figura digna do Professor e o entusiasmo de um grande grupo de crianças que, certamente, após a foto, entraram e se sentaram no chão para seguir o que o Professor ensinava. E aprendiam. Só com uma lousa. Ou uns papéis e uns lápis.

Voltemos, pois, à Avaliação de Desempenho:
Artigo 6º: Tipos de avaliação
1. A avaliação de desempenho do corpo docente, técnicos pedagógicos e especialistas de administração da educação é tipificada como comum ou especial.
2. O processo comum da avaliação de desempenho efectua-se anualmente até ao mês de Janeiro, relativamente ao ano lectivo anterior.
3. O processo especial de avaliação efectua-se por iniciativa dos interessados e visa propiciar-lhes:
a) a possibilidade de acelerar a progressão na carreira, por força de especialização:
b) a correcção de classificação negativa obtida na avaliação comum.
4. Para a efectivação do previsto na alínea b) do número anterior, o pedido de abertura do processo especial de avaliação deve ocorrer depois, de, pelo menos, seis meses da data da avaliação negativa.
Artigo 7: Classificação
1. A classificação a atribuir no processo de avaliação desempenho do corpo docente, técnicos pedagógicos e especialistas de administração da educação é a seguinte:
a) muito bom, de 18 a 20;
b) bom, de 14 a 17;
c) suficiente, de 10 a 13;
d) mau, de 0 a 9
Artigo 8º: Graduação dos indicadores de avaliação
1. Cada um dos indicadores de avaliação a que se referem os modelos anexos ao presente diploma é susceptível de graduação em quatro posições, ponderadas em 5, 10, 15 e 20.
2. A cada indicador é atribuído um coeficiente de ponderação 3,2 e 1.
3. A determinação do valor de cada indicador é obtida pela multiplicação do respectivo coeficiente de ponderação, com a graduação atribuída.
4. A classificação final de cada docente, técnicos pedagógicos e especialistas de administração da educação é obtida pela soma dos valores atribuídos aos indicadores, divididos por 10.

Num dos próximos postes irão mais alguns dados. Espero que isto vos diga alguma coisa.
Ah, os indicadores da Avaliação de Desempenho dos docentes, técnicos pedagógicos e especialistas de administração da educação são os seguintes:
1. Qualidade do trabalho
2.Aperfeiçoamento profissional
3. Espírito de iniciativa/inovação pedagógica
4.Responsabilidade
5. Relações humanas

Hoje não há mais. Para não cansar...


sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sistema de Avaliação de Desempenho da Educação de Angola


Só para variar, vou falar hoje do Decreto7/08, de 23 de Abril, que apresenta o Sistema de Avaliação de Desempenho, "adequado à matriz do novo Estatuto da Carreira dos Docentes do Ensino Primário e Secundário, Técnicos Pedagógicos e Especialistas de Administração da Educação".
Lembrei-me de mostrar algumas cláusulas, talvez porque uma das coisas positivas que o Primeiro Ministro fez lá ontem em Luanda foi concertar o envio de 200 Professores portugueses para ajudar no ensino secundário. Como devem ter ouvido, esses Professores (espero que mereçam a maiúscula) vão ser remunerados com um fundo criado a partir do pagamento de Cabora- Bassa. Uma espécie de justiça poética...
Eu tenho pena de não ser mais nova para poder solicitar o ingresso neste contingente. Mas não posso pensar que ainda sou capaz e tenho de me consolar com a ideia de que posso fazer outras coisas. Contudo, quero frisar que esta Resolução é do melhor que há: os Angolanos querem aprender e não têm quem os ensine. Embora espere que alguém se lembre de fazer uma formação específica para os Professores que aderirem... Porque estas coisas, para serem a sério, não é é como alojar pessoas em bairros onde é preciso saber viver e não os ensinar antes, não os enquadrar...
Bem, mas vamos ao Sistema de Avaliação:

Artigo 2º: Objectivos da Avaliação:
a) despertar nesses trabalhadores a necessidade de superação constante, capacitando-os científica e pedagogicamente para as suas tarefas quotidianas;
b) incentivá-los para a disciplina pessoal no cumprimento de todas as tarefas diárias ou periódicas que concorram para a planificação, organização ou execução da actividade laboral;
c) contribuir para o aumento do seu prestígio social e brio profissional.

Artigo 4º: Incidência
1. A avaliação do desempenho do pessoal docente, técnicos pedagógicos e especialistas de administração da educação incide sobre a actividade docente, a gestão e administração da educação, a disciplina profissional e as tarefas complementares, em conformidade com a Secção I, do Capítulo IV, do Estatuto da Carreira dos Docentes do Ensino Primário e Secundário, Técnicos Pedagógicos e Especialistas de Administração da Educação.
2. A atribuição da classificação negativa determina suspensão na contagem de tempo de serviço, relativa ao período a que a avaliação de desempenho se reporta, para efeitos de promoção.
3. A atribuição de duas classificações negativas consecutivas é condição suficiente para a instauração de processo disciplinar, por incompetência profissional".

Hoje fico por aqui. Julgo (só agora tal ideia me veio à mente) que não estou a cometer nenhuma ilegalidade. Porque, se os que por aqui passarem demonstrarem interesse, tenciono ainda acrescentar o carácter da avaliação, as classificações, a graduação dos indicadores de avaliação. Interessantes e muito tangíveis.
O simples facto de 200 Professores poderem ir para Angola ensinar, provavelmente outros Professores, enche-me de orgulho e faz-me sentir feliz. Aviso, contudo, que eu já falo muito "angolês" quando por lá ando...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mensagem nº3: Viagem do Governo a Angola: Boas-maneiras

OS IMPORTANTES COMEM À PARTE

Telefonaram-me a contar e eu não queria acreditar. Por cá, não tinha ouvido falar do caso, mas também me parecia que, para visita secreta, era gente a mais. Bem, o caso é este: neste momento está a decorrer em Luanda a FILDA e hoje era o dia de Portugal. Então, mais ou menos em cima da hora (pelo menos é o que me pareceu, porque eu leio jornais), o nosso Primeiro Pinistro, acompanhado dos Senhores Ministros das Finanças, da Economia, dos Negócios Estrangeiros, Secretários de Estado da Cooperacão e do Comércio e o senhor Presidente do antigo ICEP (nem me lembro como é a sigla agora), decidiram comparecer.
Bem, o Primeiro Ministro tinha encontro com Sua Exa. o Presidente da República angolano e os restantes ministros e mais gente foram para a Feira. Que diabo, sempre era o dia dedicado a Portugal! Acontece que, à volta do Pavilhão português, havia gente de muito interesse e interesses: grandes investidores, angolanos, portugueses e outros estrangeiros, Gestores dos maiores Bancos, etc.
Como é costume nestas situações, convive-se, trocam-se ideias e contactos, faz-se diplomacia. E, como de costume também, há sempre uma espécie de buffet, onde as pessoas se vão servindo do que há para comer e beber, em pé, claro.
Tudo normal, tudo como se faz em todo o lado. Só que os nossos ministros e demais acompanhantes não estiveram a conviver, nem a trocar cartões, nem a conhecer pessoas, nem a sondar negócios, nem a, simplesmente, comer, em pé, daquele buffet, juntamente com esses pessoas que poderiam ser vitais para os interesses portugueses.
Por incrível que pareça, o nosso pessoal político, segundo a minha fonte, que considero fidedigna, estiveram a almoçar, sozinhos, sentados, numa sala preparada para o efeito, onde foram devidamente servidos. E que, por acaso, permitia ver-se de fora para dentro...
Imagine-se a extraordinária lição de politesse, de cortesia, de saber-estar, de delicadeza, de diplomacia e de savoir-faire que deram os nosos políticos.
Gostaria de dizer "Não posso crer", mas infelizmente, tanto pela fonte da informação, como pelo que conheço destes encontros, sou obrigada a dizer que lamento, mas acredito. E que tal comportamento não é aceitável, pela arrogância que encerra, nem em Angola nem em lugar nenhum. É preciso respeitar a casa que se visita!
Valha-nos ao menos a entrevista do nosso Primeiro Ministro, ao Jornal de Angola, três páginas e que me parece não envergonharem ninguém.
Quando será que se cria um Centro de Formação para candidatos a Ministros? Olhem que é muito necessário...

Mensagem nº2 de hoje: Ainda vai haver mais uma de última hora e importante...

Caro 1984,
eu concordo com praticamente tudo o que diz. Aliás, vê-se que você sabe o que diz. Pelo seu pseudónimo, presumo que seja um pouco pessimista. Está no seu direito. Como eu estou no meu direito de ser uma optimista militante.
Mas o que eu queria deixar bem vincada é a minha convicção de que podemos sempre mudar algo, nem que seja pouco, para melhor. E estou convencida de que essa força que muda, que quebra resistências e constrangimentos que querem manter tudo de acordo com o paradigma milenar, (mesmo quando já se provou que ele está não funcional) vem, normalmente de uma certa ingenuidade, de um certo lirismo que guardamos ou da infância ou de tempos imemoriais mais puros, em que vivemos e já esquecemos.
Sou crente, sou católica praticante, bastante ecuménica para o gosto de certos sacerdotes, mas essa Fé que tenho também me ajuda a acreditar que não precisamos de duvidar de tudo, de descrer de tudo. E, especialmente, ajuda-me quando me lembra que há algo de divino em mim. Pois fui feita à imagem e semelhança de Deus. Por isso fico cega de ira (pecado mortal) quando vejo cobardes a atacar opiniões anonimamente, como estiveram a fazer no Existente Instante.
Gosto muito do Clube dos Poetas Mortos, mas, de facto, há outros de que gosto mais. E gostei muito de ir ver o link que tão simpaticamente me recomendou. Espero, sinceramente, que as nossas diferenças não sejam inconciliáveis...

Hoje, acordei assim


Hoje, acordei assim: a apetecer-me Carlos Drummond de Andrade. Gostei tanto de reler os sinais que os partilho para quem se esqueceu ou tem medo de esquecer...




Quando encontrar alguém e esse alguém

fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,

preste atenção: pode ser a pessoa

mais importante da sua vida.


Se os olhares se cruzarem e, neste momento,

houver o mesmo brilho intenso entre eles,

fique alerta: pode ser a pessoa que você está

esperando desde o dia em que nasceu.


Se o toque dos lábios for intenso,

se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem

d'água neste momento, perceba:

existe algo mágico entre vocês.


Se o primeiro e o último pensamento do seu dia

for essa pessoa, se a vontade de ficar

juntos chegar a apertar o coração, agradeça:

Algo do céu te mandou

um presente divino : O AMOR.


Se um dia tiverem que pedir perdão um

ao outro por algum motivo e, em troca,

receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos

e os gestos valerem mais que mil palavras,

entregue-se: vocês foram feitos um para o outro.


Se por algum motivo você estiver triste,

se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa

sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas

e enxugá-las com ternura, que

coisa maravilhosa: você poderá contar

com ela em qualquer momento de sua vida.


Se você conseguir, em pensamento, sentir

o cheiro da pessoa como

se ela estivesse ali do seu lado...


Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,

mesmo ela estando de pijamas velhos,

chinelos de dedo e cabelos emaranhados...


Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,

ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...


Se você não consegue imaginar,

de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...


Se você tiver a certeza que vai ver a outra

envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção

que vai continuar sendo louco por ela...


Se você preferir fechar os olhos, antes de ver

a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.


Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes

na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.


Às vezes encontram e, por não prestarem atenção

nesses sinais, deixam o amor passar,

sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.


É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.

Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem

cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!
(Vou estar muito atenta...)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Não sei se isto é bloguisticamente correcto, mas...

O caso é este: um Amigo deixou-me um comentário relativamente ao poste "E que tal uma controversiazinha?" e eu discordei . Ao responder, veio-me ao pensamento que seria um assunto para um poste. Portanto, deixei lá a resposta, mas vou postá-la aqui também. Cá vai:


Caríssimo G,
dou-te razão em tudo o que dizes, agradeço os conselhos e as sugestões, mas... "a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho" teria de ser assumida como uma mudança como as outras e teriam de ser encontradas as soluções adequadas. Julgo que concordarás comigo que às mulheres não foi imposta, de nascença, a obrigação de serem as guardiãs únicas da família e da educação dos filhos.
O que tem acontecido, na minha opinião sentida na pele, é que as mulheres entraram para mais um mercado de trabalho (porque ser dona de casa e mãe e esposa já e TRABALHO!) quando os homens não estavam lá para o fazerem. Provaram do fruto proibido e gostaram. E têm preferido sacrificar-se e acumular dois empregos (ser Mãe, Esposa - detesto esta palavra - governanta, gestora doméstica e ainda ter uma profissão) a entrar em lutas abertas por uma verdadeira igualdade.
Porque as lutas das feministas não ajudam nada as mulheres. Eu não quero ser Homem. Mas quero não ser obrigada, só por ser Mulher, a ter mais trabalho e obrigações. E é isso que se vê, mas felizmente a diminuir. Sendo que a culpa da actuação dos homens é muitas vezes das suas mães...
Mais outro "contudo": o problema agora é que, apesar de vivermos cada vez mais tempo, muitas mães e pais julgam que ele, o tempo, é pouco para "gozar a vida". E demitem-se de serem Pais e Mães. Raramente, se é que é possível, se podem meter dois proveitos no mesmo saco... Deixam a tarefa à TV, às playstations e à Escola. Ora a Família pode tomar muitas formas e até acredito que não são os divórcios necessários que causam mais traumas ou problemas aos filhos. Chamo "divórcios necessários" àqueles que são impossíveis de resolver de outra maneira, porque a vida em comum se tornou uma guerra contínua. Porque também acredito que a maior parte dos divórcios é fruto do egoísmo. Ninguém cede um milímetro...
Um casamento é um investimento e qualquer pessoa se preocupa com os investimentos que faz, esquecendo-se muitas vezes de que, ao investir no casamento, está a investir no Futuro: será mais feliz, trabalhará melhor, será menos doente, terá filhos mais felizes e educados, encarará o envelhecimento com mais coragem e disponibilidade de espírito. E depois estas coisas multiplicam-se pelo efeito "bater de asas da borboleta".
Olha, decidi neste preciso momento que vou vou postar esta resposta ao teu comentário. Técnica de marketing... Só lhe acrescentei uns pinguitos...

terça-feira, 15 de julho de 2008

No País dos Senhores "Olhe"

Toda a gente sabe como os nomes próprios, que durante séculos se mantiveram numa grande monotonia, mudaram nas últimas décadas. De tal maneira que voltou a ser chique chamar-se Maria. Simplesmente. Evidentemente que a falta de imaginação que se fazia sentir, em que os filhos recebiam o nome do pai ou do avô, foi amplamente superada pela oferta das telenovelas, campo fértil onde germinam Vanessas, Marlenes, Carinas e Vânias. Os rapazes têm sofrido menos e aí, além dos Brunos, Diogos e Tiagos, que crescem como cogumelos, penso que os inspiradores serão mais os cantores que as mães preferiam. Não é impunemente que se tem 20 anos porque é muito natural que, por isso, um mancebo se chame Marco.
Bem, e onde é que nós queremos chegar? Eu, pelo menos, quero demonstrar que há um nome que nunca vi registado em nenhum índice onomástico, que tanto serve para pessoas do sexo masculino como feminino e que se mantém com todo o vigor. É "Olhe". Por exemplo, a maior parte das sogras que conheço, podem ter escrito no BI que se chamam Mafalda ou Maria da Conceição, mas é quase certo que o genro ou a nora a tratem, carinhosamente, por "Olhe". Deve ser um petit nom.
Mas não é só na família. Quando se vai na rua e se está atrapalhado porque não sabemos como havemos de ir dar a um determinado sítio, é muito fácil resolver o problema - olhamos para o primeiro paisano ou paisana que esteja por perto e salta a pergunta: "Olhe, como é que se vai para a Escola Ramalho Ortigão?"
Vou contar-vos como é que costumo responder. Se são muito jovens, como duas garotas que há tempos me fizeram esta pergunta ao pé da Igreja da Antas, respondo assim: "Bom dia, minhas meninas. Ora vamos lá começar tudo do princípio. Vocês vão para aquele passeio de onde vinham, olham para um lado e para o outro, atravessam se não houver carros à vista e dizem-me:
- "Bom dia. Fazia o favor de nos dizer como é que, daqui, se vai ter à Escola Ramalho Ortigão?"
E continuo: "Vamos lá representar isto, como se fosse no teatro. Toca a ensaiar. Vão para o lado de lá e façam o que eu disse".
Não sei o que elas pensaram, mas medo não tiveram, porque tenho um ar muito inofensivo e cara de avó. Lá voltaram atrás, fizeram tudo como lhes tinha ensinado e chegou a hora de eu corresponder à delicadeza da pergunta:
- " Bom dia, minhas lindas. Mas que meninas tão bem educadas! Olhem, estou com um bocadinho de pressa, mas logo que foram tão delicadas a perguntar, vou acompanhar-vos até ali abaixo para vos explicar melhor, está bem?"
- "Muito obrigada", disseram em uníssono.

Perguntei-lhes como é que se chamavam, por que iam à Escola (afinal era só um ponto de referência, porque se iam encontrar com umas amigas ali perto), disse-lhes o meu nome e, em ar de brincadeira, ainda lhes disse que nunca se esquecessem de que Portugal era o país do "Se faz favor" e do "Obrigado(a)" e que não era simpático chamar a atenção das pessoas pelo nome de "Olhe". Riram-se, disseram que nunca tinham pensado no assunto mas, de facto, era verdade e, no fim deste encontro de uns 10 minutos, se tanto, pagaram-me da melhor maneira a que eu poderia aspirar: "A senhora é professora, não é?"
Ah, já me esquecia de dizer que nós chamamos aos outros "Olhe" e há muitos "Olhes" que, quando comunicam connosco pela escrita, dizem que o seu nome é "Anónimo". Estranho, não é?

E que tal uma controversiazinha?

Muitos de entre aqueles que enchem a minha Caixinha de Afectos têm lido, sorrido, comentado, Rubem Alves. Um senhor por quem fiquei de amores desde que o conheci... Ora ontem à noite, ao correr de uma pequena pesquisa na net aparece-me um texto a comentar "Gaiolas e asas". Lembram-se? As Escolas devem dar asas e não aprisionar. Ora, apear do meu Amor sem remédio, não contesto que Rubem Alves se permite hoje dizer muitas coisas com que só sonhou. E faz ele muito bem! Mas também não nos faz mal nenhum ler e confrontar opiniões. Por isso, aqui deixo o tal comentário, já com quase 7 anos:

Das crianças e dos pássaros
José Nivaldo Cordeiro, 5 de dezembro de 2001

Há algo em comum entre as crianças e os pássaros, mais precisamente entre crianças em idade escolar e os pássaros aprendendo a voar? Parece haver um paralelo bem cruel: as crianças que não conseguem aprender algo para a vida, hoje em dia confundido esse algo com o escolaridade formal, fracassam e podem morrer, assim como os pássaros, ao fazerem seu primeiro vôo, fazem a sua prova de fogo, a diferença entre sobreviver e morrer jovem. Quem, como eu, costuma ver os programas do Canal Discovery, que mostra a vida selvagem, e também ler revistas de divulgação científica sobre o assunto, sabe que a taxa de mortalidade de jovens pássaros é elevada nesse instante capital da sua existência.
Há ainda uma metáfora implícita na comparação: a aquisição de conhecimento como a aquisição de asas para os grandes e pequenos vôos da existência. De fato, aqueles que não têm a luz do saber estão condenados à uma vida rasteira, terrestre, não apenas do ponto de vista material, mas sobretudo do ponto de vista espiritual. É uma metáfora apropriada.
O artigo que o educador, psicanalista, escritor e professor emérito da Unicamp, Rubem Alves, publicou hoje na página três da Folha de São Paulo usa a metáfora de modo absolutamente inapropriado e diria mesmo equivocado. O título do artigo é "Gaiolas e asas". O tema me atraiu a atenção, pois creio que um dos problemas centrais dos tempos modernos está ligado precisamente à formação da juventude, pois os núcleos tradicionais de formação, especialmente na sua parte moral - a família e as igrejas - estão perdendo espaço para concorrentes que não podem substituí-los, basicamente os meios de comunicação - com destaque para a televisão - e as escolas. Às famílias caberia sobretudo encarregar-se da solidez moral da criança e do adolescente, mas a instabilidade muito freqüente do núcleo familiar, e a ausência prolongada dos pais a trabalhar, têm deixado as crianças aos cuidados das comunicações eletrônicas e das escolas. As crianças ficam, por assim dizer, órfãs de seus principais educadores.
Ruben Alves diz que lhe ocorreu um aforismo: "Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas". Até aí, um dito espirituoso que, visto mais de perto, não significa muita coisa. Diz mais: "Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças... E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, como dar programas, fazer... avaliações. Ouvindo os seus relatos, vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra - e as domadoras com os seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a forças dos tigres".
O que o educador, psicanalista e professor quis nos dizer com isso? Que os pobres passarinhos, por culpa da burocracia, que exige a aplicação de programas e critérios de avaliação de desempenhos, por fazer isso, são transformados em tigre ferozes e indomáveis.
Ele está completamente equivocado. E não é apenas na periferia que vemos esse tipo de fenômeno. Eu mesmo tinha filhos em escola privada de renome, situada da Vila Nova Conceição, em São Paulo, na qual o mesmo fenômeno ocorria. Os relatos que ouvia eram de horror, de atos cometidos pelos herdeiros das mais finas famílias da cidade de São Paulo. Então investiguei o problema e concluí que a origem do mesmo estava no uso de métodos pedagógicos errados, licenciosos, que premiam a desobediência e a falta de educação dos alunos, que reduzem a autoridade dos mestre a nada, que adulam adolescente em fase de formação como se eles soubessem já de alguma coisa. Coloquei os meus garotos em escola mais rigorosa - nominalmente o Colégio Bandeirantes, em São Paulo, e o problema acabou, pois ali se exige disciplina e desempenho acadêmico e aqueles que não estão interessados em estudar são convidados a procurar outra instituição de ensino. Resolvi o problema dos meus filhos, mas não o da educação em geral, obviamente. Mas ficou a experiência.
Então posso dizer que o raciocínio do ilustre educador contem dois erros em sua gênese: a de que o problema está nas escolas da periferia da cidade e que os culpados pelos pássaros serem transformados em tigres sejam as exigências formais de programa e avaliação. Penso que é o contrário: onde essas exigência foram atenuadas e abolidas a desordem foi instalada e o respeito devido pelos alunos aos mestres desapareceu, levando com ele o sentimento de hierarquia entre alunado e o professor, essencial para que haja ordem na sala de aulas. O respeito devido ao mestre é na verdade o respeito ao Saber.
Aí o ilustre professor incorre em um terceiro erro, ao fazer a seguinte afirmação: "Violento, o pássaro que luta contra o arame da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?"
Obviamente que ele não percebeu a inversão da própria afirmação inicial: que os adolescentes são violentos como tigres. Agora as escolas é que são violentas porque supostamente prendem os aluno? Está correto isso? É claro que não, a começar pelo fato de que ninguém, se não quiser, precisa ir à escola, por mais que o Estado e suas leis e mesmo os pais digam o contrário. Inúmeros jovens simplesmente não vão à escola porque se recusam a ir e ninguém tem o poder de demovê-los. Os que vão é porque querem. Então, por princípio, a escola não aprisiona ninguém. Não obstante, o comportamento desses jovens torna-se, na sala de aula, selvagem. E por que? O ilustre professor não responde, mas continua a sua argumentação sofística:
"Mas eu pergunto: nossas escolas estão dando uma boa educação? O que é uma boa educação?" E tenta responder: "O que os burocratas pressupõem sem pensar é que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E, para testar a qualidade da educação, criam mecanismos, provas e avaliações, acrescidos de novos exames elaborados pelo Ministério da Educação... Mas será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação?"
Ora, o nosso psicanalista não percebeu que entrou aqui com uma pergunta que ficou sem resposta e respondeu a uma pergunta que não foi formulada, ficando escondido o lapso de raciocínio. Comportamentos civilizados na sala de aulas (ou a sua falta) nada têm a ver com conteúdo programático de coisa nenhuma e muito menos ainda com critérios de avaliação. Têm a ver com a formação moral dada (ou deixada de dar) pelo país, pelas igrejas, pelos meios de comunicação, pelas escolas, pela postura reta (ou pusilânime) dos mestres, pelos instrumentos pedagógicos utilizados. Um coisa é o que se dá como conteúdo - e é de se esperar uma harmonia do conteúdo programático das disciplinas pelo País afora - legítimo papel a ser desempenhado pelo Estado. Outra coisa é a educação essencial que prepara o jovem para o ato de aprender - os bons modos. Uma coisa é o que deve ser (ou não) dado, outra a predisposição dos jovens para receber o que se lhes oferece.
Na verdade, o nosso professor emérito deixa de reconhecer que a nossa sociedade tem crescentemente desvalorizado os mais velhos e valorizado os mais jovens, os filhos valem mais que os pais (há algo mais emblemático do que a Bolsa-escola, que remunera o moleque e não o pai, que é responsável e frequentemtemente não encontra os meios para exercer a responsabilidade como desejaria? Por que não Bolsa-pai ou Bolsa-mãe, que manteria a hierarquia geracional e a dignidade dos progenitores? Dá para imaginar alguns bolsistas a dizerem: "se tentar me enquadrar, não vou à escola e aí então não tem bolsa", numa completa inversão de valores). Que o problema está na quebra da hierarquia entre os que sabem e os que não sabem. Que essa revolução cultural é o princípio de toda a confusão escolar, a começar pela falta de disciplina que descamba para comportamentos grupais violentos e incontroláveis. A burocracia e o Estado não têm culpa nisso; as crenças pseudopedagógicas, sim, pois estão na raiz da quebra da necessária hierarquia.
Depois, para fechar com chave de ouro o artigo, cita Nietzsche, afirmando que "O sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está a vida". Será? A vida na verdade é a síntese entre corpo e alma e o corpo morto é ainda um corpo, logo a proposição dele - e a de Nietzsche, e aqui me refiro explicitamente ao Zaratustra, no discurso "Dos Desprezadores do Corpo" - está errada. Nietzsche tem uma exposição confusa das suas idéias, que podem apoiar muitas outras idéias confusas, mas a sua obra, vista em conjunto, tem um sentido e pode ser interpretada e compreendida para além das confusões das partes isoladas. E se há alguém que experimentou com toda a intensidade as experiência da alma, foi Nietzsche, cujo corpo foi um exemplo acabado de fraqueza. Mas isso já é uma outra história, a merecer ela própria um artigo.
O que o ilustre educador quer afirmar é que a inteligência é ferramenta e brinquedo do corpo. Ora, isso não é possível. Nós não somos robôs, como no AI do Spillberg. Aliás, os robôs desse roteiro do Kubrick adquirem alma e seus corpos não são mais senhores de nada, o que vale é o coração (metafórico, claro, significando o Amor) e a compreensão, em resumo, a alma. Ela, sim, é o sujeito, o que nos torna semelhantes a Deus, o que nos dá o discernimento, o livre arbítrio, a capacidade para compreensão, única na criação, a tornar-nos, a nós próprios, criadores. O corpo, a matéria em si, nada é.
"Brinquedos que me permitam voar pelo caminhos da alma", afirma o meritório mestre. Alma ou corpo? Ficou a dúvida, pelo menos a minha. "Assim, todo professor, ao ensinar, teria que se perguntar: 'Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo'. Se não for, é melhor deixar de lado".
O erro do ilustre Rubem Alves é achar que ensinar (e aprender) é uma brincadeira de crianças. Não é. É o que de mais sério se pode fazer durante toda a vida. E refletir sobre essa dualidade ensino/aprendizado é tarefa para filósofos e o ensinar mesmo exige do mestre uma postura de filósofo. É preciso restabelecer a ética essencial e a hierárquica que deve existir entre mestres e discípulos - alunos e professores - mas essa ética tem que ser desenvolvida como uma crença geral, que começa em casa - os pais são os primeiros mestres - e acaba nas escolas. Infelizmente, o que vemos é a repetição, à exaustão, do bordão da musiquinha ordinária que diz em seu refrão: "Não confie em ninguém com mais de trinta anos". Assim não há hierarquia que resista e, muito menos, sistema educacional eficiente para a vida. Nossos tenros passarinhos terão muita, mas muita dificuldade, para sair do ninho em direção a uma existência mais alta. Infelizmente.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Como não ter saudades?


Quando me perguntam por que me sinto tão bem em Angola e Moçambique, tenho sempre de ter cuidado a responder, a encontrar uma resposta diplomática. Como este espaço é mais restrito relativamente às pessoas que não me compreenderiam se lhes desse a resposta verdadeira, vou fazê-lo aqui e agora. Agora, porque, finalmente, assentei arraiais: já fui ao cabeleireiro, comprei três mudas de roupa, parte dos livros que queria, já visitei a minha Mãe e já acabaram as visitas ao meu pé...
Dito assim parece ingratidão, mas não é. Vieram pressurosamente visitar-me pessoas que nunca se tinham interessado senão por dizer "que aqui também há muito que fazer". E vieram para saber como é que me tinham operado num lugar como Angola, como se eu tivesse vindo de fazer companhia ao Dr. Livingstone...
E agora, que é hora de agradecer do fundo do coração o carinho de que me vi rodeada em Luanda, vou dizer-vos por que já estou com saudades. Olhem para esta foto: foi tirada 4 dias antes de eu regressar. Um grupo com quem estive a trabalhar sobre "Humanização dos cuidados e procedimentos clínicos". Eu, ali no meio, rodeada por canadianas humanas, com um ar um pouco assustado, apesar do amparo. E vejam aqueles rostos sorridentes que vieram no seu tempo livre, ao sábado, cheios de boa vontade para aprender (e partilhar o que sabem). Só quem vive em Luanda saberá dar valor quando realço que é a um sábado: quase o único dia para fazer compras, para estar com a família, para tratar das coisas domésticas.
Verifiquem se vêem alguém com um ar aborrecido e fiquem a saber que, deste grupo, apenas uma pessoa não anda a estudar à noite, com um enorme sacrifício, que se torna ainda maior quando o comparamos com o dos nossos alunos dos cursos nocturnos.
Em Portugal, sou uma anciã (se tiver que ser notícia de jornal, será assim que aparecerei em título...). Em Angola sou "uma mais velha", a quem se deve Amor e respeito.
Em Portugal, se eu quiser fazer aquilo de que gosto, mesmo de graça, estou a roubar o lugar a outro que quer trabalhar (sei do que falo). Angola tem milhões de pessoas ávidas de aprender, com uma elevada auto-estima, cheios de confiança no futuro, embora saibam que o caminho será longo e difícil e que me recebem de braços abertos, vá eu para onde for, em Malanje ou em Viana, no Mussulo ou em Kibaxi.
Em África, posso ser útil em tanta coisa que me sinto mais nova, venho cada vez mais cheia de energia e, principalmente, sinto-me apreciada como pessoa, seja o que for que faça: desde ensinar a fazer contas com pedrinhas, a fazer uma sopa com beldroegas e pouco mais, a ajudar uma Mãe em qualquer parte que não sabe que fazer para aliviar as dores de barriga do seu bebé. Ou ainda, a trabalhar com gente que lida com doentes e quer aprender a trabalhar de uma forma mais humanizada. Ou a "pôr umas vírgulas no sítio..."
A maior parte das vezes, o que faço é apenas "trazer para fora" o humano que há em nós. E depois "humanizá-lo" no sentido de o integrar na nossa vida, pessoal e de trabalho, de forma tão presente como dizer "Bom dia!"
Imaginem gente que viveu uma guerra longa, que teve de lutar em todos os sentidos possíveis para sobreviver. Encontrar nestas pessoas humanidade e solidariedade, depois do que passaram é já, por si, quase um milagre. Mas encontrar pessoas que estão dispostas a procurar em si e fora de si modos de cuidarem dos outros mais humanizadamente (acabei de criar o advérbio...) é mesmo um milagre.
Enquanto muitos de nós, de crise em crise, gemem mas não fazem nem deixam fazer. Antes de continuar, só um parêntesis para dizer que, apesar de tudo e sabendo que vai ser duro e difícil, ainda acredito que Portugal pode ter futuro. Mas só se nós quisermos. Todos. Porque os sacrifícios necessários terão de caber a todos.
Há muitas dificuldades em Angola? Há. Falta Escola, a Saúde também precisa de ser mais alargada, mas àquelas pessoas que me vieram visitar para "ver com os seus próprios olhos" como é que era possível eu ter sido operada em Angola eu digo: não consigo imaginar-me a ir para um bloco operatório em Portugal com mais confiança e sentido de segurança do que senti no dia 28 de Maio, quando pus o meu pé nas mãos do Dr. David Abel. E do anestesista Dr. Zacarias. E, já agora, informo que durante os cerca de 90 minutos da cirurgia, com anestesia regional (só da pélvis para baixo), estive quase sempre a contar histórias e anedotas!
Para todas as pessoas que me ajudam deixando-me ajudá-las, para todos os Angolanos que, com os pés em terra, isto é, sabendo que Angola não é um paraíso, é um país com gente, boa, má e medíocre, mesmo assim confiam e trabalham para Amanhã, para todos os que não olham à cor da pele porque isso é apenas um acidente, para os meninos todos, vai o meu obrigado representado no meu obrigado ao Alcino Paulo, à Amália, à Irondina, à Neuza, à Mirabel, e a todos os outros que, na foto, me amparam para que, entre eles, me sinta segura.
Continuem a confiar e a trabalhar. Angola será o que vocês quiserem. E eu já estou com saudades...

sábado, 12 de julho de 2008

Uma história pequenina

De cor, vou lembrar uma história que me chegou há anos às mãos, em pps, via e-mail. Só que eu ainda não sei fazer essas habilidades e então vou contar:
Era uma vez dois homens, na flor da idade, árabes, que iam fazer uma longa viagem juntos para tratar de um negócio. Cada um no seu camelo, iam conversando e, no meio de uma conversa, um deles irritou-se e deu uma bofetada ao Amigo.
O Amigo desceu do camelo, pegou num pauzinho, e escreveu na areia "Hoje, o meu melhor Amigo deu-me uma bofetada". Voltou a subir para o camelo, sem uma palavra e, tempos depois, encontraram um rio daqueles tumultuosos e efémeros que aparecem no deserto. Os dois lançaram-se à água mas o que tinha levado a bofetada começou a ser arrastado pela corrente e o Amigo salvou-o.
Sempre calado, o Amigo salvo começou a gravar numa pedra: "Hoje, o meu melhor Amigo salvou-me a vida!"
E o salvador perguntou: - Por que escreveste na areia quando te bati e estás aí a gravar na pedra que te salvei?
- Porque nós devemos escrever as ofensas na areia para que um simples golpe de vento as faça desaparecer mas gravar na pedra as coisas boas, para que perdurem para sempre.

Sem comentários mas com um desejo muito profundo: Quem me dera que eu soubesse reagir sempre assim!

Pública notícia

Lá fui aos livros. E tenho de voltar porque, com grande pena minha, nem o meu pé aguentou muitas horas sem doer um pouco (e preferi que ficasse por ali a dor, em vez de medir forças com ela) nem encontrei, na livraria onde fui, o que queria, na sua grande parte. O que não quer dizer que tenha vindo de mãos a abanar, nada disso, e comprei, em português, um livro que já me tinha deliciado a ler, em inglês: "A Primeira Aldeia Global", escrito pelo jornalista inglês Martin Page, editado pela "Casa das Letras".
Li-o no original em Luanda e deixei-o a uma Amiga. "Deixar", na nossa língua, dela e minha, quer dizer que o livro é dela e pode fazer o que quiser dele enquanto estiver na sua posse mas que quando eu o quiser reler, se ela ainda o tiver, vou buscá-lo e é meu. Recomendo-vos esta obra pela melhor das razões: faz-nos sentir bem como Portugueses. Aliás, o que o título quiser dizer é que, de facto, foram os Portugueses os criadores da primeira ideia global. Eles, nós, fomos, voltámos, levámos, trouxemos, matámos e morremos em todas as partes do mundo. E depois, se, de algum modo, nem sempre me revejo naquele português que ele vê, não posso garantir que não seja presunção da minha parte. Quero abrir-vos a curiosidade dizendo que a obra começa com Jonas, o da baleia, e manda a verdade dizer que, ao chegar, perguntei ao meu primogénito o que andava a ler e quando ele disse o nome em português não o reconheci logo como já lido.

Um pequeno excerto: "(Em 1582) No Japão, onde existia um comércio florescente, mercadores portugueses radicaram-se ali em tão grande quantidade que fundaram e construíram a cidade de Nagasáqui. Um dos seus mais importantes contributos foi dar a conhecer o mosquiteiro aos japoneses, que o passaram a usar com entusiasmo e efeitos comprovadamente benéficos. Criaram as primeiras fábricas de armas de fogo no Japão, para onde levaram o trabalho de fundição da Europa, as especiarias da Índia e a seda da China. Enriqueceram a língua japonesa com novos termos. Assim, por exemplo, "obrigado" tornou-se "origato" e o pão, que até então era desconhecido dos japoneses , ficou conhecido como "pan". Os portugueses introduziram o método de cozinhar peixe em tempura, continuando este a ser o fast food preferido no Japão."
A partir da página 166 à 170, um hino às criações culinárias devidas aos portugueses leva-me a sugerir que não leiam o livro quando estiverem com fome...
De outras inesperadas compras darei notícia próxima.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A excitação da excitação

Estou numa excitação tão excitada que nem encontro nenhum adjectivo apropriado. Só porque, daqui a pouco, me vêm bucar para eu ir "recauchutar" q minha biblioteca e a minha discoteca e a minha devedeteca... Ando lá por aqueles sítios, ouço as kizombas (que são sempre estórias, como os nossos fados antigos), ouço os sembas, leio o que levo (desta vez, entre obras de trabalho sobre analfabetismo funcional levei o 1808, que recomendo - fiquei com outro respeito por D. João VI), mas quando aqui chego é praticamente o meu primeiro mimo depois do cabeleireiro. Vou de lista e tudo! Mas perco sempre a cabeça!
Bem, mas a questão é esta: de onde me virá este Amor, esta Paixão, pelos livros, pela leitura? Creio que sei a resposta e vou dá-la, a mim e a quem ler esta conversa e a transforme de monólogo em diálogo: creio que veio daquela pobreza em que me criei e em que se compravam livros para usar como papel de embrulho. Foi aí, graças a Deus! Que escreve direito por linhas tortas. Àquela pergunta sacramental há uns anos atrás "Quem levaria para uma ilha deserta?", a minha resposta (mãe e esposa desnaturada!) seria sempre:"uma biblioteca!"
Lembrei-me de falar deste assunto não apenas pela excitação, já tão costumeira que nem me deveria admirar, mas para lembrar que as oportunidades estão em toda a parte. Que o nosso caminho, o de cada um, está cheio de sinais. Que devemos viver um pouco mais devagar para ver, para cheirar, para apalpar a Vida. Por favor, os mais jovens, não façam como eu, que trabalhei demais até aos 60 anos. De tal maneira, que às vezes me pergunto, honestamente, em consciência, se fazer voluntariado é gosto por ajudar ou se é vício que me ficou de trabalhar!
Hoje, doseio mais o que faço (e este pezinho direito vai ser um grande travão, agora que, de repente, descobri que não tenho nem 30 nem 40 anos...), mas sei que não posso parar. Só que faço aquilo que me dá prazer, falo com as pessoas de quem gosto e sou tão livre que estou em
condições de poder recusar um convite para jantar sem ofender o anfitrião.
E agora vou a correr para as livrarias, que já me chegou um motorista!