sexta-feira, 30 de maio de 2008

Quando não há pão, come-se boroa...

O mar visto da minha mesa de trabalho...


Este ditado, como muitos outros, está ultrapassado, porque hoje a boroa é mais cara do que o pão. Não vou agora esmiuçar as razões, fica para outra altura, mas vou, ainda assim, explicar o título.
Estou para aqui sentada, numa sala virada para o mar, que nem a 30 metros está, vejo os grandes navios de carga pacientemente à espera de poderem entrar e descarregar e mudei de trabalho. Isto é, como não posso ter pão, isto é, fazer um trabalho mais próximo, digamos, de quem mais precisa informação e conhecimento, estou a preparar uma espécie de Seminário para médicos, enfermeiros e técnicos hospitalares sobre a Humanização dos cuidados. Neste caso, será a boroa…
É claro que enquanto preparei o trabalho para apresentar e treinar auxiliares de saúde, tinha, forçosamente, de pesquisar informação aprofundada que me escorasse o trabalho. Ainda bem que o fiz, pois agora estou na posse de material suficiente para esse Seminário de quatro dias, de que fará parte integrante o visionamento do filme “Patch Adams”. Já tinha o trabalho bem adiantado, porque sei que há gente grande suficientemente humilde para ouvir e reflectir sobre aspectos do dia a dia que, por terem entrado na rotina, começam a perder significado. E assim aconteceu. É por estas e outras que sou uma advogada tão entusiasta do namoro após o casamento, de umas flores para alimentar a alma… Porque a rotina, a monotonia, tudo consomem sem chama nem alegria.
Para os auxiliares, subordinei tudo o que apresentei a esta questão: “E se fosse eu?”. A partir daí, de os obrigar a calçar os sapatos do doente, tudo se torna mais fácil. Fácil demonstrar que o sorriso, o tratar pelo nome, a paciência, a aceitação, o acolhimento, o respeito, tudo ajuda o doente, porque é muito diferente ser o “n.º 23 Enfermaria Homens” ou o Sr. Faustino Kalamba. Que uma mão sobre outra mão baixa a febre e diminui a dor. Porque a dor se pode curar com analgésicos mas o sofrimento precisa de ser reconhecido como único da Pessoa.
Daí achar por bem terminar com estas duas citações:
Não há riqueza maior que a saúde do corpo, nem contentamento maior que a alegria do coração. É melhor a morte do que uma vida amarga e o descanso eterno, mais que uma doença prolongada.
(Eclesiastes 30, 16-17)

Os corpos não sofrem; as pessoas sofrem. (Eric Casad)


Pois a posição não é muito confortável para escrever, mas se não pudesse escrever ainda seria pior. Além disso, a paisagem é linda e calmante. Portanto, Deo gratias.

4 comentários:

Raul Martins disse...

namoro após o casamento,
...flores para alimentar a alma...
O meu voto!

Intervalo da aula de mestrado. Espreitei pela janela da sala mas não vejo o mar, ainda que bem perto, mas cheira a maresia e ouve-se o cantar das gaivotas... e sinto inveja dessa paisagem... e quando não há pão, come-se boroa... paciência... fico-me com o cheiro a meresia e o cantar das gaivotas...
Um boa fim de semana. Saudações tribais!

Fátima André disse...

Que delícia de testemunho.
É verdade, mesmo não estando bem, haverá momentos bem piores que não desejamos, por isso, dêmos Graças a Deus pelo que temos. Se bem que, se começarmos por agradecer o dom da Vida, já temos muito que fazer.
Beijinho e votos de rápidas melhoras.
:)

Anabela Magalhães disse...

Também não vejo o mar... mas vejo o meu rio, o Tâmega, sempre presente.
Boa pergunta. E se fosse eu? Eu faço-a constantemente tentando por-me na pele do outro.

Anabela Magalhães disse...

^ e aqui mando o chapéu... :)