sexta-feira, 13 de junho de 2008

Resposta para os ultimos do pelotão do Raul

A Irmã Susana, a minha grande Irmã na Terra e em Cristo, que muito
me ajudou a ver Deus como O vejo hoje! Eu estou lá ao fundo, de lenço na
cabeça...

Estas foram as primeiras crianças, no primeiro dia, em Mumemo, Moçambique e em cima estão algumas das senhoras deficientes físicas, mas com uma coragem espantosa, que tiraram um curso de informática. Aprende-se para se ensinar e ensina-se a aprender...

Mas agora vamos voltar aos meninos do Raul:


Há, ainda, uns tantos meninos do Raul cujas questões eu só vi ontem, dia 12. Ainda comecei a responder na altura, mas a posição em que escrevo não é a mais cómoda e deixei para hoje. Para o Pedro, a Francisca, o Nelson, a Catarina, a Inês, a Ana Arminda, um beijo e um xi-coração muito apertado. Desculpem se deixei alguém sem resposta, sim? Foi sem intenção, porque para mim são tos os meus “meninos do Professor Raul”. Uns felizardos…

Querido Pedro, não me aborreço nunca com as crianças. De qualquer cor ou tamanho. Isso quer dizer que todas elas, na sua inocência, agem da forma que me agrada? Não, quer dizer que sei que são crianças, que precisam de ser ajudadas a crescer direitas. Já reparaste que há árvores que, quando são pequeninas, têm que ser atadas a um pau forte? Pois é para elas crescerem fortes e direitas. Assim se deve fazer com as crianças. Se, de facto, gostamos delas, temos de as ajudar a crescer bem. As crianças são o Futuro e todos os adultos têm o dever de as proteger de todo o Mal. E, às vezes, o Mal é deixá-las sem regras, a crescer de qualquer maneira.

Nunca me arrependi do que fiz ou faço em Angola, Francisca. Gostaria, apenas, de ser capaz de fazer cada vez mais e melhor. Mas já me arrependi de não me ter indignado com mais força quando vi cometer injustiças, roubos, contra os mais fracos. Imagina que te pediam para vires a Angola para ajudar meninos a aprenderem a ser meninos, a conviver. Não tens nada senão o teu coração, 50 lápis que conseguiste que te oferecessem, dois apara-lápis, alguns papéis, um livro. Vens, vais para um local onde não tens água, não tens electricidade, dormes no chão em cima de uma esteira, tomas banho à noite, com a chuva maravilhosa que cai do céu, comes o que os meninos comem e depois descobres que as pessoas que te pediram para vir têm dinheiro para comprar os cadernos, as canetas, os quadros, os livros e até para comprar comida. Não ficarias zangada? Pois eu acho que me deveria ter zangado ainda mais!

Nelson, meu Lindo, já expliquei que nós devemos saber poupar-nos. Moçambique é onde está o meu coração, e eu lá sinto mais todas aquelas dores. E depois fico doente. Uma pessoa doente a fazer voluntariado só complica. E lá gostam de me chamar “Mãe Descomplica”. A minha frase-lema, quando chegam ao pé de mim e dizem “Mãe, tenho um problema” eu respondo logo “Não tem problema, tem solução”. Aliás, os problemas só existem para nos obrigarem a procurar as soluções...

Queridas Catarina e Inês, volto a Portugal daqui a quatro semanas. Posso visitar-vos, se quiserem, no princípio do novo ano lectivo. E vou contar-vos histórias de Moçambique e de Angola. Verdadeiras e também daquelas que começam por “era uma vez…”. Combinado?

Arminda, meu Bem, mal de mim se tivesse que escolher! Mas Portugal é a minha terra,mesmo com os seus problemas todos. Não há razão para eu pôr assim a faca ao peito… Mas, sabes uma coisa? Os meus ossos iriam agradecer se eu escolhesse Angola. Porque este calorzinho é muito bom para eles.
Meus Amores, um beijinho grande para todos da Avó Pirueta